As questões levantadas pela Lei de Solidariedade da Internet: Ela é necessária ou existem outras opções?

Durante a recente feira de telecomunicações Andicom , foi debatida a adequação do Projeto de Lei de Solidariedade da Internet, uma proposta do Ministério das TIC que busca acabar com a exclusão digital declarando o acesso à Internet um direito fundamental.
Segundo nota pública da entidade, “a iniciativa prevê que domicílios dos estratos 5 e 6, além de grandes empresas comerciais e industriais, contribuam com mais 30% em suas contas de internet fixa , a fim de subsidiar a conectividade dos setores mais vulneráveis”.
Nas palavras do atual Ministro das TIC, Julián Molina, "o acesso à internet não deve ser um luxo, mas um pré-requisito para a inclusão social, a equidade e a plena participação na vida econômica, política, educacional e cultural. Com este projeto, garantiremos o direito fundamental de todos os colombianos de acessar internet de qualidade e, assim, reduziremos a pobreza virtual, que na Colômbia é estimada em 22%.
O artigo propõe que domicílios do estrato 1 cadastrados no Sisbén A, com acesso à energia, e estudantes ativos recebam um subsídio de até 55% na conta de internet fixa. Além disso, "o Ministério das TIC e a Comissão Reguladora das Comunicações (CRC) definirão uma tarifa especial de solidariedade, estimada em US$ 35.000 por mês, para novos usuários do estrato 1".
No entanto, especialistas do setor de telecomunicações questionam se essa é a abordagem mais eficaz, sugerindo que existem mecanismos alternativos que poderiam atingir o mesmo objetivo sem causar distorções de mercado.
Esta Lei de Solidariedade da Internet é necessária? O debate se concentra em encontrar a maneira mais eficiente de conectar milhões de colombianos que permanecem offline. Para analisar as implicações do projeto, Samuel Hoyos, presidente da Asomóvil, e Lucas Gallitto, presidente da GSMA para a América Latina , apresentaram suas perspectivas em entrevista ao EL TIEMPO durante a Andicom, concordando quanto à nobreza do objetivo, mas divergindo quanto ao método proposto pela lei.
Ambos os especialistas concordam que a eliminação da exclusão digital deve ser uma política estadual prioritária. No entanto, alertam que a implementação é fundamental e que o projeto de lei atual pode ser um passo na direção errada. Samuel Hoyos, da Asomóvil, acredita que a meta é louvável, mas a discussão deve se concentrar na eficácia das ferramentas.

O projeto de lei "Internet Solidária" estabelece uma tarifa menor para quem está no estrato 1. Foto: iStock
"Compartilhamos o mesmo objetivo. Acho que deveria ser uma política estadual acabar com a exclusão digital, mas vamos discutir como", disse Hoyos, que argumenta que, em vez de criar uma nova lei, os recursos existentes, como o Fundo Único de TIC (FUTIC), poderiam ser otimizados.
Este fundo, que é sustentado por contribuições de empresas de telecomunicações, recebe quase 2 bilhões de pesos anualmente. "O que dissemos é que existe um veículo que já foi criado, e o que precisamos é da vontade de garantir que os recursos ali sejam direcionados e alocados prioritariamente para levar conectividade às famílias mais pobres", explicou o presidente da Asomóvil, sugerindo que essa abordagem não envolveria aumento de tarifas de usuário.
Por sua vez, Lucas Gallitto, da GSMA, observou que a discussão não é sobre "bom ou ruim", mas sim sobre incentivos econômicos. Ele argumenta que as políticas públicas precisam ser adaptadas à realidade atual do ecossistema digital. Um dos pontos-chave de sua análise é o conceito de "Compartilhamento Justo".
Gallitto argumenta que grandes plataformas de conteúdo over-the-top (OTT), como Netflix, Google, Disney, Facebook, YouTube, Meta e outras, que geram a maior parte do tráfego nas redes sociais, também devem contribuir para manter e expandir a infraestrutura.

O projeto de lei "Internet Solidária" estabelece uma tarifa menor para quem está no estrato 1. Foto: iStock
"Eles não têm incentivo para usar a conectividade de forma eficiente", disse ele , usando a analogia de alguém em casa que deixa as luzes acesas porque não paga a conta de luz. De acordo com estudos citados por Gallitto, até 30% do tráfego gerado por essas plataformas não é solicitado pelo usuário, como publicidade ou streaming de vídeo com qualidade superior à que o dispositivo consegue reproduzir.
Enquanto isso, Samuel Hoyos acredita que é essencial que "outros atores do ecossistema digital que usam a infraestrutura de telecomunicações e não contribuem para seu crescimento o façam".
Segurança jurídica para as TIC Outro ponto crítico no projeto de lei é a proposta de retornar a um sistema residencial de serviços públicos para internet, um modelo que, segundo Samuel Hoyos, representa um retrocesso. "Voltar ao sistema residencial de serviços públicos, como estávamos há alguns anos, é um retrocesso. A estrutura institucional que construímos, com reguladores técnicos e independentes, funcionou", e isso nos permitiu atrair bilhões de dólares em investimentos necessários para fechar a lacuna de conectividade digital.
Gallitto, da GSMA, complementa essa ideia destacando o caso bem-sucedido do Brasil, onde os leilões de espectro de rádio foram usados não apenas para arrecadar fundos, mas também para impor "obrigações de ação", o que significa que as empresas vencedoras se comprometeram a implantar infraestrutura em áreas não conectadas como parte do pagamento.
"O Brasil destinou uma porcentagem muito alta do valor do espectro para implantar redes em áreas onde as pessoas mais necessitadas precisam de acesso à internet. Este é um modelo de colaboração público-privada que poderia ser replicado aqui", disse ele.
Por outro lado, a fórmula financeira para calcular o subsídio de internet para os mais pobres sofre de situações incontroláveis. Ao contrário do monopólio de eletricidade, água ou gás, onde os usuários não podem trocar de empresa para obter tarifas melhores, como ocorre nas telecomunicações, as contas de cobrança e, portanto, a arrecadação do subsídio não seriam únicas, mas variáveis, afetando a eficiência e o alcance da meta de fornecer acesso à internet aos mais pobres todos os meses.
Além disso, o fato de o projeto de lei contemplar apenas conexões fixas, e não móveis, é considerado outro aspecto que dificultaria sua eficiência e desestimularia o investimento em redes fixas na Colômbia.
eltiempo