O que causou os recentes protestos anti-imigrantes na Espanha?

Vários dias de distúrbios na cidade espanhola de Torre Pacheco evidenciaram as crescentes tensões em torno da imigração, uma questão que a extrema direita tem levado ao centro das atenções. Quatorze pessoas foram presas até o momento, segundo autoridades.
O que aconteceu?
Torre Pacheco, uma cidade de 40.000 habitantes na região sudeste de Múrcia, viu pelo menos três noites de agitação entre grupos de extrema direita e moradores imigrantes, principalmente de origem marroquina.
A violência foi desencadeada pela agressão a um homem de 68 anos em 9 de julho. Ele contou à imprensa espanhola que três homens de ascendência norte-africana o atacaram sem provocação.
Em resposta, a prefeitura — liderada pelo conservador Partido Popular (PP) — organizou um protesto contra a insegurança na sexta-feira. A manifestação ganhou força quando grupos de extrema direita se juntaram, entoando slogans anti-imigrantes.
Houve confrontos em várias noites desde então, embora uma forte presença policial tenha ajudado a evitar confrontos sérios.
As autoridades disseram que 14 pessoas foram detidas, incluindo três homens suspeitos de envolvimento no ataque ao homem de 68 anos que não moram em Torre Pacheco.
Entre os presos estava um líder do grupo de extrema direita "Deport Them Now", que havia convocado online uma "caça" aos imigrantes na cidade.
Qual foi a resposta política?
O prefeito de Torre Pacheco pediu calma e alertou contra culpar a comunidade imigrante da cidade pelo incidente.
Cerca de 30% da população de Torre Pacheco é estrangeira, com muitos trabalhando no principal setor agrícola da região.
Mas o partido de extrema direita Vox, a terceira maior força no parlamento espanhol, intensificou sua retórica anti-imigração.
O líder regional do Vox, José Ángel Antelo, atribuiu a agitação à "imigração ilegal", alegando que os migrantes agrediram idosos e cometeram violência sexual contra mulheres.
O líder nacional do Vox, Santiago Abascal, pediu "deportações imediatas" em resposta ao que ele chamou de "invasão criminosa de migrantes".
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O Partido Socialista do primeiro-ministro Pedro Sánchez condenou veementemente os comentários, acusando o Vox de "colocar lenha na fogueira".
Os promotores abriram uma investigação sobre a declaração de Antelo para verificar se ela constitui um crime de ódio.
"Este é um exemplo claro da crescente tensão sobre questões de imigração na Espanha", disse Paloma Román, cientista política da Universidade Complutense de Madri, à AFP.

Por que as tensões estão aumentando?
Tradicionalmente um país de emigrantes, a Espanha tem visto um recente fluxo de estrangeiros chegando à região devido à melhora dos padrões de vida.
Em 1998, havia 637.000 estrangeiros no país — cerca de 1,6% da população. Hoje, são 6,95 milhões, ou 14% do total, incluindo cerca de 920.000 marroquinos, a maior comunidade estrangeira.
O governo de esquerda da Espanha, que pretende regularizar até 300.000 imigrantes indocumentados por ano até 2027, argumenta que a imigração ajuda a compensar o declínio populacional e a preencher lacunas no mercado de trabalho.
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Sánchez é o único líder de uma grande nação europeia a defender a migração e seus benefícios econômicos, mesmo com vários países se movimentando para reforçar suas fronteiras contra recém-chegados.
De acordo com o instituto nacional de estatísticas da Espanha, a imigração tem sido um dos principais impulsionadores da economia dinâmica do país, que cresceu 3,2% no ano passado.
Uma pesquisa recente da Ipsos descobriu que apenas 34% dos espanhóis acham que o país seria "mais forte" com menos migrantes — o número mais baixo da União Europeia.
Ainda assim, as tensões sociais estão aumentando. Román vinculou essa tendência à ascensão da extrema direita, que colocou a imigração no centro de sua agenda.
O Vox aproveitou a inquietação pública e recentemente propôs um amplo plano de "remigração" para deportar cidadãos estrangeiros.
"Em um país cujo crescimento depende da imigração, isso é um tanto contraditório", disse Román, que atribuiu a polarização a um cabo de guerra político entre o partido conservador PP e o Vox.
Isso é agravado por escândalos de corrupção que enfraqueceram o governo de Sánchez, ela acrescentou.
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