O que o fascismo de Giorgia Meloni faz à cultura e às nossas vidas

Como se desenvolve um clima fascista? O que acontece logo antes? E logo depois? O que está lentamente corroendo todo o horizonte? Somos mulheres italianas e observamos tudo isso a partir da nossa perspectiva situada e corporificada: a de feministas que vivem e trabalham no mundo das artes e da cultura.
Queremos falar sobre impotência, que é um sentimento que se espalha por toda parte. Às vezes beira a depressão. Esse sentimento de ser incapaz, de não ser bom o suficiente: nem como ativista, nem como artista, nem como amigo. O fascismo também é isso: claustrofobia. No campo da criação contemporânea na Itália, sempre fomos acostumados a cortar, costurar, emendar — a fazer muito com pouco. Vivemos e trabalhamos em casas que já foram roubadas. E, no entanto, a extrema direita está de fato fazendo a diferença.
Para escrever este texto, começamos listando cenas que nos impactaram profundamente, nos marcaram fisicamente. De cujos detalhes emerge o terror.
Roma, 6 de abril de 2023, seis meses após a vitória eleitoral de Georgia Meloni. Uma assembleia geral sobre cultura está sendo organizada pelo governo. O título: "Pensando o Imaginário Italiano". A palavra "nacional" aparece várias vezes nos títulos dos slides. Número de palestrantes: 69. Entre eles, 65 homens. Nas associações presentes: Verdade; Testemunho; Futuro da Nação; Cultura Identitária; Espírito de Unificação;
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