Bryan Ferry e as vantagens do charme e da compostura


Bryan Ferry completou oitenta anos. Uma bela idade! Embora não necessariamente para um astro pop. No caso do cantor e compositor britânico, porém, o peso dos anos parece menos significativo do que para seus colegas músicos, que ou vivem para sempre de seus primeiros trabalhos ou lutam para criar um trabalho posterior.
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Bryan Ferry já deixou a juventude para trás há muito tempo – especialmente na música. Na década de 1980, ele renunciou às forças primitivas do blues, do rock e do punk, substituindo-as por canções refinadas e sons amenos. Envolto em sua compostura como uma película transparente, ele se apresenta no palco como um cavalheiro carismático, sempre limpo, amigável e controlado.
Sem excêntricoIsso, é claro, tem consequências para sua música. Bryan Ferry quase não expressa mais impulsos emocionais em suas canções moderadas; elas permanecem afirmações nas letras. A menos que os músicos que as acompanham proporcionem um êxtase simbólico com seus solos instrumentais.
As coisas costumavam ser diferentes. "Back then", em particular, refere-se aos primeiros anos do Roxy Music — a banda cofundada por Ferry em 1971. Alimentado pelo rock pesado e aquecido pela sensualidade do soul, ele ocasionalmente se retratava como um dervixe cantor em álbuns como "Roxy Music" (1972) e "Country Live" (1974). Os sons e batidas vibrantes às vezes o levavam a estados de êxtase, onde seus vocais chorosos soavam como um lamento ou uma explosão de raiva.


Mas excentricidade, no fim das contas, não era a sua praia. Isso também explica por que Bryan Ferry, o líder da banda Roxy Music, logo se desentendeu com Brian Eno, seu arquiteto de som. O tecladista queria explorar e experimentar para encontrar novos territórios sonoros; o cantor, no entanto, sentia-se cada vez mais atraído pelas zonas mais tranquilas do mainstream.
Enquanto Bryan Ferry ainda lidava com o punk emergente com o glam rock multifacetado na Roxy Music e como figura de proa dos New Romantics, ele já estava se destacando como artista solo. Seus primeiros álbuns de rock e soul, como "In Your Mind" (1977), ainda exibiam os últimos traços de raiva e rebelião.
Logo, porém, Bryan Ferry aparentemente tentava gerar uma espécie de clássico pop por meio de um controle emocional cada vez maior. Com um pop suave e uma melancolia tranquila, sua voz suspirante soava cada vez mais como um artifício. Isso também pode ter sido devido às condições de produção da década de 1980, que geralmente traziam consigo uma domesticação de sons e emoções.
Os grilhões da tecnologiaNa verdade, Bryan Ferry agora desenvolvia suas ideias musicais em estúdio. Passo a passo, faixa por faixa, ele criava uma mistura transparente de vocais, sons instrumentais e efeitos sintéticos. As faixas de estúdio soavam como cintos de segurança musicais; ou melhor, como algemas. Bryan Ferry declarou explicitamente em entrevistas que se apega a versões de estúdio ao vivo — como músicos clássicos se apegam à partitura, por assim dizer.
Ele também moldou as versões cover, que ocupavam cada vez mais uma parte significativa de seu repertório, de forma semelhante. O cantor raramente tentava impor sua própria identidade às músicas que não utilizava. Suas interpretações não eram apropriações, mas sim homenagens artísticas a ídolos e estilos nostalgicamente romantizados. E quando cantava "Don't Think Twice, It's All Right", de Bob Dylan, ou canções de shows como "These Foolish Things", ele entoava as originais mais como um fã dedicado e talentoso do que como um artista consciente de sua missão.
Anwar Hussein/Hulton/Getty


De fato, nos últimos anos, Ferry tem se orientado mais para a cultura crooner de um Frank Sinatra do que para os ídolos da cena rock. Isso se encaixa na trajetória do britânico, que nasceu em 26 de setembro de 1945, em uma família proletária, filho de um mineiro, e, com o tempo, tem se apresentado cada vez mais como um boêmio com gostos burgueses.
No palco, sua reserva amigável sempre lhe confere um ar de modéstia. Isso o torna simpático por um lado. Por outro, Bryan Ferry também é muito confiável como astro pop. Ele raramente assume riscos artísticos, mas suas performances contidas raramente falham.
O público pode se deliciar com seu ídolo, que, com seus ternos sob medida e charme sedutor, lembra um Udo Jürgens britânico. Quando canta sobre a vida noturna, como em "Don't Stop The Dance", ou sobre o amor, como em "Slave to Love" e "Love Is the Drug", ele estimula os fãs emocionalmente o suficiente para que saiam de seus shows sonhadores ou até mesmo um pouco emocionados. Mas sem suor e lágrimas.
Thierry Orban / Sygma / Getty
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