Alertas estão sendo levantados sobre os efeitos da reforma trabalhista nas MPMEs: quais são?


Microempresas e reforma trabalhista.
Imagem gerada com Inteligência Artificial - ChatGPT
A aprovação final da reforma trabalhista pelo Congresso deixou um gosto amargo no setor produtivo. Embora o governo tenha comemorado o resultado como uma vitória legislativa, associações empresariais, juristas e empresas de consultoria soaram o alarme e pediram à população que não encarasse a questão levianamente.
Tudo isso, principalmente considerando o impacto que as novas mudanças regulatórias terão sobre as micro, pequenas e médias empresas (MPMEs), que representam mais de 90% do empresariado do país e seriam as mais afetadas pelas próximas mudanças nas regras do mercado de trabalho.
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Poucos dias antes da conciliação entre a Câmara e o Senado, vozes como ACOPI, Fenalco, Godoy Córdoba, BDO, AmCham Colômbia e o escritório de advocacia Orza & Escandón alertaram que a reforma poderia se tornar um obstáculo à sustentabilidade dessas unidades produtivas. Sua mensagem, embora com nuances diferentes, é que, se não houver ajustes na conciliação, as MPMEs ficarão desprotegidas contra novos ônus econômicos, rigidez regulatória e distorção de disposições essenciais, como o contrato de aprendizagem.
Mais custos, menos oxigênioA Associação Colombiana de Micro, Pequenas e Médias Empresas (ASMEs) faz uma avaliação contundente, alertando que a reforma introduz mudanças que aumentam substancialmente o custo da contratação formal, sem considerar critérios progressivos ou graduais para as MPMEs. O caso mais crítico, observaram, é a mudança no contrato de aprendizagem, que agora se torna uma relação de emprego integral, com plena filiação ao sistema de previdência social e condições semelhantes às de um contrato regular.
"Essa mudança pode aumentar o custo que o empregador deve assumir por aprendiz em mais de 105%", alertou o sindicato. Eles também alertaram que essa transformação pode ser inconstitucional, pois rompe a natureza educacional, e não empregatícia, que define esse tipo de vínculo.

Reforma trabalhista.
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Bruce Mac Master, presidente da Andi, tem opinião muito semelhante, argumentando que, além dos setores que podem ficar satisfeitos com o que foi aprovado, é preciso levar em conta que as novas regulamentações podem se traduzir em mais informalidade e perda de empregos devido à próxima carga tributária.
"Tínhamos projetado uma versão intermediária que eliminaria os custos associados ao desemprego, os custos potencialmente associados à informalidade, o que basicamente significava criar exceções para PMEs e pequenas e médias empresas. Infelizmente, ontem, o Senado votou contra esse projeto. Eu realmente acredito que um enorme erro está sendo cometido", disse o porta-voz do sindicato.
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Uma decisão políticaEm tom igualmente crítico, a Fenalco destacou que o Congresso cedeu à pressão do Executivo, não apenas para evitar a convocação do referendo anunciado pelo presidente Gustavo Petro, mas também para manter uma narrativa política que ignora as realidades operacionais das empresas. Segundo o sindicato, a reforma, conforme aprovada, pode destruir mais de 454 mil empregos formais, principalmente nos setores de comércio, turismo e segurança.
Os estouros de custos estimados pela Fenalco variam entre 18% e 34% para determinados setores. Esse ônus decorre do aumento das sobretaxas noturnas, de domingo e feriados, da exigência de preferência por contratos sem prazo determinado e da eliminação de mecanismos que permitiam a adaptabilidade durante os períodos de pico de operação em muitas atividades econômicas.

Discussão da reforma trabalhista
Nestor Gomez / Tempo
"A aprovação não foi resultado de um consenso tripartite entre governo, empregadores e trabalhadores, como exige a OIT. Foi uma decisão motivada por pressão política, e isso tem custos econômicos que o país arcará em termos de desemprego", disse Jaime Alberto Cabal, presidente da Fenalco.
Do ponto de vista jurídico, o escritório Orza & Escandón destaca que, embora a reforma já tenha sido aprovada, ainda há uma disputa aberta na fase de conciliação e que "o que ocorreu no Congresso foi uma forma institucional de resolver uma pressão extrainstitucional: a ameaça de um referendo por decreto".
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Para esses advogados, o Executivo utilizou a participação direta como mecanismo de pressão sobre o Legislativo e concluíram que "embora tenha sido construída uma narrativa plebiscitária, a verdade é que o Governo impôs a reforma por votação limpa, com pouca margem de manobra para os sindicatos".
O que for discutido agora na conciliação, dizem eles, será fundamental para determinar se o texto final incorpora alguma nuance que corrija excessos e compense a falta de progressividade que atualmente preocupa as MPMEs.

Segurança privada na Colômbia.
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Na BDO, o especialista trabalhista Giovanni González alerta que muitas micro e pequenas empresas não conseguem sequer aplicar as novas regulamentações devido a limitações econômicas e administrativas. Ele explica que "não há exceções nem tratamento diferenciado. Todas terão que responder a sobretaxas, previdência social e novas condições, independentemente do seu porte".
Soma-se a isso o risco operacional de que setores que operam de forma contínua, como educação ou esporte, não consigam manter o contrato permanente como regra única, o que coloca em dúvida sua viabilidade. Além disso, o especialista alerta que o Ministério do Trabalho não tem capacidade operacional para fiscalizar essa nova estrutura em mais de um milhão de MPMEs, o que pode tornar a regulamentação letra morta ou abrir caminho para a informalidade.
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Enquanto isso, Santiago Martínez Méndez, advogado trabalhista da Godoy Córdoba, também destaca que as pequenas empresas serão as mais afetadas pela rigidez regulatória e pelos estouros de custos, já que "as grandes empresas têm capacidade de planejar, reestruturar suas operações e absorver o impacto. As pequenas, não".
O novo contrato de aprendizagem, que antes reduzia custos, agora representa um ônus total. E isso, segundo Martínez, pode levar muitas empresas a abandonar essa opção ou simplesmente não renovar os contratos de aprendizagem, resultando em "menos treinamento e menos oportunidades de emprego para jovens em setores vulneráveis".

Nas áreas urbanas, segundo o Banco da República, a informalidade cresceu mais rapidamente.
Maria Camila González
Por fim, a presidente da AmCham Colômbia, María Claudia Lacouture, insiste que, embora a reforma traga avanços, o texto aprovado desestimula o emprego formal, limita a competitividade e desconsidera a realidade das novas formas de trabalho, já que "sem gradualidade ou visão setorial, a reforma pode levar muitas MPMEs ao fechamento, em vez de fortalecê-las". Lacouture também se une ao apelo de outros sindicatos para que a conciliação seja um verdadeiro espaço de correção e ajuste, e não uma formalidade legislativa, e acredita que é possível construir uma reforma que proteja os direitos trabalhistas sem colocar em risco aqueles que os geram.
Teremos que esperar para ver o que acontece antes do final da semana no processo de conciliação, cujo prazo final é 20 de junho, caso contrário , os prazos para que esse projeto se torne realidade e não naufrague por falta de documentação seriam perdidos.
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