Embaixador ucraniano critica oposição do candidato presidencial polonês à adesão à OTAN

O embaixador da Ucrânia na Polônia criticou Karol Nawrocki, o candidato presidencial da oposição conservadora da Polônia, por assinar um compromisso de se opor à adesão da Ucrânia à OTAN se ele vencer a eleição da semana que vem.

Vasyl Bodnar chamou a postura de "inaceitável" e disse que ela ameaça tanto a sobrevivência da Ucrânia quanto a segurança da Polônia. Ele também alertou que isso “faz o jogo da Rússia”.

Nawrocki, cuja candidatura é apoiada pelo partido nacional-conservador Lei e Justiça (PiS), enfrentará em 1º de junho Rafał Trzaskowski, candidato do partido centrista Plataforma Cívica (PO), principal partido governista da Polônia, no decisivo segundo turno da eleição presidencial .

Na quinta-feira, Nawrocki aceitou um convite para aparecer no canal do YouTube do líder de extrema direita Sławomir Mentzen, que terminou em terceiro lugar no primeiro turno da eleição presidencial do último domingo e, portanto, não conseguiu chegar ao segundo turno entre os dois primeiros.

Durante sua aparição, Nawrocki, que agora busca ganhar o apoio dos eleitores de Mentzen, assinou uma declaração contendo oito promessas que Mentzen disse serem importantes para ele. Uma delas foi a promessa de não assinar nenhuma lei ratificando a entrada da Ucrânia na OTAN.

Em uma entrevista na sexta-feira à emissora polonesa RMF, Bodnar disse que “a decisão de proibir e/ou limitar alguns direitos da Ucrânia é inaceitável, porque é uma questão fundamental de existência para a Ucrânia”.

Além disso, ele acrescentou: “parece-me que é do interesse nacional polonês integrar a Ucrânia à OTAN, porque isso aumenta a segurança da Polônia, porque a fronteira leste seria mais segura”.

“Hoje, a Ucrânia também está lutando com armas da Europa, incluindo a Polônia, e eu não entendo os apelos que desafiam o direito da Ucrânia de se integrar à OTAN”, disse Bodnar.

O embaixador também alertou que “a Rússia se beneficiará” da decisão de Nawrocki. “Não entendo por que seria útil usar esse tópico, que serve à Rússia e também é usado pela propaganda russa, porque a propaganda russa é capaz de usar esses tópicos para dividir.”

O primeiro-ministro polonês, Donald Tusk, também criticou Nawrocki por assinar a declaração de Mentzen, sugerindo que isso favorece a Rússia.

“A primeira e mais importante exigência de Putin para a Ucrânia e o Ocidente é a proibição da Ucrânia ingressar na OTAN”, escreveu Tusk. Nawrocki acaba de assinar voluntariamente esta exigência. A próxima será a capitulação e a divisão da Ucrânia. Ele também assinará isso. Mortalmente perigoso para a Polônia.

Em seus comentários de hoje, Bodnar enfatizou que a escolha nas eleições “é uma questão exclusivamente dos poloneses, e Kiev respeitará qualquer resultado... [e] cooperará com qualquer candidato que vença”. Ele observou que “boas relações com a Polônia são fundamentalmente importantes para a Ucrânia”.

No entanto, seus comentários foram criticados por figuras do PiS e também pelo partido de extrema-direita Confederação (Konfederacja) de Mentzen.

“A opinião do embaixador da Ucrânia – ou de qualquer outro país – é irrelevante e não nos interessa”, escreveu o eurodeputado do PiS, Tobiasz Bocheński. “Karol Nawrocki apresenta o ponto de vista polonês, [que é] a maior obrigação dos políticos poloneses.”

“Ninguém se recusa a ajudar a Ucrânia. Ninguém diz que o criminoso Putin está certo. Ninguém está torcendo pela Rússia”, continuou. “Mas não somos uma subsidiária ou servidora da Ucrânia.”

A Polônia tem sido uma das aliadas mais próximas da Ucrânia desde a invasão da Rússia, tanto no antigo governo do PiS, que governou até o final de 2023, quanto no atual governo liderado pelo PO de Donald Tusk.

No entanto, durante toda a campanha presidencial, Nawrocki apresentou uma linha dura em relação à Ucrânia. Em janeiro, ele declarou que “atualmente não prevê a Ucrânia nem na UE nem na OTAN”, o que provocou críticas de Volodymyr Zelensky .

Ele também prometeu garantir que os cidadãos poloneses sejam tratados melhor em seu próprio país do que os imigrantes, a maioria dos quais são ucranianos.

Mentzen também criticou a Ucrânia e os imigrantes ucranianos na Polônia, enquanto até Trzaskowski promoveu a ideia de restringir benefícios sociais para alguns refugiados ucranianos.

Em declarações à RMF, Bodnar reconheceu que “há muitos estereótipos [sobre os ucranianos na Polónia] que não têm qualquer fundamento”. Ele disse que é “nosso trabalho combater esses mitos” e mostrar que “os ucranianos na Polônia são um valor agregado para a economia polonesa”.

Um relatório do Banco Nacional de Desenvolvimento da Polônia (BGK) no início deste ano descobriu que os ucranianos contribuem mais em impostos e previdência social do que recebem em benefícios estatais.

Crédito da imagem principal: Dawid Zuchowicz / Agencja Wyborcza.pl