Com dívidas até o pescoço... / Análise de Ricardo Ávila

O renomado pensador irlandês, George Bernard Shaw, escreveu certa vez que “a dívida é como qualquer outra armadilha, fácil de cair, mas extremamente difícil de escapar”. Diante de alertas dessa magnitude, seria de se esperar que o mundo se esforçasse para não cair na rede, mas não é o que acontece.
Pelo menos é o que pensa o Fundo Monetário Internacional, que na semana passada voltou a soar o alarme sobre o comportamento da dívida pública. Segundo a entidade, os empréstimos pendentes serão equivalentes a 100% do produto interno bruto global até o final desta década, um nível nunca visto antes.
Especificamente, um terço dos países — os mesmos que representam 80% da economia global — apresentam passivos financeiros em rápido aumento. Não há dúvidas de que a pandemia acelerou esse ritmo, já que em dois terços dos 175 países analisados a carga é maior do que em 2019.
O problema é que, em vez de colocar a casa em ordem após o fim da emergência sanitária, mais de uma pessoa continua se comportando mal. Este é o caso dos Estados Unidos, onde o Congresso está prestes a aprovar uma lei que mais que dobraria o déficit atual, à qual os investidores reagiram negativamente.
Os títulos do Tesouro dos EUA, tradicionalmente considerados os mais seguros de todos os títulos, aumentaram seus rendimentos em resposta ao nervosismo. Na sexta-feira, o banqueiro Jamie Dimon, chefe do JP Morgan Chase, previu que "rachaduras surgirão" nesse mercado, com repercussões que serão sentidas nos cinco continentes.
Nesse contexto, estar entre o grupo de economias cujos compromissos estão aumentando rapidamente não parece ser a coisa mais apropriada a fazer. Infelizmente, a Colômbia está presa aí, e suas perspectivas não são boas, e é por isso que entrou em uma espécie de ciclo vicioso do qual será muito difícil sair.
A espiral Segundo dados do próprio Ministério da Fazenda, no final de abril passado, as dívidas do Governo Central Nacional somavam 1.087.484.551 milhões de pesos (cerca de 20,7 milhões para cada colombiano). Essa quantia excede o saldo do ano passado em 20%. Em outras palavras, em apenas 12 meses o aumento nas obrigações foi de 179 trilhões de pesos (milhões de milhões), o que é sem precedentes.
Como resultado dessa situação, os níveis atuais são os mais altos da nossa história. De acordo com um relatório do Comitê Autônomo de Regulação Fiscal (CARF), em março, a dívida como proporção do produto interno bruto subiu para 61,7%. Enquanto isso, uma análise do departamento de pesquisa econômica do Banco de Bogotá indica que, até o final de 2025, o número pode chegar a 63%, um nível que parecia impensável até muito recentemente.
Pode ser que, em comparação com o Japão, a Itália ou os Estados Unidos, onde o tamanho das obrigações excede em muito a produção anual de suas economias, essas porcentagens pareçam menores e até administráveis. A diferença com os países mais ricos é que o custo da dívida no nosso caso é muito maior, o que significa que ela consome uma grande fatia do orçamento nacional.

Um terço dos países tem dívidas em rápido crescimento. Foto: EFE
Basta ver o que o CARF enfatiza: "As despesas com juros em março de 2025 eram de 33,9% da receita tributária líquida", em comparação com 25,2% no período anterior. Em outras palavras, agora gastamos um em cada três pesos do que o tesouro recebe em impostos com juros, quando há um ano era um em cada quatro. "O alto uso da renda corrente para pagar obrigações financeiras reduz o espaço para gastos sociais e produtivos", acrescenta o relatório.
Entre os fatores de maior preocupação está uma deterioração muito rápida que excede em muito as projeções oficiais. Em fevereiro, quando o Ministério da Fazenda apresentou seu plano financeiro para o atual ano fiscal, estabeleceu uma meta de dívida pública de 60,6% do PIB, ligeiramente abaixo do recorde histórico registrado em 2020 devido à pandemia (60,7%). Agora, esse nível tende a ficar ainda mais alto, a menos que seja tomada a decisão de economizar a todo custo.
Aqueles familiarizados com esses assuntos lembram que a proporção de obrigações financeiras em relação ao PIB tradicionalmente tem sido inferior a 40%, embora o número tenha começado a aumentar na última década. Em 2019, a título de referência, a taxa atingida foi de 48,4%, considerada administrável.

