Pagamentos em dólares: o governo nacional insiste, mas os argentinos ainda não usam suas economias para consumo em massa.


O governo de Javier Milei quer que os argentinos comecem a usar os dólares que guardam fora do circuito formal . No entanto, a proposta ainda não ganhou força. Desde o início de março, quando o uso de cartões de débito em moeda estrangeira foi habilitado, apenas cerca de US$ 2 milhões em pagamentos foram processados a cada mês . Esse número contrasta com os US$ 5 bilhões transferidos no mesmo mês em transações com cartão de débito em pesos.
A expectativa oficial é que a medida ajude a impulsionar a economia e dê impulso a setores como turismo, construção civil e automotivo. Mas, na prática, os pagamentos em dólares permaneceram concentrados em um único setor: agências de viagens e companhias aéreas. Os demais setores, segundo a própria indústria financeira, demonstram pouco interesse.
ABRIL DE 2025: SUPERÁVITO PRIMÁRIO E FINANCEIRO NOVAMENTEEm abril, o Setor Público Nacional registrou um superávit primário de US$ 845,949 milhões e um superávit financeiro de US$ 572,341 milhões.
Assim, acumulou-se um superávit nos primeiros quatro meses do ano... pic.twitter.com/zkQiHQsBcv
"É uma ferramenta nova e vamos ver se vira um hábito. Atualmente, seu uso está muito focado no turismo", disse Martín Kaplan , CEO da Prisma Medios de Pago, durante um evento do setor de fintech. A empresa enfatizou que, embora o volume atual seja baixo, ele representa um primeiro sinal positivo. Mas não mais que isso.
O problema subjacente não é tecnológico. O setor tem infraestrutura para operar em dólares, e o marco regulatório permite esse tipo de operação. O freio parece estar em outro lugar: os argentinos não têm nenhuma razão clara para abrir mão dos dólares economizados . Por esse motivo, tanto empresas quanto consumidores optam por continuar operando em pesos.
"Não há promoções nem incentivos. Os clientes não perguntam sobre essa opção e os comerciantes também não a oferecem", admitiu um banco que atua no mercado local. A avaliação é unânime: a “remonetização” do dólar só ocorrerá se benefícios concretos forem introduzidos. Por enquanto, não há nenhuma.
Mesmo em setores onde se esperava maior atividade, como o automotivo e a construção civil, não houve sinais de recuperação. "Esperávamos ver alguma reação a transações maiores, mas isso não aconteceu", confirmou um grande banco.
O porta-voz presidencial Manuel Adorni havia antecipado que medidas para incentivar o uso dos dólares economizados seriam anunciadas nesta quinta-feira. Por fim, o anúncio foi adiado para a semana que vem. O setor financeiro afirma não ter detalhes sobre o pacote que está sendo desenhado, mas concorda que algum tipo de incentivo fiscal ou benefícios específicos serão necessários para expandir os pagamentos em moeda estrangeira para mais áreas.
Na plataforma de viagens Almundo, durante a Hot Sale, eles relataram que quase metade de todas as vendas de pacotes foram pagas em dólares. Este é o único setor que capitalizou a possibilidade de operar diretamente em moeda estrangeira.
Para que a proposta se expanda, grandes redes varejistas teriam que adaptar seus sistemas de faturamento, o que exige investimentos adicionais. No clima atual, com vendas estagnadas e custos ainda altos, as empresas preferem esperar.
O compromisso oficial com a dolarização endógena continua, mas, por enquanto, os dólares no colchão continuam guardados.
elintransigente