Jornalistas sob assédio: Veracruz usa lei de violência de gênero para censurar veículos de comunicação críticos

XALAPA, Veracruz (Proceso).– O conceito de violência política baseada em gênero está sendo usado em Veracruz como uma ferramenta legal para sancionar e silenciar jornalistas e meios de comunicação, gerando preocupação entre organizações que defendem a liberdade de expressão, como a Artigo 19, o Comitê para a Proteção de Jornalistas (CPJ) e a Comissão Estatal para o Cuidado e Proteção de Jornalistas (CEAPP).
Nos últimos meses, pelo menos nove jornalistas foram sancionados e enfrentam medidas como multas de até 10.000 pesos, remoção de conteúdo, pedidos públicos de desculpas e inclusão no registro de indivíduos sancionados.
Sanções também foram emitidas contra outros 22 veículos de comunicação e um acadêmico que emitiram opiniões críticas sobre a decisão.
A Câmara Regional Especializada do Tribunal Eleitoral da Justiça Federal (TEPJF) emitiu a sanção mais severa, determinando que cinco jornalistas de diversos veículos de comunicação praticaram violência política de gênero contra Mara Yamileth Chama Villa, ex-candidata à presidência municipal de Teocelo, com base em conteúdo publicado a partir de 2021.
Embora algumas publicações mencionassem apenas a relação com seu pai — então prefeito de Teocelo — todas foram punidas igualmente, sem distinguir contexto ou tom.
Em maio de 2024, Chama Villa era candidata multi-membro a deputada federal pelo partido PVEM e apresentou uma denúncia alegando que, desde sua participação no processo eleitoral regular de 2020-2021 — no qual foi candidata a presidente municipal — até o último processo eleitoral federal de 2023-2024, ela sofreu violência política baseada em gênero devido à publicação de artigos em jornais.
A Câmara Regional Especializada do TEPJF entendeu que os jornalistas cometeram violência política contra a mulher ao publicarem conteúdo que reforçava estereótipos de gênero e minimizava a trajetória política da denunciante.
A decisão afirma que os artigos, colunas, blogs e um spot de rádio subordinaram sua candidatura à figura de seu pai, então prefeito de Teocelo, ofuscando seus próprios méritos. "Expressões como 'cumprir seu capricho', 'herdar o cargo' e 'a garota verde' foram identificadas, as quais o tribunal considerou formas de violência simbólica, midiática, verbal, digital, psicológica, analógica e intercalada."

Embora o caso de parentesco não tenha representado uma violação da lei em 2021, a recente reforma constitucional que proíbe o chamado "nepotismo eleitoral" deu nova relevância ao debate.
Essa reforma, aprovada pelo Congresso em abril passado, estabelece que nenhuma pessoa pode concorrer a um cargo eletivo se, nos últimos três anos, tiver tido relação de parentesco, casamento ou união estável com um funcionário em exercício.
Entretanto, quando as alegações ocorreram, tal legislação ainda não existia.
Em relação à condenação de jornalistas, um dos votos dissidentes dos juízes alertou que, para estabelecer a responsabilidade do jornalista, era necessário provar que o conteúdo antigo teve um efeito concreto na eleição de 2024.
O juiz alertou que isso impõe um ônus irracional à mídia, obrigando-a a revisar todos os seus arquivos históricos para prever se eles podem afetar futuras candidaturas, algo que ele considerou inviável e que coloca em risco a liberdade de imprensa.
A violência política contra as mulheres foi definida na legislação federal e estadual como ações ou omissões direcionadas às mulheres com base no gênero, com um impacto desproporcional que afeta, anula ou viola seus direitos políticos e eleitorais.
Rádio Teocelo, sanção inéditaSobre a sentença, o jornalista Élfego Riveros, da Rádio Teocelo, acredita que a sanção imposta ao meio de comunicação comunitário por uso de violência política representa um fato inédito em seus mais de 60 anos de existência.
A sanção se baseia em um comercial satírico de um minuto, transmitido em 2021 durante o processo eleitoral, que — segundo Riveros — critica práticas ruins como nepotismo, tráfico de influência e candidaturas herdadas.
"Exibimos esse comercial três vezes, e é daí que vem toda essa investida, que agora nos obriga a cumprir medidas corretivas: multas, pedidos públicos de desculpas e tudo o mais que é exigido por lei", explica ele.
"Estamos cumprindo isso sob protesto porque discordamos. Em última análise, isso limita nossa liberdade de expressão e o direito do nosso público à informação", diz Riveros.
Ele também explica que o veículo de comunicação recebeu pelo menos oito solicitações do Tribunal Eleitoral e do Órgão Público Eleitoral Local (OPLE), incluindo postagens em mídias sociais de pessoas solidárias.
"Estamos praticamente sem poder falar, sem poder dizer nada. Eles continuam nos punindo até pelo que os outros dizem."
Ele acredita que a sanção visa punir politicamente o veículo de comunicação por seu papel crucial na vida pública local: "É uma espécie de vingança política contra um veículo de comunicação que arrancou sua máscara. Por que uma pequena rádio os incomoda? Porque somos o único veículo que noticia quem eles são e o que fizeram enquanto estavam no poder."

