As mulheres são os novos 'caras do relógio'

O que Serena Williams no Super Bowl Halftime Show, os personagens da terceira temporada de The White Lotus e o desfile da Louis Vuitton de outono de 2025 têm em comum? A resposta: todos fazem parte do atual renascimento da moda com relógios voltados para as mulheres. Entusiastas da velha guarda podem argumentar que os relógios nunca desapareceram. Mas, como em qualquer nicho de mercado, os relógios se tornaram mais atraentes do que nunca. Todo mundo quer participar — e, desta vez, as mulheres estão liderando essa tendência.

“ A Dimepiece foi basicamente eu publicando minha própria pesquisa”, diz Brynn Wallner sobre sua conta no Instagram, que não para de crescer. Wallner faz parte de um grupo de influenciadoras em ascensão que, mesmo com uma breve análise do algoritmo dos amantes de relógios, você já conhece. Algumas são megainfluenciadoras completas, com mais de 300.000 seguidores; outras, como @pulseonthewrist, têm menos de 10.000. Mas todas têm o mesmo propósito: desmistificar a coleção de relógios para um novo público feminino, sejam elas colecionadoras ou não.

Brynn Wallner, também conhecida como @dimepiece.co no Instagram.

O primeiro relógio de pulso foi projetado para uma mulher: Caroline Murat, rainha de Nápoles e irmã mais nova de Napoleão Bonaparte. Mas, de alguma forma, entre pais, amigos das finanças, jogadores de basquete e afins, os relógios — e o entusiasmo por eles — tornaram-se um clube de meninos. Exclusivos ora pela profissão, ora pela capacidade financeira, ora pelo status e pela novidade, a comunidade relojoeira pode se sentir como se estivesse apenas por dentro: "Se você sabe, você sabe". Influenciadoras estão mudando isso, uma publicação de cada vez, com pulseiras artisticamente combinadas e manicures ousadas.

Wallner tem uma publicação fixada que categoriza relógios icônicosde acordo com os signos do zodíaco . Conhece um leonino? Compre um Polo Piaget para ele. "Enquadrar esses produtos exclusivos — com sua herança e aspectos técnicos intimidantes — através de uma lente descaradamente feminina (ou seja, usando a astrologia) ajuda a amenizar o impacto por trás do 'não sei nada sobre isso'", diz ela. "Se uma adolescente vê Rihanna ou Taylor Swift usando uma gargantilha de relógio, isso abre, aos olhos delas, uma maneira muito feminina de usar um relógio, que se preocupa menos com a marca e mais com a autoexpressão."

“Não estamos apenas pedindo um lugar à mesa; estamos criando nossos próprios espaços, trazendo uma nova perspectiva e tornando o setor mais dinâmico e inclusivo”, diz a criadora de conteúdo Georgia Benjamin , cujo emprego fixo é na Adobe. “O maior elogio que recebo é quando alguém me envia uma mensagem dizendo que comprou o primeiro relógio por causa do meu conteúdo — esse é o tipo de impacto que quero ter.”

Criadora de conteúdo Georgia Benjamin.

A crescente presença de relógios em tapetes vermelhos, no estilo de rua de celebridades e até mesmo em mercados vintage também pode ser creditada ao renascimento. Uma olhada nos resumos de mercados de pulgas parisienses do @kissa.vintage.paris e você verá mesas de relógios vintage esperando para serem comprados e estilizados por alguém chique, às vezes reaproveitados como mais um acessório, como um colar, tornozeleira ou gravata bolo. Em novembro, Benjamin postou umafoto sua usando um Cartier Panthère com quantos elos extras fossem necessários para transformá-lo em um cinto. Marcas como Patek Philippe e Van Cleef & Arpels transformaram relógios em joias incríveis (com um segredo escondido) antes que fosse socialmente aceitável que mulheres usassem relógios em público, e esse conceito se tornou um favorito entre os amantes de relógios de longa data e iniciantes. "Essas peças desafiam o que um relógio deve ser e tornam o colecionismo mais lúdico", diz Benjamin. "Adotar estilos não convencionais torna o colecionismo menos rígido, mais voltado para a autoexpressão."

Relógios menores também estão tendo um momento para homens e mulheres, refletindo a crescente inconformidade de gênero no espaço relojoeiro. O Longines DolceVita se tornou uma das coleções mais populares da marca, com uma versão 'Mini' ainda menor ganhando popularidade desde seu lançamento em 2023, enquanto o mini Baignoire da Cartier é outro estilo minificado. "É bom ver formas menores, mais delicadas e interessantes se tornando parte da conversa", diz Marci Hirshleifer-Penn , diretora global de compras pessoais e compradora da icônica loja de luxo familiar Hirshleifers em Long Island e devota usuária de Rolex. "Essa estética atraiu um consumidor que talvez tenha sido deixado de fora antes." (Alguns, porém, estão se movendo na direção oposta depois de ver tantos designs liliputianos. "Claro, isso me levou a querer um relógio maior", diz Wallner.)

Brynn Wallner modelando um relógio.

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Outro fator na revolução relojoeira? A capacidade das mulheres de comprarem para si mesmas. "Muitas mulheres agora gostam de comprar relógios especiais para celebrar marcos em suas vidas", diz Camille Zarsky, proprietária da The Seven, uma joalheria de luxo no West Village, em Nova York. Com uma geração de mulheres que sabem o que querem e têm renda para obtê-lo, as marcas que atraem uma clientela feminina estão em vantagem. "[Um relógio] ainda se destaca como a personificação de algo gratificante: um prêmio, um troféu passado de uma geração para outra e um símbolo de savoir-faire", diz Stéphanie Sivrière, diretora criativa da Piaget, que chegou à marca como joalheira e não com uma formação tradicional em relógios. Os relógios da marca, alguns feitos com materiais semipreciosos como lápis-lazúli, olho de tigre ou malaquita, tendem a se assemelhar mais a joias do que a relógios técnicos tradicionais. Em nosso mundo cada vez mais voltado para o visual e em meio a um anseio pela estética moderna de meados do século, essa herança coloca a Piaget em sua própria categoria. E confirma o quanto os relógios podem ser divertidos. Ou, como diz Wallner: "Além disso, eles são estilosos. São flexíveis."