Um passo à frente: Análise do progresso na redução da pobreza monetária na Colômbia / Ricardo Ávila

Andrés Ricardo Benítez compartilha com orgulho sua evolução recente, após deixar para trás um passado marcado por dificuldades. Morador do bairro de San Fernando, em Cartagena, este mestre de obras de engenharia civil afirma: "Graças a um emprego decente e estável na construção civil, minha vida mudou 100%."
O caso dela não é único, a julgar pelo relatório divulgado quinta-feira pelo DANE sobre a evolução da pobreza monetária na Colômbia. Segundo a agência , a incidência desse flagelo diminuiu quase três pontos percentuais no ano de medição mais recente em comparação com o período anterior, atingindo 31,8% em 2024.
Nesse sentido, Gustavo Petro comentou em sua conta no X que "reduzimos a porcentagem da população vivendo na pobreza ao menor nível da história estatística desde 2012". Segundo as contas do presidente, quase 2,6 milhões de pessoas saíram da pobreza em comparação com o governo anterior.
O que aconteceu não é pouca coisa, especialmente considerando os reveses causados pela pandemia. Os lockdowns obrigatórios atingiram particularmente as famílias urbanas, aquelas que obtêm seu sustento diário de atividades que tendem a ser informais, como o comércio ambulante, fazendo com que a proporção de pessoas pobres subisse para mais de 43%.
Agora, a diferença foi mais do que reduzida. À primeira vista, o país está em melhor situação do que antes do surto de COVID-19, embora especialistas discordem sobre se os números atuais e passados são comparáveis.

Milhões de colombianos vivem do chamado "rebusque" (cultivo) como meio de subsistência. Foto: César Melgarejo. EL TIEMPO
"A série publicada pelo DANE não é consistente, visto que ajustes metodológicos foram feitos a partir de 2020", alerta Jairo Núñez, pesquisador associado da Fedesarrollo. "Essas mudanças incluem a incorporação de subsídios domiciliares oriundos de registros administrativos de programas sociais e valores derivados do Pila (Formulário Integrado de Liquidação de Contribuições)", explica o especialista.
Além desse debate, em rankings internacionais, a Colômbia continua atrás da média latino-americana. Segundo a CEPAL, a taxa de pobreza na região foi de 26,8% no ano passado, cinco pontos percentuais abaixo da nossa. Enquanto isso, Chile e Uruguai — com taxas abaixo de 10% — exibem uma realidade de causar inveja no restante da América do Sul.
Adição e subtração Como sempre que esse tipo de dado é divulgado, surge uma discussão sobre as definições utilizadas. No caso do DANE, o primeiro passo é traçar a linha de pobreza, que é "o custo mínimo per capita de uma cesta de bens e serviços (alimentícios e não alimentares) em uma determinada área geográfica". Isso requer medições de campo cuidadosas e análises estatísticas.

Uma família de quatro pessoas com renda mensal combinada inferior a US$ 1,84 milhão é considerada pobre. Foto: iStock
Com base nesse conceito, a linha nacional de pobreza foi determinada em 460.198 pesos por pessoa em 2024. Para uma família de quatro pessoas, uma renda mensal combinada de menos de 1,84 milhão de pesos é considerada pobre durante esse período.
No entanto, os critérios dependem de onde se vive. Por exemplo, nas treze maiores cidades, o limite é de 2,26 milhões de pesos por família de quatro pessoas (cerca de um salário mínimo e meio, incluindo auxílio-transporte), enquanto nas áreas rurais sobe para 1,17 milhão. Voltando à realidade do mestre de obras Benítez, ter ingressado em uma construtora com um emprego estável significava que ele não era mais pobre.
Este exemplo confirma o que aqueles que estudam o assunto sabem desde o início: o melhor remédio para reduzir a pobreza é a criação de empregos formais. Assim, a situação de emprego é responsável por mais de três quartos do progresso nessa área, enquanto a ajuda – incluindo a assistência pública – desempenha um papel relativamente menor.

