Este foi o retorno de Dayro Moreno à seleção colombiana após nove anos de esquecimento.

Dayro Moreno passou muitos anos à sombra daquela que talvez seja a melhor geração de atacantes colombianos da história: liderada por "El Tigre" Radamel Falcao García, e à sua sombra estavam outros atacantes de classe como Jackson Martínez e Carlos Bacca. Atrás dele estavam Adrián Ramos, Hugo Rodallega e ele próprio.
Hoje, a 17 dias de completar 40 anos e já tendo se tornado o maior artilheiro da história da Colômbia, o excêntrico atacante do Chicoral recebe um prêmio pelo conjunto da obra e se torna uma das apostas do técnico Néstor Lorenzo para buscar a vitória necessária para garantir uma vaga na Copa do Mundo de 2026: ele espera consegui-la na quinta-feira, contra a Bolívia, em Barranquilla.
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A notícia chegou até ele em um avião que pousou em Bogotá trazendo o Once Caldas de volta de Pasto, onde venceu por 2 a 1 na quinta-feira, nas oitavas de final da Copa da Colômbia.
"Quando saímos do hotel para o aeroporto, todos me faziam perguntas, até meus companheiros de equipe. É obra de Deus, é pura coincidência: pousamos aqui em Bogotá e todos no avião aplaudiram. E eu perguntei o porquê: era por causa da convocação", disse o astro do 'blanco blanco' à Win Sports em Saque Largo.
O renascimento de Dayro Moreno para retornar à seleção colombiana A transferência de Dayro, aliás, é fruto de um renascimento que começou no início de 2022, quando ele retornou ao futebol colombiano para jogar pelo Atlético Bucaramanga. Muitos, na época, já o consideravam de saída.

Dayro Moreno, durante sua visita a Bucaramanga. Foto: Dimayor. VizzorImage
“A atuação do Dayro é sensacional, e cansei de dizer que se ele tivesse sido incluído na fase classificatória anterior, naqueles fatídicos sete jogos sem gols, ele teria marcado vários e a Colômbia teria ido para a Copa do Mundo”, escreveu Jorge Barraza, o colunista argentino que abrilhanta estas páginas com seus textos há mais de 30 anos, em sua conta X.
Onde estava Dayro então, nesse longo período de angústia na seleção? Ele vinha do ponto mais baixo de sua carreira, sua passagem pelo Oriente Petrolero, da Bolívia, onde marcou apenas quatro gols em 17 partidas e onde até protagonizou uma cena inusitada, na qual foi encontrado por torcedores de seu clube em uma boate em seu dia de folga. Eles o vaiaram e depois o expulsaram às pressas.
Nem mesmo os mais próximos o teriam convidado para jogar nas eliminatórias, embora o técnico da seleção na época fosse Reinaldo Rueda, que lhe concedeu sua primeira partida pela seleção principal em 1º de março de 2006, em um amistoso contra a Venezuela em Maracaibo: 19 anos atrás! Essa estreia, certamente, não foi vista por pelo menos metade dos jogadores convocados por Lorenzo até então nas eliminatórias: todos tinham menos de 7 anos.

Dayro Moreno, quando foi convocado pela primeira vez. Foto: Jonh Jairo Bonilla
A história de Dayro com a seleção é longa, mas não tão longa em termos de jogos. Ele disputou o Campeonato Sul-Americano Sub-20 de 2005, na Região Cafeeira, torneio que começou a mudar o destino do futebol colombiano nos anos seguintes, em um elenco que foi a base da geração gloriosa que mais tarde chegou à Copa do Mundo de 2014 no Brasil.
Lá, ele dividiu o elenco com Cristian Zapata, Fredy Guarín, Camilo Zúñiga, Abel Aguilar, Carlos Valdés e Falcao, para citar apenas alguns jogadores da Copa do Mundo. Aliás, mesmo na Copa do Mundo da Holanda (onde David Ospina também jogou), Dayro estava à frente do Tigre, na opinião do técnico Eduardo Lara.
No entanto, ele quase perdeu o Campeonato Sul-Americano. Não chegou a tempo para o início do último treinamento. "Tive um problema com minha mãe; ela teve uma intoxicação alimentar, acordou muito doente e tivemos que levá-la às pressas para o hospital. Não consegui falar com o técnico e só conseguimos conversar no dia seguinte. Ele me disse que eu estava descartado, mas que ainda tinha uma chance", disse Dayro na época. Ele foi salvo pela lesão de um companheiro de equipe, Daniel Machacón. Chamaram-no de última hora, e ele não parou de se apresentar.
Ele também estreou pela seleção antes de Radamel e chegou a marcar um dos gols mais celebrados da segunda seca de Copas do Mundo, a vitória por 2 a 1 contra a Argentina, no El Campín, em 20 de novembro de 2007. Comemorou com todas as forças. Acabou em um bar na Zona Rosa e chegou atrasado ao seu clube, o Once Caldas, o que gerou um conflito com seu então técnico, Santiago Escobar, que colocou a diretoria em apuros: ou era Dayro ou ele. O técnico acabou saindo...

