Britpop | Pulp: A beleza das oportunidades perdidas

Quando eu tinha 20 e poucos anos, esperava que todos os meus amigos conseguissem. Por trás desse nobre desejo, havia um pensamento nada altruísta: "Se eles conseguem, eu também consigo."

Claro que a vida não funciona assim. Nós nos apaixonamos pelas pessoas erradas e tomamos decisões idiotas que nos levam direto a um beco sem saída. Nem todo mundo se recupera depois. Então, por volta dos 40 e poucos anos, chegamos ao fundo do poço. Você pode chamar isso de "crise da meia-idade", mas na verdade é apenas a sensação de "Eu imaginei que minha vida seria diferente".

Jarvis Cocker não tem nada a temer nesse aspecto. Ele sempre se sentiu desiludido. Sua vida tem sido uma crise desde o início. Sua mãe alemã o obrigou a usar calças de couro bávaras quando criança – e isso na cidade industrial inglesa de Sheffield. Agora que sei disso, ninguém mais precisa me dizer que ele teve uma infância difícil.

E as coisas não melhoraram depois disso. Ainda adolescente, fundou a banda Pulp em 1978. Seguiram-se dezesseis anos de insignificância. Só em 1994, durante o hype do Britpop, é que finalmente alcançou o sucesso. Psicologicamente falando, era tarde demais – ele nunca esteve destinado a se tornar um playboy. Em vez disso, Jarvis Cocker usou sua fama para extravasar toda a dor acumulada ao longo das décadas em "Different Class" (1995) e "This Is Hardcore" (1998). Depois disso, ele parecia estar se saindo melhor. "We Love Life" (2001), o último álbum do Pulp até então, era absolutamente idílico. Cocker parecia estar mais ou menos em paz consigo mesmo.

Os álbuns solo e de projetos subsequentes confirmaram essa impressão. Jarvis Cocker fazia o que lhe dava vontade, por exemplo, regravando fielmente canções francesas. "É ótimo que vocês estejam se divertindo", nós, fãs do Pulp dos anos 90, pensamos secretamente, "mas as músicas não poderiam ser um pouco mais emocionantes?"

Nosso desejo foi atendido. "More" soa como gravações há muito perdidas da era "Different Class" (e algumas das faixas são, na verdade, baseadas em demos dos tempos idos do Pulp). Tem tudo o que tornou a banda tão especial: melodias comoventes em tom menor, uma produção tensa (contida nos versos, expansiva nos refrões) e, claro, os vocais de Jarvis Cocker, que combinam o que normalmente não se pode combinar: frieza e dor. Mesmo naquela época, ninguém sofreu com mais serenidade.

Agora, aos 61 anos, a crise o atingiu novamente. Na idade dele, às vezes você pensa em como o tempo está se esgotando – "já está quase anoitecendo e ainda não almoçamos" – e em como você poderia ter aproveitado mais a vida. "Grown ups" é uma das músicas mais amargas já escritas sobre a infância. Cocker não quer acreditar que um conhecido se mudou para perto da rodovia porque era bom para ir ao trabalho. A grande arte de suas letras sempre esteve nessas imagens. Mas seus versos alcançam seu efeito máximo através da maneira como ele canta e lamenta, ou às vezes apenas fala e respira.

Isso, claro, também se aplica a "Tina", a história de um relacionamento que só existe na mente. Um tema familiar, que já estava presente em "Disco 2000". As músicas de Jarvis Cocker são cheias de oportunidades perdidas. Assim como na vida real. Não ouvir este álbum seria outra.

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