Trabalhador colombiano Foto: Carlos Arturo García M.
Isso não quer dizer que esse apoio seja insignificante. Para Fanny Quinayas, que mora no bairro de Los Mártires, em Bogotá, e cuida do marido deficiente, os 181.000 pesos que recebe mensalmente do Distrito Capital fazem toda a diferença. "É preciso ser grato", diz ela.
Não há dúvida de que o crescimento, pelo menos aceitável, é condição essencial para garantir a redução da pobreza. Nesse sentido, a economia colombiana tem se desenvolvido favoravelmente, graças ao fortalecimento do consumo interno, embora não tenha atingido níveis excepcionais. Mesmo assim, a população empregada aumentou e o desemprego está diminuindo, o que não é desprezível.
Além do exposto, há a queda das taxas de inflação para níveis próximos a 5% ao ano. Esse fator não se reflete apenas no poder de compra das famílias, mas também determina que a linha de pobreza esteja subindo de forma mais moderada. "Em termos de concessão de crédito, o que o Banco da República conseguiu moderar o ritmo de aumento dos preços também merece reconhecimento", afirma Jorge Restrepo, professor da Universidade Javeriana.
Outros fatores entram em jogo. Por exemplo, os altos preços internacionais do café e do ouro têm sido fundamentais para aumentar a renda dos cafeicultores e daqueles que extraem o metal amarelo informalmente. Alguns analistas afirmam que também há mais prata nas áreas de cultivo de coca, devido ao aumento da área plantada e às colheitas maiores.

Produtores de café na Colômbia Foto: iStock
Merecem menção especial as remessas enviadas por colombianos residentes no exterior, que somaram US$ 11,848 bilhões no ano passado. Esses quase 50 bilhões de pesos, distribuídos em pequenas transferências concentradas em departamentos como Valle, Risaralda, Quindío, Antioquia e Cundinamarca, são cruciais para centenas de milhares de famílias.
Essas circunstâncias provavelmente levaram a uma ligeira melhora na distribuição de renda em 2024. No entanto, o cálculo do coeficiente de Gini — usado para medir a desigualdade — sugere que a Colômbia tem um longo caminho a percorrer nessa área e que seu desempenho recente tem sido fraco.
Realidades diferentes Seja como for, os especialistas concordam que a pobreza diminuiu, o que é uma excelente notícia. Talvez o mais preocupante seja o progresso menos evidente em relação à pobreza extrema, cujo limiar é determinado pelo custo mínimo per capita de uma cesta básica (a média nacional é de 908.880 pesos por mês para uma família de quatro pessoas).
Embora o número tenha caído para 11,7% em 2024, não só é pior do que a média latino-americana, como também supera os níveis observados antes da chegada da COVID-19, desconsiderando as dúvidas acadêmicas que surgem ao comparar os números. Claramente, o problema se concentra nas áreas rurais, onde pouco mais de um em cada cinco habitantes vive em extrema pobreza, uma proporção que não mudou muito nos últimos tempos e é duas vezes e meia maior que a das capitais.