Único gol de Dayro Moreno em partidas oficiais pela seleção: contra a Argentina, em 2007. Foto: Efe
"Eu cometi o erro, mas pedi desculpas e pedi outra chance, mas ele não me deu. Felizmente, tive o apoio da equipe, e é por isso que quero deixar esse assunto para trás", disse ele na época.
Esse foi seu único gol em uma partida oficial pela seleção. Mas isso não o livrou das mãos dos técnicos da época, Jorge Luis Pinto, Eduardo Lara, Hernán Darío Gómez e Leonel Álvarez. Aliás, Bolillo lhe deu uma chance: durante sua passagem pela seleção, Dayro foi marcado por dois incidentes, ambos na Copa América de 2011: um, um gol perdido sozinho contra a Argentina, e o outro, um chute na trave contra o Peru nas quartas de final, onde a Colômbia perdeu por 2 a 0 na prorrogação após Falcao perder um pênalti no tempo regulamentar.
Leonel também tinha muita fé em Dayro. Tanto que na caminhada para o Brasil 2014, que começou com o atual técnico do Bucaramanga no banco, ele participou de uma jogada decisiva: deu o passe para Falcao marcar o gol da vitória contra a Bolívia, em La Paz.
No entanto, a concorrência era grande demais para Dayro, e a chegada de José Pékerman significou sua saída do elenco, assim como a de Hugo Rodallega, outro jogador dispensado pelo argentino. No caso dele, jogar no futebol colombiano o prejudicou, apesar de ter se cansado de marcar gols por Once Caldas, Millonarios e Junior. Ele chegou a ser duas vezes artilheiro da liga com os Blues, em 2013-2 e 2014-1. Moreno teve uma segunda chance: em 2016, quando retornou ao Xolos de Tijuana. Pékerman o trouxe de volta do esquecimento, em uma situação em que Falcao não estava jogando no Chelsea e Jackson Martínez acabou na China, após uma passagem esquecida pelo Atlético de Madrid.

José Pékerman. Foto: MAURÍCIO MORENO
As oportunidades foram poucas, e ele marcou apenas um gol, em um amistoso contra o Haiti. Foi para a Copa América Centenário, onde entrou como reserva, e depois foi convocado para as partidas das eliminatórias contra Venezuela e Brasil: na primeira, ficou no banco de reservas e, na segunda, na arquibancada. Nunca mais havia sido convocado até então.
De certa forma, Dayro foi vítima do pensamento de técnicos de seleções recentes, que não deram muita atenção ao campeonato local e priorizaram aqueles que jogam no exterior. Mas a idade também jogou contra ele. Quando retornou ao futebol colombiano, em Bucaramanga, já estava se aproximando dos 37 anos. Passou um ano lá, marcou 20 gols, 13 deles liderando a Liga I de 2022, e levou seu clube ao campeonato quadrangular.
O segundo jovem em Once Caldas Sua temporada no El Leopardo lhe abriu as portas novamente no Once Caldas, um clube que sempre esteve em seu radar. E onde também encontrou motivação adicional: quebrar todos os recordes de gols na Colômbia. Primeiro, ele superou os 224 gols de Sergio Galván na La Liga e, depois, enfrentou Falcao para superar Víctor Hugo Aristizábal como o maior artilheiro colombiano de todos os tempos.
O Tigres abriu o placar, mas Dayro o ultrapassou: hoje, segundo a contagem "oficial" de Dimayor, ele tem 370 gols. Na realidade, são 373.

Dayro Moreno marcou dois gols na comemoração do Once Caldas pelas quartas de final da Copa Sul-Americana. Foto: AFP
O que o mantém relevante? “O Dayro de hoje está muito mais consciente de suas obrigações com o time. Ele sabe que precisa exercer uma liderança positiva. Ele sabe que é um goleador e, embora não tenha mais aquela mudança de ritmo diabólica, agora tem a cabeça fria na hora de finalizar. Ele sempre teve uma autoestima altíssima, porque sabe do seu enorme amor pelo gol e pela torcida. É assim que ele consegue jogar até os 45 anos”, disse ao EL TIEMPO José Miguel Rodas, que foi fisioterapeuta nos tempos de glória do Once Caldas e também é um de seus melhores amigos.
O técnico do Once Caldas vinha pedindo sua convocação há algum tempo. “Néstor Lorenzo, eu convido você a convocá-lo. Ele é o maior artilheiro do futebol colombiano. Convoque-o para a seleção colombiana por um momento, dê a ele o prazer de se aposentar também com a seleção. Não estou pedindo muito dele, porque ele merece; ser o maior artilheiro do futebol colombiano é uma grande conquista”, disse ele em entrevista coletiva. Lorenzo demorou a perceber: havia rumores de que ele estaria na disputa em junho, mas foi deixado de fora. Agora, as circunstâncias abrem caminho para que ele continue fazendo história.
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