Ironia judicial: juízes americanos protegem o México enquanto o judiciário local fica ainda mais enfraquecido.

Na quarta-feira passada, uma ironia judicial foi flagrantemente exposta: o Tribunal de Comércio Internacional dos Estados Unidos bloqueou por unanimidade as novas tarifas de Donald Trump contra o México. Ele fez isso invocando a Constituição, a separação de poderes e os limites legais do presidente. Ao mesmo tempo, o governo mexicano está se movendo na direção oposta: está promovendo uma reforma que politiza o judiciário sob o pretexto de uma eleição "democrática". Enquanto os juízes americanos controlam os excessos de Trump, no México o poder executivo insiste em continuar sendo o mestre do judiciário. Tudo isso com os aplausos submissos de parlamentares do Morena, do Partido Verde e do PT e o silêncio cúmplice de amplos setores que antes alegavam defender a legalidade.
Os juízes Gary Katzmann, Timothy Reif e Jane Restani, indicados por Barack Obama, Donald Trump e Ronald Reagan, respectivamente, invalidaram as tarifas impostas por Trump sob a Lei de Poderes Econômicos de Emergência Internacional (IEEPA), concluindo que não havia nenhuma ameaça "incomum e extraordinária" para justificar tais medidas. Eles disseram que nem os déficits comerciais nem o tráfico de fentanil são suficientes para acionar essa ferramenta legal. A decisão revogou, com efeito em 10 dias, uma tarifa de 25% sobre produtos mexicanos fora do USMCA e uma tarifa de 10% sobre energia e potássio, embora a Casa Branca já tenha apelado.
O tribunal foi além: lembrou que o comércio exterior é uma competência do Congresso, não do presidente. Ele citou precedentes importantes — como Youngstown v. Sawyer e Marbury v. Madison — para afirmar que nenhum líder pode assumir poderes sem um claro respaldo legal. Assim, os juízes mantiveram a ordem constitucional e impediram que uma medida arbitrária aumentasse o preço dos produtos, interrompesse as cadeias de suprimentos e desencadeasse a inflação. Sua decisão não foi apenas legal; Foi também um ato de contenção institucional diante de uma tentativa de abuso autoritário.
Enquanto isso acontece nos EUA, no México, a frágil independência do judiciário está sendo ainda mais prejudicada pela reforma que permitirá que os juízes sejam eleitos por voto popular no próximo domingo. Longe de empoderar o povo, o controle político do judiciário será legalizado. O que antes era feito em segredo agora será confirmado nas urnas: a subordinação ao Executivo não será mais vergonhosa, mas institucionalizada. Não é democratização, é colonização do direito. O novo modelo não fortalece a justiça; transforma-o num instrumento de obediência e cálculo eleitoral.
Trump, por sua vez, ainda tem opções: apelar ao Tribunal Federal, levar o caso à Suprema Corte ou recorrer a outras leis para justificar suas tarifas com base em argumentos de segurança nacional ou comércio desleal. Você também pode aplicar pressão com medidas financeiras ou renegociações comerciais. Mas nenhum desses caminhos será rápido ou fácil, e todos enfrentarão obstáculos legais e políticos.
O inusitado é que, neste episódio, o México foi salvo pelos juízes de outro país. Os juízes que aplicam a lei não a obedecem. Os juízes que impedem o presidente não o apoiam. Juízes que honram a Constituição não a reescrevem sob demanda. Um sistema de justiça que, ironicamente, trabalha para proteger o país onde ele está sendo enterrado.
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