É claro que nem todos que vivem da terra têm motivos para comemorar. Foto: Oscar Bernal / EL TIEMPO
As disparidades entre cidades e áreas rurais não são novidade, embora, desta vez, seja impressionante que tão pouco progresso tenha sido feito, mesmo que a redução dessas disparidades seja um dos principais objetivos do atual plano de desenvolvimento. Embora o setor agrícola como um todo tenha se saído bem nos últimos anos, é evidente que nem todos que vivem da terra têm motivos para comemorar.
Aqueles na base da pirâmide também não se saíram particularmente bem no contexto nacional. Uma análise da evolução da renda real por quintil mostra que o menor aumento de todos em 2024 correspondeu aos 20% mais pobres (3,9%). Em contraste, para aqueles no meio — quintil três — o aumento foi de 5,9%, com o componente trabalho sendo, em última análise, decisivo.
Grande parte dessa desaceleração relativa está relacionada ao desempenho da ajuda institucional. Para Jairo Núñez, da Fedesarrollo, "o efeito direto do governo por meio de subsídios tem sido negativo, devido aos cortes que o atual governo implementou nesses programas sociais".
Por outro lado, as enormes desigualdades que caracterizam a Colômbia são observadas em nível regional. A distância rodoviária entre Quibdó e Manizales é de 311 quilômetros, mas enquanto a pobreza na capital, Chocó, sobe para quase 60%, em Caldas fica abaixo de 17%.
O impacto direto do governo por meio de subsídios tem sido negativo, devido aos cortes que a atual administração implementou nesses programas sociais.
Entre esses dois extremos, encontra-se uma paisagem repleta de luz e sombra. Embora ainda exceda a média nacional, Neiva teve uma queda de mais de sete pontos percentuais em sua taxa de pobreza, talvez devido à boa safra de café (Huila é a principal produtora do grão). Em contraste, Riohacha regrediu, enquanto Barranquilla estagnou, após uma série de melhorias significativas até agora neste século.
Aqui entra a discussão sobre o que os governos locais podem fazer com as ferramentas disponíveis. Essa questão é crucial, entre outras coisas, porque grande parte do apoio financeiro do país foi substancialmente reduzido nas grandes cidades.
Devido ao seu tamanho, o caso mais significativo é Bogotá, onde a pobreza diminuiu 4,6 pontos percentuais em 2024 (de um quarto para um quinto da população), o que equivale a 352.000 pessoas a menos nessa situação. Esse número equivale a 28% do declínio nacional.
Segundo o secretário de Integração Social do distrito, Roberto Angulo, o ocorrido é consequência de três fatores principais: "A economia da capital entrou em trajetória de recuperação e superou a média nacional no ano passado; a inflação caiu quase quatro pontos percentuais ; e as transferências monetárias dos cofres do distrito foram fundamentais para a redução da pobreza em geral e da extrema pobreza em particular."
Sobre este último aspecto, o responsável destaca o aumento da cobertura que beneficiou um número muito maior de famílias, com ênfase nos mais vulneráveis. "Eficiência, equidade e escolha são os princípios que nortearam a reformulação dos nossos esforços", sublinha.
Essas conquistas merecem ser analisadas pelos responsáveis pelo combate à pobreza, a fim de consolidar e dar continuidade aos avanços recentes. Nesse sentido, um clima de cooperação entre o Poder Executivo e os governos municipais seria desejável.

Transferências de dinheiro dos cofres distritais são essenciais para reduzir a pobreza. Foto: Arquivo Privado
Infelizmente, a realidade mostra o contrário. A animosidade entre a Câmara de Representantes de Nariño e muitos líderes locais dificulta a comunicação e a implementação de estratégias coordenadas. A desconfiança mútua tende a ser uma constante, ainda mais agora que o período eleitoral se aproxima.
Portanto, não devemos nos acomodar ao avaliar a evolução da pobreza. O progresso alcançado é positivo, mas a Colômbia continua atrasada em relação aos seus pares latino-americanos e continua sendo uma das sociedades mais desiguais do planeta.
Corrigir as disparidades exige não apenas políticas públicas sólidas e recursos adequados, mas também entendimento entre as autoridades e a participação do setor privado, essencial para a criação de empregos formais. O desafio está em "unir forças", como diz Angulo. Isso significa fomentar ciclos virtuosos nos quais as oportunidades de investimento se materializem, a produtividade aumente, a saúde das finanças públicas melhore e a demanda interna se fortaleça.
Só assim o sonho de uma Colômbia onde a pobreza seja uma raridade, não uma constante, poderá se tornar realidade. Outros o alcançaram. Portanto, não há razões válidas para afirmar que essa utopia, no nosso caso, seja inatingível.
eltiempo