A dívida do país equivale a 61,7% do PIB e pode subir para 63% até 2025. Foto: iStock
Quando o coronavírus surgiu e medidas extraordinárias se tornaram necessárias para fortalecer o sistema de saúde, comprar vacinas e fornecer suporte a empresas e indivíduos, o salto foi repentino. No entanto, sempre foi garantido que, uma vez terminada a crise e os confinamentos obrigatórios, haveria um retorno gradual à normalidade. Em 2023, o peso da dívida apresentou um declínio significativo, atingindo 53,8% do PIB.
Agora, a Colômbia retornou aos níveis observados durante a era da COVID-19, mas sem um episódio catastrófico que justifique a deterioração. A explicação, então, está numa lacuna persistente e ampla entre as receitas e despesas do governo central, o que se traduz num défice cada vez maior.
Assim como acontece com aqueles cujos rendimentos não são suficientes, endividar-se é uma opção válida para cobrir o rombo, desde que o déficit não aumente. O problema é que o ano passado foi desastroso nesse aspecto e este ano parece que será muito pior. "Nossa estimativa é que, depois de um déficit equivalente a 4,3% do PIB em 2023 e 6,8% em 2024, este ano chegaríamos a 7,8%", diz Camilo Pérez, diretor de pesquisa econômica do Banco de Bogotá.
Em termos de prata, o rombo seria de 138,8 trilhões de pesos, outro recorde histórico. Isso explica por que a dívida é muito maior do que a relatada há menos de três meses.
Adição e subtração É verdade que há analistas que se inclinam para um cenário menos dramático. Por esse motivo, ambos os lados aguardam ansiosamente a publicação do "Quadro Fiscal de Médio Prazo", prevista para 13 de junho, que esclarecerá a posição da administração Petro sobre as finanças estaduais.
Enquanto isso, o que é certo é que a pressão está aumentando. Por um lado, há uma lacuna nas receitas do Tesouro que chega a 27 bilhões de pesos. Por outro lado, as pressões sobre os gastos estão aumentando, como o próprio ministro da Fazenda, Germán Ávila, reconheceu no Congresso. A estimativa é que os maiores saques seriam de 21 trilhões de pesos, o que elevaria o saldo devedor adicional ao valor inicialmente estabelecido para 49 trilhões de pesos.

