Fed mantém taxas inalteradas contra recomendação de dois governadores


Jerome Powell, presidente do Federal Reserve dos EUA, durante uma coletiva de imprensa em 30 de julho de 2025 em Washington.
O Federal Reserve (Fed) dos EUA, sem surpresa, deixou as taxas de juros inalteradas na quarta-feira pela quinta vez consecutiva, uma decisão marcada pela rara oposição de dois governadores que queriam um corte.
Em uma coletiva de imprensa, o presidente do Federal Reserve (Fed), Jerome Powell, afirmou que a instituição ainda pode se dar ao luxo de esperar para saber mais sobre a trajetória da economia americana antes de alterar suas taxas. Ele enfatizou que ainda há "muitas, muitas incertezas a serem resolvidas" em relação ao impacto da enxurrada de novas tarifas impostas a produtos que entram nos Estados Unidos pelo governo Trump.
As taxas básicas do Fed — que orientam o custo do crédito e têm forte impacto nos mercados — permanecem, portanto, no nível em que estão desde dezembro, entre 4,25% e 4,50%.
Os investidores já esperavam esse status quo, mas os comentários de Jerome Powell os levaram a acreditar que um corte nas taxas não ocorreria na próxima reunião da instituição em setembro.
Em Wall Street, os índices — que vinham sendo negociados em geral positivos desde a abertura da Bolsa de Valores de Nova York — se recuperaram. Por volta das 19h20 GMT, o Dow Jones Industrial Average caía 0,71%, o índice Nasdaq recuava 0,17% e o índice S&P 500, mais amplo, recuava 0,45%. O dólar, por sua vez, valorizava-se mais de 1% em relação ao euro.
Dos doze membros do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), dois votaram contra a manutenção das taxas de juros. Tal oposição não era vista há mais de 30 anos.
Michelle Bowman e Christopher Waller defenderam um corte de 25%, de acordo com o comunicado do Fed. Esses dois governadores foram impulsionados a assumir seus cargos durante o primeiro mandato de Donald Trump na Casa Branca.
Michelle Bowman foi recentemente nomeada, por iniciativa do presidente, vice-presidente do Fed responsável pela supervisão bancária. Christopher Waller é visto como um possível sucessor de Jerome Powell, que tem sido constantemente criticado pelo presidente Trump.
O governador Waller declarou publicamente que desejava um corte nos juros, temendo que o mercado de trabalho dos EUA se deteriorasse de forma muito acentuada. Sua colega também disse que estava inclinada nessa direção, mas com menos firmeza superficialmente.
Questionado sobre as divergências, Powell disse que cada membro do FOMC expressou suas opiniões "com muito cuidado" durante uma "boa reunião" e que "não foi surpreendente" ter opiniões divergentes, dado o contexto.
Analistas observaram que a última vez que dois governadores (e não apenas os membros votantes do FOMC) se opuseram a uma decisão na mesma reunião foi em 1993.
O Fed espera que as novas tarifas, cujos detalhes mudam quase diariamente, resultem em um crescimento econômico mais lento, com inflação e desemprego mais altos. Em seu comunicado, o Fed observou que o crescimento dos EUA "desacelerou no primeiro semestre do ano", mas que o mercado de trabalho permanece "sólido", com uma taxa de desemprego "baixa".
Em uma coletiva de imprensa, Jerome Powell afirmou que as novas tarifas começaram a elevar os preços de alguns produtos. "Estamos vendo o início dos efeitos no preço dos produtos", que podem ser "mais ou menos" altos, mas não serão zero, afirmou.
Na manhã de quarta-feira, Donald Trump garantiu mais uma vez que "não havia inflação" e instou Jerome Powell a reduzir os juros. Demonstrando sua crescente impaciência, chamou o presidente do Fed — que ele mesmo nomeou para o cargo durante seu primeiro mandato — de "idiota", pediu a outros banqueiros centrais que o demitissem, fingiu constantemente querer expulsá-lo e até fez uma visita surpresa na semana passada à reforma da sede da instituição em Washington, que considerou muito custosa.
"Foi uma honra recebê-lo", disse Jerome Powell na quarta-feira, ao defender mais uma vez a independência da instituição em nome do "interesse geral" e para impedir que políticos "influenciem as taxas para fins eleitorais, por exemplo".
20 Minutes