As viagens de canadenses para os EUA despencam — mas os americanos também estão ficando em casa

Não são apenas os canadenses que estão resistindo às viagens internacionais em meio à guerra comercial dos EUA, que azedou as relações bilaterais.

O número de americanos que vêm ao Canadá também está diminuindo. Novos dados publicados pela Statistics Canada na quinta-feira mostram uma queda de 10,4% nas viagens de automóvel de residentes dos EUA em junho — uma queda mais acentuada do que a registrada no mês anterior.

De acordo com a agência federal, 1,4 milhão de americanos viajaram para o norte de carro no mês passado, em comparação com cerca de 1,56 milhão que fizeram o mesmo no ano passado. Essa queda preocupa líderes políticos e empresariais do lado canadense do paralelo 49, considerando o quanto esses visitantes gastam quando vêm.

No ano passado, os visitantes americanos contribuíram com um recorde de US$ 15 bilhões para a economia.

Mas há um lado positivo: alguns destinos turísticos estão relatando um aumento no número de viajantes nacionais e internacionais de fora dos EUA, o que, em alguns casos, está compensando a queda nos gastos americanos.

O que fica óbvio a partir dos dados é que as viagens de canadenses aos EUA continuam a cair.

O número de canadenses que retornaram de viagens aos EUA por via aérea caiu 22,1% em junho em comparação com o mesmo mês do ano anterior, de acordo com a StatsCan. As viagens de retorno de residentes canadenses de automóvel caíram impressionantes 33,1%.

Ainda assim, um número estatisticamente significativo de residentes dos EUA também está optando por adiar viagens ao Canadá.

Dados federais mostram que o número de carros com placas americanas que chegam ao Canadá vem caindo desde o início da disputa comercial.

O ano teve um começo promissor, com mais americanos chegando em janeiro do que no mesmo mês do ano anterior.

Mas, em fevereiro, as coisas mudaram quando o presidente dos EUA, Donald Trump, intensificou sua retórica sobre o 51º estado e aplicou tarifas sobre todas as importações , provocando uma reação canadense, vaias no hino e sentimentos feridos em ambos os lados da fronteira.

O resultado imediato foi uma queda no tráfego transfronteiriço — com os canadenses reduzindo significativamente as viagens e seus vizinhos americanos fazendo o mesmo, mas em menor grau.

O número de carros com placas americanas que entraram no Canadá caiu seis por cento em fevereiro, quatro por cento em março e sete por cento em abril, de acordo com uma análise dos dados feita pela CBC News.

As Cataratas do Niágara, em Ontário, são particularmente dependentes de viajantes americanos, com cerca de três milhões deles indo para o norte para apreciar a oitava maravilha do mundo não oficial a cada ano.

Dados da Comissão da Ponte das Cataratas do Niágara, que administra três travessias de fronteira na região, mostram quedas ainda mais acentuadas do que as relatadas em outros lugares. As viagens de carro com destino ao Canadá caíram dois dígitos em diferentes pontos deste ano na movimentada Ponte do Arco-Íris.

No Dia da Independência dos Estados Unidos, por exemplo, o tráfego de automóveis naquela ponte para o Canadá caiu 20% neste ano em comparação com 2024 — uma queda particularmente notável considerando que o feriado caiu em uma sexta-feira.

O tráfego na ponte em direção ao norte caiu significativamente em relação aos números do ano passado em todos os dias da semana passada, normalmente um dos períodos de viagem mais movimentados, já que as comemorações do Dia do Canadá e do Quatro de Julho ocorrem praticamente na mesma época.

De acordo com a Niagara Parks Commission, a agência de Ontário que supervisiona dezenas de atrações, lojas e restaurantes na região, 42 por cento de sua receita no ano passado veio dos americanos — quase o mesmo que eles arrecadaram dos canadenses.

A receita proveniente de viajantes americanos caiu nove por cento até agora neste ano, disse David Adames, CEO da Niagara Parks Commission, à CBC News em uma entrevista.

Ele não sabe por que o turismo americano caiu, mas disse que "questões geopolíticas", "incerteza de alguns visitantes dos EUA e se eles se sentem bem-vindos" podem estar influenciando suas decisões.

A agência intensificou seus esforços de publicidade nos EUA

"Nossa mensagem para eles é: 'Temos experiências turísticas incríveis para compartilhar com vocês. Estamos prontos, dispostos e aptos a recebê-los aqui'", disse Adames.

O prefeito de Niagara-on-the-Lake, Gary Zalepa, disse que houve um declínio preocupante no número de visitantes americanos em sua pitoresca cidade histórica, a poucos passos dos EUA — mas a queda não é catastrófica.

A cidade e os arredores foram palco de várias batalhas durante a Guerra de 1812, outra época em que as relações bilaterais estavam em baixa.

O Shaw Festival Theatre da cidade, que normalmente atrai cerca de 100.000 espectadores americanos a cada temporada, viu as vendas de ingressos nos EUA caírem cerca de quatro por cento este ano, disse um porta-voz.

Em uma entrevista, Zalepa disse que alguns visitantes dos EUA, que ele chamou de "extremamente importantes" para a indústria do turismo da cidade, lhe disseram que se sentem "um tanto desconfortáveis" em vir ao Canadá, dado o que está acontecendo entre os dois países.

"Há muita timidez — é nisso que o visitante americano pensa ou contempla quando viaja ao Canadá", disse ele.

Mas ele diz que aqueles que vêm percebem que não têm nada com que se preocupar.

"Se temos alguma diferença de opinião, eu digo: 'Vamos deixar isso de lado'. O visitante americano é muito bem-vindo aqui", disse ele.

Em meio à queda do número de americanos, visitantes internacionais não americanos estão vindo para a região de Niagara mais do que o normal — um possível sinal de que alguns turistas estrangeiros estão evitando os EUA e vindo para o Canadá neste verão.

Adames disse que houve um aumento notável no número de visitantes do Reino Unido, França, Austrália, Coreia do Sul, Espanha, Itália e México, o que, quando somado, compensa o declínio americano.

Zalepa disse que também está notando um aumento no número de visitantes estrangeiros que estão evitando os EUA

Ele disse que o Canadá deve fazer o melhor que puder para manter essa tendência mesmo depois que a animosidade com Trump diminuir.

"Provavelmente deveríamos ter feito um trabalho melhor com isso no passado", disse ele.

"É um alerta e, às vezes, você precisa de um empurrãozinho do seu vizinho. A reformulação do relacionamento nos fez pensar em encontrar novos mercados."