Eva Buzo, uma atleta australiana que nadou de Juanchaco a Buenaventura, compartilha os motivos por trás de sua jornada.

No último fim de semana, em um evento organizado por organizações sociais, a Igreja Católica e a rede Open Society Foundations, a nadadora australiana Eva Buzo nadou por mais de dez horas entre Juanchaco e o calçadão de Buenaventura, o principal porto da Colômbia. De acordo com a Prefeitura do Valle del Cauca, sua jornada, chamada "Nadando pela Resiliência", permitiu que ela mostrasse ao mundo um outro lado desta região do país.

A marcha foi realizada em protesto contra a escalada da violência na região. Foto: Cortesia.
O evento, segundo Buzo, foi realizado em protesto contra a escalada da violência na região sudoeste. Na época, ele afirmou que o passeio lhe ensinou sobre resiliência e como resistir a obstáculos.
A conquista do nadador também foi reconhecida pelo ex-ministro das Relações Exteriores Luis Gilberto Murillo, que observou que eventos como este ajudam a conscientizar sobre uma área que "foi estigmatizada pela violência". Ele acrescentou: "Este feito esportivo personifica a dignidade, a resiliência e a liderança que caracterizam esta região da Colômbia."
Quando Buzo chegou ao Malecón, a comunidade a recebeu com amostras culinárias, culturais e folclóricas típicas da região. Além disso, na segunda-feira, a australiana visitou o centro multimodal apoiado pela Open Society Foundations na comunidade de Puente Nayero, onde moradores e líderes comunitários agradeceram à nadadora por sua conquista e explicaram como eles resistem à violência.

A comunidade acolheu Eva Buzo, emocionada com a conquista. Foto: Cortesia.
O EL TIEMPO conversou com Eva Buzo sobre seus preparativos, de onde surgiu a ideia de vir para a Colômbia e as dificuldades que ela enfrentou ao longo do caminho.
De onde surgiu a ideia de vir nadar 40 quilômetros em Buenaventura, na Colômbia? A motivação para esta travessia veio de um convite que recebi de grupos da sociedade civil de Buenaventura, organizações comprometidas com o combate à violência e a construção da paz na região. Foi uma oportunidade de encarar um desafio de resistência física que simbolizasse resiliência. A natação em ultramaratonas é um esporte extremamente exigente, e esta travessia me permitiu destacar a beleza da região, de Juanchaco a Buenaventura. Era algo que muitos consideravam impossível, especialmente devido a um trecho conhecido como El Paso de Tigre. Muitas pessoas dizem que é intransponível. As condições eram, sem dúvida, difíceis, mas o importante é persistir, seguir em frente, e às vezes você consegue o que outros acham inatingível. Essa é a mensagem que as pessoas que trabalham com a comunidade queriam compartilhar: transmitir uma mensagem de inspiração e celebrar o incrível trabalho que realizaram lá. Foi uma honra para mim poder contribuir para isso com esta travessia.
Você mencionou que enfrentou alguns desafios ao longo do caminho. Quais especificamente? A natação em ultramaratonas exige um nível tremendo de foco mental. Um dos maiores desafios dessa jornada foram as condições em constante mudança. Tive que ajustar constantemente meu plano mental: quanto tempo eu achava que o percurso levaria, como eu o abordaria e se eu realmente sentia que conseguiria terminá-lo. A baía entre Juanchaco e Buenaventura tem um formato específico que faz com que as marés mudem constantemente. É por isso que você precisa ser muito estratégico: nadar a favor da maré, não contra ela. Por exemplo, perto do final, eu estava a apenas 3 km da linha de chegada, mas a maré mudou. Em um momento, eu estava nadando a 5 km/h e, de repente, mal conseguia progredir. Tornou-se quase impossível terminar. É aí que entra a capacidade de adaptação. Nada saiu exatamente como planejado, mas isso reflete a vida real; você pode ter todos os planos e objetivos do mundo, mas a realidade lança desafios inesperados em seu caminho. O que importa é como você se adapta. Minha equipe e eu tivemos que reajustar constantemente nossas expectativas ao longo do percurso.
Há quanto tempo vocês são contatados por grupos da sociedade civil de Buenaventura? Como foi a preparação? Conheci alguém de Buenaventura há cerca de um ano, logo após cruzar o Canal da Mancha nadando 11 horas em águas a 13°C. Estávamos conversando sobre essa experiência em águas geladas quando ele me perguntou se eu consideraria fazer um passeio em Buenaventura. Ele me contou sobre as belas praias da região e disse que a resiliência necessária para esse esporte poderia ter um impacto real na comunidade. Respondi: "Claro, adoraria". A partir daí, a ideia começou a tomar forma. Sou nadador de ultramaratona, então estou sempre treinando. Em agosto do ano passado, nadei 92 km da Itália até a Albânia. Depois, dei uma pausa, mas retomei os treinos no final do ano passado. Também sou advogado de profissão, então tenho um trabalho bastante exigente. Costumo nadar cinco vezes por semana e também passo bastante tempo na academia.

