Cientistas defendem uso de paracetamol durante a gravidez

Analistas recomendam que antes de tomar qualquer decisão, é melhor consultar um médico.
Imagem ChatGPT
O paracetamol deve ser evitado durante a gravidez, como recomenda Donald Trump? Provavelmente não. Houve um debate médico sobre o assunto, mas está em grande parte resolvido, pois os estudos mais sérios não estabelecem nenhum perigo para o feto.
Uma ligação com o autismo? Esta foi a principal afirmação feita pelo presidente dos EUA durante uma coletiva de imprensa na segunda-feira. Segundo Trump, o uso de paracetamol durante a gravidez está associado a um risco "muito alto" de autismo na criança.
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Pesquisas não corroboram essa afirmação, que surge em meio a um contexto político no qual o Secretário de Saúde, Robert Kennedy Jr., promete determinar em breve as causas de uma "epidemia" de autismo. Esse compromisso preocupa especialistas devido à complexidade da questão e à postura cética de Kennedy em relação às vacinas.
Em relação ao paracetamol, os estudos mais abrangentes atualmente indicam que uma gestante pode tomar doses normais com segurança. "O uso de paracetamol durante a gravidez não está associado a um risco aumentado de autismo, transtorno de déficit de atenção ou deficiência intelectual em crianças", conclui um desses estudos, realizado na Suécia e publicado em 2024 na revista médica JAMA.

Donald Trump, Presidente dos Estados Unidos
EFE
No entanto, as declarações de Trump não surgiram do nada. Houve um debate na comunidade médica há alguns anos. Apelos por cautela atraíram significativa atenção da mídia, notadamente um manifesto publicado em 2021 por cerca de 100 pesquisadores e médicos na revista Nature Reviews Endocrinology.
"Recomendamos informar as gestantes, desde o início da gestação, que o uso de paracetamol deve ser evitado, a menos que haja indicação médica", afirmava o texto, que recebeu críticas por seu caráter alarmista. Os autores justificaram o alerta com a existência de "dados experimentais e epidemiológicos que sugerem que a exposição ao paracetamol durante a gravidez pode alterar o desenvolvimento fetal".
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Essas alegações decorrem de vários estudos que levantaram a questão de uma possível ligação entre o paracetamol e certas patologias, particularmente o autismo. Um deles, publicado em 2015 na revista Autism Research e baseado em dados de saúde dinamarqueses, analisou crianças de até 12 anos e concluiu que o risco de autismo era 50% maior quando suas mães consumiam paracetamol durante a gravidez.
Mesmo em 2025, um artigo compilando os resultados de cerca de 40 estudos, publicado na revista Environmental Health, defendeu a possibilidade de uma ligação. Este estudo foi explicitamente citado por membros do governo Trump.

Analistas recomendam que antes de tomar qualquer decisão, é melhor consultar um médico.
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Mas muitos pesquisadores acreditam que esses estudos só podem abrir novas linhas de pesquisa devido à sua metodologia imperfeita. Eles fornecem pouca compreensão dos mecanismos reais de causa e efeito. Por exemplo, não seriam os problemas de saúde que motivam as pessoas a tomar paracetamol os que, na verdade, promovem o desenvolvimento do autismo?
Em contraste, o estudo do JAMA leva em consideração vários fatores que podem enviesar a análise. Ele compara o risco de autismo entre crianças da mesma família, visto que a herança genética desempenha um papel importante nesse transtorno. Em última análise, de acordo com o estudo, o uso de paracetamol não faz diferença.
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" Alguns estudos observacionais sugeriram uma possível associação entre a exposição pré-natal ao paracetamol e o autismo, mas as evidências permanecem inconsistentes", resumiu a Organização Mundial da Saúde (OMS) na terça-feira.
Existe realmente algum risco?Como qualquer medicamento, o paracetamol não é totalmente seguro durante a gravidez. No entanto, existem riscos associados ao consumo excessivo, especialmente os danos que pode causar ao fígado.

Gravidez
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"O paracetamol pode ser tomado durante a gravidez, mas deve ser usado na menor dose que permaneça eficaz, pelo menor tempo possível e com a menor frequência possível", alertou a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) na terça-feira, acrescentando que suas recomendações permanecem inalteradas. O paracetamol é considerado o analgésico mais seguro para gestantes, em comparação com a aspirina ou o ibuprofeno, que são absolutamente desaconselháveis no final da gravidez, pois podem causar morte fetal ou defeitos congênitos. DANIEL HERNÁNDEZ NARANJO - AFP
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