Exclusivo: Hospitais estão preocupados com 'obstáculos' do EPS no faturamento eletrônico
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Uma carta enviada em 18 de fevereiro pelo diretor da Associação Colombiana de Hospitais e Clínicas (ACHC), Juan Carlos Giraldo, ao Vice-Ministro da Saúde e Proteção Social, Luis Alberto Martínez, alerta sobre os supostos obstáculos que os EPSs estão criando para os Prestadores de Serviços de Saúde (IPS) para o faturamento e pagamento eletrônico dos serviços prestados.
O documento, que o EL TIEMPO obteve com exclusividade de um IPS que denunciou o incidente, mas preferiu não revelar seu nome, alerta sobre os problemas que os prestadores de serviços de saúde enfrentam na hora de entregar suas faturas, o que em muitos casos deixa essas entidades sem condições de cobrar o pagamento pelos serviços prestados e piora a situação financeira que enfrentam.
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Carta enviada pela ACHC ao Vice-Ministro da Saúde. Foto: Arquivo privado
O problema surge, segundo a carta da ACHC, desde 1º de fevereiro de 2025, quando o Ministério da Saúde e Proteção Social iniciou o processo de coleta de informações sobre assistência médica e recursos investidos no sistema, por meio da implementação da Nota Fiscal Eletrônica de Vendas (FEV) que visa garantir transparência e conformidade regulatória e do Registro Individual de Prestação de Serviços de Saúde (RIPS) e otimizar a qualidade dos serviços.
Entretanto, os SPI, ou seja, hospitais e clínicas, vêm relatando grandes dificuldades devido à exigência de exigências adicionais à norma e à imposição de barreiras que os impedem de prestar contas pela EPS.
"Como compreenderá, Senhor Vice-Ministro, num momento em que as dificuldades com o fluxo de recursos são uma constante, a impossibilidade de prestar contas dos serviços prestados pelo IPS aumentará os problemas de liquidez. De fato, segundo o que nossos IPS afiliados informaram, as porcentagens de registros de cobranças são de um terço e algumas mal chegam a 10% e, estando na metade do mês, uma situação muito complexa se aproxima", afirma a carta enviada pela ACHC.
Segundo os prestadores, as EPSs estão exigindo documentos que dificultam o arquivamento dessas notas fiscais pela estrutura de cobrança, que é o JSON, ou apresentando exigências que não estão na Resolução 2275 e no documento técnico emitido por aquele Ministério, que são os que regulamentam esse novo modelo de envio de notas fiscais.
Por exemplo, alguns EPSs solicitam aos IPSs que incluam o Código de Verificação Único, sem saber que é o próprio EPS que deve extraí-lo e fazer as verificações cruzadas correspondentes, adicionando mais processos que não correspondem ao provedor.
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Os EPSs estão apresentando obstáculos no processo, de acordo com o IPS. Foto: iStock
“Uma prática proibida que se popularizou há alguns anos é a relacionada à emissão de autorizações em tempo hábil. Neste processo de interoperabilidade, esta prática não foi superada e algumas Entidades Pagadoras, apesar de se tratarem de serviços já autorizados e prestados pelo SPI, estabeleceram a obrigatoriedade de emissão de autorizações após a alta dos doentes; Essa situação atrasa o processo de geração da Nota Fiscal Eletrônica de Venda, pois é um requisito JSON que, caso não esteja presente, o processo não pode avançar; Ou seja, o IPS está sujeito aos tempos e à vontade do EPS", enfatiza a carta.
A associação de hospitais e clínicas também relata que alguns EPS fizeram configurações em suas plataformas, definindo arbitrariamente alguns campos JSON de forma diferente, fazendo com que o sistema reportasse um erro no upload pelo IPS e impedisse o arquivamento. Por exemplo, alguns definiram um código de diagnóstico que, se não for inserido, não permite o arquivamento. As EPSs também estariam fechando as plataformas em horários e datas não definidos na regulamentação, o que impede e interrompe o processo de protocolamento.
A carta aponta dois casos específicos de EPS que estão atualmente sob intervenção: Nueva EPS e Savia Salud. No caso da Nueva EPS, alguns relatam que, apesar de enviar o JSON e o XML de acordo com as instruções e o treinamento recebido deles, as faturas são rejeitadas indicando “RIPS não tem CUV”.
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O Novo EPS é um dos EPS que teria gerado obstáculos. Foto: Arquivo EL TIEMPO
A Savia Salud, por sua vez, apesar de o mecanismo estar em vigor desde 1º de fevereiro, não fez as adaptações correspondentes para a recepção do JSON e só anunciou na quinta-feira, 13 de fevereiro, a capacitação da rede de prestadores de serviços para iniciar o arquivamento com a nova metodologia.
“Como pode ver, Sr. Vice-Ministro, os regulamentos não estão sendo cumpridos e, portanto, desviam-se do espírito e propósito estabelecidos. O IPS, na angústia natural gerada por não poder protocolar as contas, mesmo que quisesse acessar as decisões arbitrárias do ERP, teria que realizar um desenvolvimento específico para cada seguradora, o que gera maiores custos e atrasos e vai contra o espírito deste mecanismo de padronização dos processos de protocolização. Esperamos que, com as descrições e exemplificações da situação acima, sejam adotadas as medidas corretivas cabíveis, o cumprimento das resoluções e instruções seja reiterado por meio de ato administrativo – se necessário – e sejam estruturados mecanismos alternativos para corrigir a prestação de contas e transferências, caso as situações descritas não possam ser superadas imediatamente”, conclui a carta.
Clínicas e hospitais pedem ajuda Além dos obstáculos recebidos pela EPS para o arquivamento de faturas, outra carta também conhecida com exclusividade por este jornal e enviada diretamente ao Ministro da Saúde, Guillermo Alfonso Jaramillo, pelo diretor geral do ACHC, Juan Carlos Giraldo, também insiste que o atual momento financeiro que os hospitais e clínicas atravessam é crítico e por isso pedem "ajuda".
No documento, o sindicato faz uma série de pedidos, como acabar com o teto de pagamento de 80% do que os prestadores faturam, já que os 20% restantes são uma carteira que vem se acumulando e aumentando o rombo nas finanças das instituições, já que muitas vezes o EPS não chega nem a 50% nos pagamentos e eles estão pedindo que o Governo pague a eles 100% do que é faturado por um serviço já prestado.
O sindicato também pede nova fase de liberação de reservas técnicas para pagamento de dívidas antigas; ampliar a linha de crédito da Findeter; utilizar mecanismos como compras de portfólio; tornar ainda mais específica a utilização do meio ponto percentual do IVA social para a resolução de dívidas pendentes; entre outros pontos.
“Senhor Ministro, o setor de serviços não para, continua funcionando, mantém as operações e o atendimento a toda a população, mas precisa de ajuda e proteção para continuar atuando como tem feito até agora e nos momentos mais difíceis. Por favor, atenda ao nosso repetido pedido de ajuda”, destaca a carta.
Jornalista de Meio Ambiente e Saúde
eltiempo