Eva Buzo chegando ao calçadão de Buenaventura. Foto: Cortesia.
Sim, com certeza. Assim que a ideia começou a tomar forma, começamos a montar uma equipe. Meu contato me conectou com pessoas na Colômbia e em Buenaventura que me ajudaram a organizar a viagem. Tínhamos reuniões semanais, nas quais discutíamos o propósito do evento, as condições do mar, a logística e o trabalho que grupos da sociedade civil estavam realizando na região. Durante esse processo, desenvolvi um relacionamento muito próximo com as pessoas em Buenaventura. Honestamente, esta foi uma das viagens mais organizadas que já fiz. Em alguns lugares, organizar um evento como este pode ser muito complicado, especialmente onde não é tão comum. Mas a equipe em Buenaventura fez um trabalho extraordinário.
Uma coisa que realmente se destaca é o nome do curso: “Natação para Resiliência”. Por que você escolheu esse termo específico? A pessoa que conheci inicialmente foi Hugo Tovar, diretor de segurança e direitos da Open Society Foundations. Ele é de Buenaventura e está profundamente ligado às questões enfrentadas pela comunidade. Ele também trabalha em estreita colaboração com organizações locais que promovem a paz e os direitos humanos. Para Hugo, esta visita foi um projeto apaixonante, uma forma de mostrar a resiliência da sua comunidade. Ele conhece em primeira mão os desafios que as pessoas enfrentam, mas também sabe o quão forte e inspirador o povo de Buenaventura é. Durante esta experiência, tive o privilégio de conhecer muitas pessoas que partilharam comigo a sua cultura, comida, dança tradicional, paisagens e o mar. Buenaventura é um lugar que merece ser reconhecido. Estou muito feliz por ter feito parte desta celebração da resiliência e de tudo o que Buenaventura tem para oferecer.
Já que você mencionou a comunidade local, como você foi recebido no final do passeio? Fiquei absolutamente maravilhada. Nunca tinha sido tão bem recebida depois de um mergulho. Mesmo quando cruzei da Itália para a Albânia, onde tenho laços familiares através do meu avô, a recepção não chegou nem perto do que vivi em Buenaventura. Isso mostra como as pessoas estão unidas em torno desta mensagem de paz e resiliência. Quando você dá a uma comunidade a oportunidade de compartilhar suas histórias e forças, todos se juntam com entusiasmo. Fiquei muito orgulhosa de que este mergulho pudesse proporcionar esse espaço para celebração.

O atleta nadou por mais de 10 horas desde as praias de Juanchaco. Foto: Gabinete do Governador do Vale do Cauca
Buenaventura é uma comunidade da qual tem muito do que se orgulhar e que merece ser celebrada. Não acho que tenha uma mensagem para eles, mas tenho uma mensagem sobre eles: é um lugar extraordinário. Do ponto de vista esportivo, este percurso foi tecnicamente desafiador, o que o tornou muito interessante. Fui o primeiro a tentar, mas espero não ser o último. Espero que Buenaventura se torne um destino reconhecido para a natação em águas abertas. É um percurso difícil, mas já provei que não é impossível. Talvez seja essa a mensagem: as pessoas muitas vezes acreditam que algo é impossível até que alguém prove o contrário. Já fracassei em outros percursos; já fracassei profissionalmente. O fracasso é bom, mas o verdadeiro fracasso é não tentar, porque nunca se sabe; você pode se surpreender.
Você mencionou sua viagem entre a Itália e a Albânia. Tem outras rotas em mente? Sempre tenho uma lista de viagens dos sonhos, mas o verdadeiro desafio é organizar a logística. O que eu mais gostaria é de receber convites como este. Às vezes, uma viagem é só isso, mas esta experiência foi muito mais especial. Se eu puder apoiar grupos da sociedade civil que trabalham duro em suas comunidades, lutando pela paz e garantindo que seus membros defendam seus direitos, eu adoraria participar. Estou aberto a ideias. Mas se não receber novos convites, talvez eu volte a buscar outros objetivos pessoais.

Eva Buzo estava muito orgulhosa de sua jornada. Foto: Cortesia.
ANGIE RODRÍGUEZ - EDITORIAL DE VIAGENS - @ANGS0614
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