A Guerra Civil dos Jogos: a inclusão está destruindo a indústria?

A indústria de videogames está imersa em uma profunda crise de identidade e negócios, com demissões em massa e fechamentos de estúdios. Agora, uma voz influente aponta o dedo para um culpado inesperado: as políticas de Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI).
O debate sobre Diversidade, Equidade e Inclusão (DEI) transcendeu as esferas sociais e políticas para se estabelecer no cerne de uma das maiores indústrias de entretenimento do mundo: os videogames. Enquanto alguns defendem essas políticas como um passo necessário para uma maior representatividade, outros as acusam de serem uma imposição ideológica que está comprometendo a qualidade criativa e a viabilidade econômica dos estúdios.
A polêmica atingiu o auge com as recentes e contundentes declarações de Marek Tyminski, CEO da CI Games, a editora por trás de títulos de sucesso como Lords of the Fallen. Suas declarações desencadearam uma "guerra civil" na comunidade gamer, polarizando opiniões e gerando um debate massivo sobre o futuro da indústria.
Em uma série de postagens na plataforma de mídia social X, Marek Tyminski argumentou que a indústria de videogames está passando por uma "correção de curso" após um período em que, em sua opinião, a ideologia foi priorizada em detrimento da eficiência. Tyminski afirmou diretamente que vários estúdios contrataram funcionários com base apenas em critérios de DEI (Departamento de Educação, Igualdade e Igualdade), o que, em sua opinião, teve consequências catastróficas.
De acordo com o CEO, essa estratégia comprometeu a qualidade dos produtos finais, resultando no fracasso comercial de vários títulos e, por fim, contribuindo para as demissões em massa e fechamentos de estúdios que têm assolado a indústria nos últimos anos.
"Os jogadores acordaram. Agora eles sabem que podem exigir o que é certo e escolher jogos que realmente atendam às suas expectativas", escreveu Tyminski, sugerindo que o público rejeitou jogos com conteúdo "inclusivo forçado".
Aqueles que apoiam a posição de Tyminski argumentam que o foco em DEI desviou recursos e atenção dos elementos fundamentais de um videogame: jogabilidade, narrativa e diversão. Eles argumentam que alguns estúdios, na ânsia de cumprir uma agenda social, criaram personagens e enredos que parecem artificiais e preconceituosos, alienando uma parcela significativa de sua base de jogadores.
Eles apontam exemplos como o fraco desempenho comercial de títulos que tinham um forte componente de DEI em seu marketing, argumentando que os jogadores não buscam discursos ideológicos, mas sim experiências de entretenimento imersivas e bem projetadas. As críticas se concentram na ideia de que a inclusão deve ser orgânica e servir à história, não uma exigência imposta que condiciona o processo criativo. O uso de arte gerada por IA em jogos como Call of Duty, visto por alguns como uma medida de redução de custos, também foi criticado por jogadores que lamentam uma suposta degradação da qualidade e da mão de obra humana.
Do outro lado do debate, os defensores das políticas de DEI argumentam que essas críticas são uma reação exagerada de um segmento da comunidade que resiste à mudança. Eles argumentam que uma maior diversidade nas equipes de desenvolvimento e nos personagens dos jogos não é apenas uma questão de justiça social, mas também uma decisão empresarial inteligente.
De acordo com essa perspectiva, a inclusão permite que a indústria alcance novos públicos globais que antes não eram representados. Eles argumentam que os videogames, como meio cultural de massa, têm um impacto social e podem ser uma ferramenta poderosa para a educação e a transmissão de valores positivos, como empatia e autoaperfeiçoamento.
Além disso, eles rejeitam a ideia de que diversidade está em desacordo com qualidade. Citam inúmeros jogos aclamados pela crítica e comercialmente bem-sucedidos que apresentam elencos diversos de personagens e exploram temas sociais complexos. Para eles, o problema não é a diversidade, inclusão e inclusão em si, mas a má execução, e culpar a inclusão por fracassos comerciais é uma simplificação que ignora outros fatores, como má gestão, cronogramas de desenvolvimento irrealistas ou jogabilidade ruim.
A realidade é que a comunidade gamer está profundamente dividida. Enquanto um setor aplaude as declarações de Tyminski e pede um retorno ao que consideram os "princípios fundamentais" dos jogos, outro defende a evolução da indústria rumo a um espaço mais inclusivo e representativo da sociedade atual.
Esta controvérsia não se limita a um debate sobre videogames; é um reflexo das tensões culturais mais amplas da nossa época. A questão de saber se a indústria consegue equilibrar lucratividade, liberdade criativa e responsabilidade social permanece em aberto, e a resposta provavelmente virá dos próprios jogadores, com suas carteiras e seu tempo de jogo.
La Verdad Yucatán