Ministro das Finanças, Germán Ávila. Foto: Banco da República
Como evitar um cenário tão angustiante? A resposta é tão simples quanto difícil de implementar: encontrar novas fontes permanentes de financiamento ou cortar o orçamento.
Quanto ao primeiro, fica claro que não existem condições políticas para promover uma reforma tributária ambiciosa. O máximo que se pode fazer é juntar alguns pesos aqui e ali por meio de medidas de emergência, como a que impôs impostos temporários para atender à emergência em Catatumbo. Grande parte desse pacote, no entanto, foi declarada inadmissível pelo Tribunal Constitucional.
Tirar a tesoura também não é fácil. Basta lembrar que quando Diego Guevara promoveu a ideia de congelar permanentemente uma série de fundos, ele deixou o Ministério da Fazenda.
Seu sucessor, no entanto, cedeu às palavras da Casa de Nariño, onde o termo "austeridade" simplesmente não é viável. Reclamações sobre um aumento de 70% no volume de contratos de serviço foram ignoradas, apesar das receitas operacionais mostrarem aumentos que superam a inflação.
Soma-se a isso um efeito bola de neve resultante de contas pendentes de anos anteriores. Como o Poder Executivo vem enfrentando problemas de liquidez, ele recorre ao que é coloquialmente conhecido como "adiar a questão", o que desta vez tem cobrado seu preço.
Além disso, há o que Jorge Restrepo, professor da Universidade Javeriana, descreve como "dívidas a custo zero", que consistem na atitude do Estado de não pagar o que deve. Itens como subsídios de energia ou assistência médica são adiados o máximo possível ou enterrados indefinidamente.
Este capítulo inclui um aumento no pagamento antecipado do imposto de renda para 2026, sabendo que isso impactará a receita do próximo ano. "Eles estão usando tudo o que podem para economizar dinheiro, usando esquemas como esse, que na minha opinião são ilegais", enfatiza Restrepo.
Nada disso foi suficiente para evitar que o saldo das contas do governo no Banco da República ficasse muito baixo, apesar das colocações de dívida previstas. É claro para qualquer observador que a Colômbia tem problemas de liquidez que, se não forem resolvidos, se tornarão uma séria ameaça ao bom funcionamento da administração pública em questão de meses.
Não é fácil evitar que as coisas piorem. Por enquanto, o Departamento de Crédito Público tem agido de forma engenhosa, recorrendo a mecanismos como a emissão de títulos do Tesouro de curto prazo para enfrentar as dificuldades. Ao mesmo tempo, foram feitos investimentos em denominações que pagam juros mais baixos do que títulos de 10 ou 15 anos. Parte do objetivo é achatar os vencimentos e substituir papéis que vencem mais perto da data de vencimento.
Mesmo assim, nenhum esforço será suficiente para esconder o que é um crescente desequilíbrio estrutural nas finanças públicas. Do jeito que as coisas estão, o próximo governo está se preparando para receber uma herança envenenada, um país à beira da falência que precisará de uma grande cirurgia — e maiores cargas tributárias — se quiser sair do atoleiro.
Por enquanto, o que vemos é que os custos dos empréstimos estão aumentando. Atualmente, as margens de risco dos títulos da dívida colombiana negociados no mercado secundário são as mais altas da região.
Nenhum observador razoavelmente prudente considera haver qualquer probabilidade de o país cumprir a regra fiscal. Soma-se a isso a expectativa de que as agências de classificação de risco rebaixem nossa nota, algo que já está implícito na avaliação dos títulos nacionais no mercado.
Ironicamente, a situação atual torna o terreno muito fértil para especuladores em títulos nacionais. Com taxas de juros em pesos relativamente altas, entrar e sair rapidamente pode ser muito lucrativo, especialmente se a taxa de câmbio permanecer calma, como tem acontecido nas últimas semanas.
Mas a aparente calma pode desaparecer da noite para o dia se o governo não entender que é obrigado a consertar as coisas para que a situação não piore ainda mais. Caso contrário, os colombianos comuns serão os que pagarão a conta, com taxas de juros mais altas, mais desvalorização e paralisia do investimento produtivo.
Felizmente, aqueles que acreditam que há um cálculo político perverso aqui, que consiste em semear as sementes do caos macroeconômico que serão exploradas quando as mesmas pessoas atualmente no poder executivo se encontrarem na oposição, não estão certos. É por isso que devemos apelar à coragem dos bons dirigentes que permanecem, para que esta não seja a crônica de um desastre anunciado.
É uma grande ironia que, em meio a tantas dificuldades, o Ministério da Fazenda tenha considerado renomear a sala mais importante do prédio onde a entidade está sediada. Agora, o espaço que costumava receber o nome de Roberto Junguito recebeu o nome de Antonio García Nossa, descrito como um pioneiro do pensamento social na Colômbia.

Renomeação da sala do Ministério da Fazenda. Foto: Ministério das Finanças
Sem entrar no debate sobre os méritos do advogado e historiador caucasiano em relação à distinção, a ausência de Junguito é mais sentida no momento atual. Em última análise, o ex-ministro foi fundamental na gestão dos tempos difíceis de 1985 e 2002, quando se tornou essencial restaurar a credibilidade na política econômica e garantir a gestão adequada da dívida pública. Hoje, esse bom senso e inteligência estão visivelmente ausentes de um governo que deveria colocar o bem-estar dos colombianos antes de seus próprios interesses.
RICARDO ÁVILA - ESPECIAL PARA EL TIEMPO
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