Os presidentes dos EUA e da Rússia estão falando sobre acabar com a guerra na Ucrânia.

Após sua conversa telefônica com o chefe do Kremlin, Vladimir Putin, o presidente dos EUA, Donald Trump, está tentando dar esperança de um cessar-fogo rápido. A guerra de agressão russa contra a Ucrânia é "um banho de sangue", disse Trump - "e acredito que ele (Putin) quer acabar com isso". O republicano também prometeu negociações imediatas no Vaticano sobre um cessar-fogo entre a Rússia e a Ucrânia. No entanto, Trump não forneceu detalhes - e foi mais uma vez criticado por não exercer pressão suficiente sobre Moscou em seus esforços de paz.

O presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy enfatizou que rejeita possíveis condições russas para um cessar-fogo, como a retirada das tropas ucranianas dos territórios anexados em seu próprio país. "Se a Rússia impõe como condição a retirada de nossas tropas do país, isso significa que eles não querem um cessar-fogo e o fim da guerra", disse Zelenskyy em Kiev. A função constitucional do exército ucraniano é proteger seu próprio território. “Ninguém retirará nossas tropas do nosso território.”

O Kremlin enfatizou repetidamente que, nas negociações de paz, insiste na retirada completa das tropas ucranianas das quatro regiões controladas apenas parcialmente pela Rússia: Donetsk, Luhansk, Zaporizhia e Kherson. A Ucrânia vem resistindo à invasão russa com apoio ocidental há mais de três anos. No entanto, Kiev e seus aliados europeus temem que o governo dos EUA possa interromper sua ajuda e se retirar dos esforços de paz.

Trump e Putin conversaram ao telefone por cerca de duas horas na segunda-feira. “As negociações entre a Rússia e a Ucrânia começarão imediatamente”, anunciou Trump posteriormente. Sobre os esforços para acabar com a guerra, ele disse na Casa Branca: "Acho que temos uma boa chance de fazer isso. Acho que Putin quer isso." Trump disse que não buscaria uma solução de paz se não estivesse convencido dela.

Contudo, há dúvidas sobre essa representação. Em uma ligação telefônica com chefes de Estado e de governo europeus após a conversa com Putin, eles tiveram a impressão de que o presidente dos EUA não estava preparado para forçar o chefe do Kremlin à mesa de negociações por meio de maior pressão - isso foi relatado pelo Financial Times, citando uma fonte familiarizada com a conversa. Dessa forma, Trump não previu nenhuma outra sanção contra a Rússia por enquanto. De acordo com a emissora americana CNN, ele explicou isso aos repórteres dizendo que havia uma chance de progredir nos esforços neste momento.

O 17º pacote de sanções da UE deve ser adotado em Bruxelas na terça-feira. “O pacote (de sanções) da Europa virá e será forte”, disse Zelensky. Já existem acordos e datas. Ele também espera um novo pacote de sanções se o lado russo não estiver preparado para cessar as hostilidades. Ele também espera novas sanções dos EUA — o que, segundo o Financial Times, não é esperado por enquanto.

O chanceler Friedrich Merz (CDU) escreveu no X que a Europa e os EUA queriam “acompanhar de perto a Ucrânia no caminho para um cessar-fogo”. "A Europa aumentará a pressão sobre Moscou por meio de sanções" - isso foi acordado com o presidente dos EUA após sua conversa telefônica com Putin.

Embora os estados ocidentais tenham imposto medidas coercitivas econômicas e financeiras contra a Rússia em várias etapas desde o início da guerra, o Kremlin até agora continuou a guerra sem cessar. Graças à crescente indústria de armas, a economia russa está apresentando taxas de crescimento maiores que as dos países da UE.

Putin disse após as negociações que a Rússia estava pronta para trabalhar em um memorando com a Ucrânia que incluiria um cessar-fogo. Moscou quer acabar com os conflitos, mas é preciso encontrar o caminho mais eficaz para a paz. Para conseguir isso, Kiev e Moscou teriam que fazer compromissos que fossem justos para todas as partes, disse Putin. Ele não disse como achava que esses compromissos deveriam ser em termos de conteúdo. Zelenskyy disse que agora aguarda detalhes do memorando mencionado por Putin.

De acordo com a agência de notícias russa Tass, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, enfatizou que não há um prazo para a elaboração do memorando. “Não há prazos e não pode haver nenhum”, disse ele. É claro que todos querem avançar o mais rápido possível, mas “o diabo está nos detalhes”. Peskov também disse que o local para novos contatos com Kiev não havia sido determinado, embora o Kremlin estivesse ciente da proposta do Vaticano.

Rüdiger von Fritsch, embaixador alemão na Rússia de 2014 a 2019, viu a conversa telefônica entre os dois presidentes como uma vitória para Putin. "Com base em tudo o que sabemos até agora, não podemos ver que a Rússia tenha se movimentado de alguma forma, e que, e isso me parece ainda mais importante, ela vê motivos para ter que se movimentar no futuro", disse von Fritsch no programa "Tagesthemen", da ARD.

Putin sabe que Trump está preparado para sacrificar muito para acabar com o conflito – incluindo os interesses da Ucrânia. Também é digno de nota que Trump falou “mais uma vez” sobre as futuras relações comerciais entre os EUA e a Rússia. "Ele vê os cifrões nos olhos de Trump", disse von Fritsch sobre o chefe do Kremlin, que está explorando a ganância do presidente dos EUA por lucro.

Segundo o Kremlin, durante a conversa telefônica, Putin e Trump discutiram novamente um possível encontro pessoal. "Ambos os presidentes estão interessados ​​em tal reunião. Mas ambos os presidentes também estão interessados ​​em garantir que esta reunião não seja vazia de conteúdo, mas sim voltada para resultados", disse o assessor de política externa de Putin, Yuri Ushakov, segundo a agência de notícias russa Interfax. Na semana passada, Trump disse que não esperava nenhum movimento real nas negociações com a Ucrânia antes de uma reunião pessoal com Putin.

As negociações diretas entre a Rússia e a Ucrânia ocorreram pela última vez na sexta-feira, na Turquia, pela primeira vez em três anos. Ambos os lados concordaram com uma grande troca de prisioneiros. Mas o grande avanço não teve sucesso – também porque Putin estava ausente da reunião que ele mesmo havia proposto. Não houve acordo sobre a questão do cessar-fogo.

Zelenskyy expressou sua abertura a novas negociações entre negociadores seniores dos EUA, Ucrânia, Rússia e países europeus. Tais reuniões poderiam ocorrer na Turquia ou na Suíça – ou no Vaticano.