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É legal exigir um consumo mínimo sem aviso prévio?

É legal exigir um consumo mínimo sem aviso prévio?

Isso acontece em muitas cidades ao redor do mundo, mas há bairros no centro de Barcelona que se tornaram exemplos paradigmáticos de um fenômeno que, embora não seja novo, parece ter se agravado nos últimos anos: a dificuldade de conseguir mesa em algumas esplanadas para um drinque, ou mesmo para almoçar, devido às restrições impostas por alguns donos de restaurantes. Em muitos casos, é exigido um consumo mínimo ou a solicitação de comida é obrigatória em horários que não são habituais aqui. Assim, é comum que, após as 18h30, algumas esplanadas em bairros como Gràcia, Raval ou Poble-Sec não estejam mais abertas porque estão sendo reformadas para o turno do jantar, que geralmente começa às 19h. Acontece até que, mesmo que os clientes acabem pedindo algo para beliscar a fim de garantir uma mesa, a quantidade não é suficiente, obrigando-os a consumir mais se quiserem ficar.

Aconteceu recentemente com Arantxa Marco, uma saragoça radicada em Barcelona, ​​que recentemente se sentou numa mesa na esplanada do restaurante Cadaqués, na Plaça de la Vila de Gràcia, pronta para esperar por uma amiga com quem tinha combinado de almoçar por volta das 13h30. O que lhe aconteceu não é um caso excepcional, mas sim algo comum que todos já vivenciaram em algum momento da vida em áreas com muito movimento e onde os donos de restaurantes podem, até certo ponto, escolher a clientela.

Sair de um restaurante sem pagar é crime.

A conta de um restaurante

Getty Images/iStockphoto

Arantxa decidiu tomar uma cerveja enquanto esperava pela amiga, mas "me disseram que eu não podia me sentar sem pedir algo para comer", explica. E assim o fez: perguntou o cardápio e escolheu um dos pratos principais: um poke bowl, que custa € 14,50 e consiste em atum marinado, trigo mole, abacate, chia, mix de folhas verdes, edamame e óleo de gergelim. "Achei que, como era um prato frio, aguentaria bem até a minha amiga chegar", diz ela.

É comum que depois das 18h30 algumas esplanadas em bairros como Gràcia, Raval ou Poble-Sec não possam ser ocupadas.

A resposta do garçom a surpreendeu: não era suficiente. Para poder ocupar aquela mesa, ela precisava pedir pelo menos dois pratos principais ou, na falta deles, quatro tapas. Arantxa decidiu sair do estabelecimento e verificar se tal situação era legal ou não. Para isso, contatou a Guardia Urbana (Polícia Municipal), que visitou o restaurante e confirmou que, de fato, um restaurante poderia reservar o direito de entrada, mas somente se as condições fossem comunicadas de forma clara e visível aos clientes. Como isso não ocorreu, já que essa regra não foi comunicada em nenhum lugar do estabelecimento, a cliente decidiu registrar uma reclamação, que está sendo processada.

A Agência Catalã do Consumo (Agència Catalana de Consumo) assegura que, embora atualmente não haja regulamentação específica para essas situações específicas, a regra geral do Código do Consumidor da Catalunha se aplica. "Os estabelecimentos devem fornecer informações prévias, claras e acessíveis sobre as condições, como o preço total dos produtos, eventuais limites de tempo ou consumo mínimo. Condições sem informação prévia não podem ser impostas", afirma a agência.

Conta do restaurante

A conta do restaurante já foi paga

Getty Images/iStockphoto

Quando este jornal abordou o restaurante para saber mais sobre a política de consumo mínimo, o gerente confirmou que, de fato, são obrigatórios dois pratos principais por mesa para serem servidos no terraço ou, na sua ausência, quatro tapas. "Todos os restaurantes da região fazem o mesmo", explicou, apontando para os terraços ao redor.

Para Rubén Sánchez, secretário-geral da FACUA, este caso representa uma exigência desproporcional que viola os direitos do consumidor. "Um limite mínimo razoável de consumo é compreensível, mas os donos de restaurantes não podem impor qualquer quantidade que considerem adequada. Eles não podem obrigar você a pedir dois pratos principais. É abusivo." Sem mencionar, prossegue Arantxa, o preconceito contra pessoas solteiras que esse tipo de medida acarreta. "É uma regulamentação que exclui diretamente quem quer comer sozinho: uma clara discriminação", acredita.

Para Rubén Sánchez, secretário-geral da FACUA, este caso representa uma demanda desproporcional que viola os direitos do consumidor.

O próprio Rubén Sánchez também ressalta que, mesmo que seja legal, o direito de entrada não é ilimitado. Assim, mesmo que o restaurante comunique isso em uma placa visível, nem tudo é permitido. "Não se pode colocar 'proibido negros' em uma placa, por exemplo. Ou 'proibido homossexuais'. É a mesma coisa. Não se pode estabelecer limites arbitrários ou discriminatórios, mesmo que se avise. O cliente não pode ser obrigado a consumir uma quantidade mínima que não faça sentido. Não se trata apenas de informar a todos, mas também de garantir que as condições sejam proporcionais e razoáveis."

Isso é confirmado pela Agência Catalã do Consumidor, que afirma que "as condições oferecidas não podem, em hipótese alguma, ser abusivas ou violar qualquer um dos direitos que nos são reconhecidos como consumidores". Isso significa, em suma, que existe uma zona cinzenta, um vácuo jurídico, no qual os limites do direito de admissão acabam sendo passíveis de interpretação. Para Sánchez, "a administração está sendo muito negligente na hora de estabelecer regras claras do jogo".

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Pagar em um restaurante

Getty

Os donos de restaurantes, por sua vez, também sofrem as consequências dos aluguéis exorbitantes e do aumento dos custos. Alguns recorrem a essas estratégias para garantir um retorno mínimo por cliente, dado o alto ônus financeiro de manter um estabelecimento aberto em certas áreas de Barcelona. Outros, no entanto, rejeitam tais práticas por princípio, mesmo que isso implique alguma incerteza financeira. É o caso de Àlex Guiu, do restaurante de peixes Ribera Manero, em Barcelona. "Quero que as pessoas venham, e sei que em um restaurante o faturamento oscila, mas é preciso tratar todos os clientes com igualdade. Porque talvez um dia alguém peça uma porção de camarão e no outro peça uma carne grelhada. É preciso aprender a conviver com isso", diz ele, e diz isso basicamente por um motivo: "Eu também sou consumidor".

A FACUA afirma que, se um negócio é forçado a recorrer a práticas que, em alguns casos, podem violar os direitos do consumidor, é simplesmente porque são inviáveis. Para Sánchez, só há uma maneira de evitar esse tipo de prática: "não frequentar esses estabelecimentos, rejeitar esses modelos de negócios. Se os consumidores não os aceitarem, eles desaparecerão", conclui. Já os donos de restaurantes argumentam que a forte pressão imobiliária e a intensa concorrência no setor acabam deixando pouco espaço para a rentabilidade do negócio. Um cenário complexo que, em última análise, prejudica aqueles que, como Arantxa, querem tomar uma cerveja tranquilamente depois do trabalho.

lavanguardia

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