Após essa decisão, o caso se intensificou. Mara Yamileth, que também concorreu à prefeitura de Teolcelo pela aliança PVEM-Morena nas últimas eleições de 1º de junho, apresentou novas denúncias de violência de gênero.
Em 6 de junho, ela denunciou violência de gênero após comentários feitos pela acadêmica Celia del Palacio, coordenadora do Observatório da Liberdade de Expressão da Universidade de Guadalajara.
Então, em 28 de junho, o Tribunal Eleitoral de Veracruz (TEV) ordenou que 22 veículos de comunicação e perfis de mídia social removessem artigos que relatavam sua intenção de concorrer à presidência local, mas o tribunal foi além: também sancionou publicações críticas, considerando injusta a decisão do TEPJF contra cinco jornalistas.
A acadêmica Celia del Palacio foi sancionada por veicular um editorial — retirado do Canal 44 por ordem do OPLE (Tribunal Nacional Eleitoral) — no qual comentava a sanção contra jornalistas pelo uso indevido do termo "violência política de gênero". Ela nunca se referiu diretamente à denunciante nem usou linguagem ofensiva.
Em entrevista ao Proceso, a acadêmica questiona o fato de nunca ter sido notificada pessoalmente da decisão: "Acho isso muito grave. Me dizem: 'Me notifiquem por ordem judicial', ou seja, tenho que reconhecer, sabe-se lá como?"
Del Palacio alerta sobre o uso excessivo da legislação promulgada para proteger as mulheres da violência política:
Esta é uma lei que foi criada para proteger as mulheres de ataques verdadeiramente misóginos. O fato de essa figura estar sendo tão explorada (...) é uma interpretação muito exagerada e muito estranha dessa lei.
O acadêmico ressalta que o caso faz parte de uma tendência nacional preocupante, em que pessoas desfavorecidas nas eleições usam essas figuras para punir vozes críticas.
Ele também alerta que o uso indevido da lei "desacredita a figura" e a enfraquece, quando ela é realmente necessária em casos graves de violência política real.
Criminalização da críticaLuis Ramírez, secretário executivo da Comissão de Jornalistas de Veracruz, também acredita que o conceito de violência política de gênero está sendo usado para inibir a crítica jornalística em processos eleitorais e pediu ao Congresso que revise o marco legal.
Ramírez confirmou que pelo menos nove jornalistas foram processados sob essa acusação. "A sentença os obriga a pagar uma multa... alguns colegas não conseguiram entrar em contato com a comissão, mas aqueles que o fizeram receberam aconselhamento jurídico e apoio até a Suprema Corte."
Do CEAPP, ele defendeu o papel da imprensa como contrapeso à democracia e questionou a permissividade com que os tribunais têm admitido denúncias sem critérios rigorosos: "Até que ponto as autoridades devem aceitar questionamentos da imprensa? Desde que não falsifiquem informações, não há problema algum. Se seu pai, sua mãe, seu tio estivessem atrás de você... é lógico que alguém perguntaria se isso não constitui uma forma de cacique."
Ramírez anunciou que buscará uma reunião com a deputada Bertha Ahued, presidente da Comissão de Cuidado e Proteção de Jornalistas do Congresso de Veracruz, para explicar a situação e propor ajustes legais.
Em Veracruz, mais de 40 jornalistas e organizações se manifestaram contra essas resoluções em uma carta aberta, descrevendo as sanções como uma medida que viola a liberdade de expressão e estabelece um precedente preocupante para o exercício do jornalismo.

"Impor sanções sem entender a dinâmica da denúncia e sem considerar a desigualdade estrutural entre quem denuncia e quem está no poder constitui um ato desproporcional", alertaram.
Por sua vez, a organização Artigo 19 manifestou preocupação com os casos e enfatizou que, em contextos eleitorais, a liberdade de expressão é um direito especialmente protegido, pois garante aos cidadãos acesso a informações relevantes sobre candidatos, vínculos familiares, origens e comportamento público.
A remoção de conteúdo viola o direito dos cidadãos de "receber qualquer informação e conhecer a expressão de pensamentos de outras pessoas".
Jan-Albert Hootsen, representante do CPJ no México, alertou que as sentenças no caso Veracruz e em outros casos no país, como a do jornalista Héctor De Mauleón, são exemplos claros de assédio judicial, com políticos abusando da lei para silenciar o jornalismo crítico, um fenômeno cada vez mais comum no México.
Enquanto os pronunciamentos continuam, Mara Yamileth Chama Villa, ex-candidata do Morena à prefeitura de Teocelo, Veracruz, apresentou uma contestação à eleição municipal realizada em 1º de junho. Em uma mensagem ao público em junho passado, ela denunciou uma campanha sistemática de violência política de gênero, ameaças e mau uso de recursos públicos durante o processo eleitoral.

A ex-candidata culpou veículos de comunicação e outros atores por terem disseminado ataques que, segundo ela, foram reconhecidos judicialmente como violência política pela Câmara Regional Especializada do TEPJF (Tribunal Judicial Eleitoral da Espanha) no processo SRE-PSC-8/2025.
Chama Villa afirmou que as condições em que a eleição ocorreu "anulam sua validade democrática e constituem um precedente perigoso".
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