A estrela polonesa não aguentou. "Você está nos transformando em bucha de canhão"
Pyciak-Peciak praticou pentatlo moderno. Como parte da seleção polonesa, ele se tornou campeão olímpico em Montreal em 1976 e, um ano depois, ganhou sua primeira medalha de ouro no Campeonato Mundial. Ele foi repetidamente selecionado como um dos dez melhores atletas poloneses no plebiscito "Przegląd Sportowy". Ele ficou em primeiro lugar duas vezes: em 1977 e 1981.
Ouro olímpico após oito anos de treinamentoO campeão olímpico nasceu em 1949 em Varsóvia. A certidão de nascimento diz "Janusz Gerard Pyciak vel Peciak". Em uma entrevista de 2019 à Onet, ele explicou o formato incomum do nome. "Meu pai foi trabalhar na França e a Segunda Guerra Mundial o pegou lá. Ele ficou ferido e o sangue manchou tanto os documentos que não conseguiram ler seu nome no hospital", relembrou Peciak em entrevista à Onet. Seu pai, Stefan, lutou no Exército Nacional sob o pseudônimo "Szary" e, depois da guerra, não conseguiu alterar documentos com grafia incorreta, o que afetou o sobrenome do filho. Somente anos depois Janusz retornou ao seu sobrenome original, Peciak.
O pequeno Janusz cresceu em condições difíceis, passando a infância nas ruínas da Varsóvia do pós-guerra. Ele começou a treinar para o pentatlo moderno, uma disciplina que exige versatilidade: equitação, esgrima, tiro, natação e corrida. Após apenas oito anos de treinamento, em 1976 ele ganhou a medalha de ouro olímpica em Montreal, derrotando os melhores atletas do mundo.
Peciak participou dos Jogos Olímpicos três vezes: em Munique (1972), onde um incidente de tiro infeliz (uma pistola emperrada) o privou de qualquer chance de medalha, em Montreal (1976), onde ganhou o ouro individual, e em Moscou (1980), onde ficou em 6º lugar individualmente e a equipe ficou em quarto. Ele também foi cinco vezes campeão mundial (1977, 1978, 1981 – individual e por equipe) e oito vezes campeão polonês (1974–1977, 1980–1983).
Peciak protestou bravamente contra a decisão de boicotar os Jogos de Los Angeles. "Você está nos transformando em bucha de canhão"Ele planejava encerrar sua carreira competindo nos Jogos Olímpicos de Los Angeles. A decisão das autoridades da República Popular da Polônia de boicotar o evento frustrou seus planos. O boicote foi a resposta do Bloco Oriental ao boicote dos Jogos de Moscou de 1980 pelos Estados Unidos e outros países ocidentais, que protestavam contra a invasão soviética do Afeganistão. Como aconteceu com a maioria das decisões importantes tomadas pelas autoridades da República Popular da Polônia, a decisão sobre o boicote foi tomada no Kremlin.
Em 17 de maio de 1984, uma reunião foi realizada na sede do Comitê Olímpico Polonês, na Rua Frascati, em Varsóvia, para a qual foram convidados os principais atletas e treinadores poloneses, incluindo: Irena Szewińska, Bogusław Mamiński e Grzegorz Skrzecz. "Imaginamos que eles nos reuniram para dizer que a Polônia boicotaria os Jogos Olímpicos de Los Angeles. Mas quando vimos os camaradas soviéticos, tivemos quase certeza", lembrou Peciak em entrevista ao Sport.pl. A presença de Marat Gramov, chefe do Comitê Olímpico Soviético, confirmou que a decisão havia sido imposta por Moscou.
Quando a decisão foi oficialmente anunciada, Pycia foi a única que teve coragem de protestar publicamente. "Eu disse: 'Vocês estão nos usando como bucha de canhão, estão resolvendo seus problemas políticos conosco'", disse ele em entrevista ao Sport.pl. Ele argumentou que os atletas passaram anos se preparando e que a decisão política os estava privando da chance de competir. "A arte é ir aos Jogos Olímpicos e lutar em condições difíceis", argumentou.
Sua posição foi apoiada por Irena Szewińska, que, como esportista, entendia o drama dos jogadores. "Ela disse que também era atleta e me entendia porque sabia como era passar tantos anos se preparando e, de repente, alguém tirava sua chance de competir."
O protesto de Peciak foi um ato de coragem na realidade da República Popular da Polônia, onde a oposição às autoridades pode ter consequências sérias. "Arrisquei muito. Treinei no Legia Varsóvia, e era um clube militar, então eu poderia ter levado ainda mais chutes na orelha", admitiu em entrevista ao "Przegląd Sportowy". Sua declaração foi transmitida por emissoras americanas, incluindo: NBC, o que causou reações na Polônia. "Pouco depois, recebi algumas ligações de meus compatriotas nos EUA. Perguntaram se eu já tinha sido preso", lembrou ele com um sorriso. Apesar da pressão das autoridades militares e do Ministério do Esporte, Peciak não cedeu, embora não tenha mudado a decisão do Comitê Olímpico Polonês.
Jogadores como Władysław Kozakiewicz e as equipes de vôlei e handebol perderam a chance de ganhar medalhas. Os países do Bloco Oriental organizaram competições alternativas, "Amizade-84", mas elas eram apenas um substituto para a competição olímpica.
A oposição de Peciak não passou despercebida. Embora não tenha mudado a decisão das autoridades, ele mostrou que mesmo nas realidades da República Popular da Polônia é possível expressar a própria opinião. Um ano após o boicote, em 1985, Peciak emigrou para os EUA, onde continuou sua carreira de treinador. – A condição era que eu pagasse US$ 1.500 por mês. ao Ministério do Esporte. Era muito dinheiro, o salário médio na Polônia era de US$ 40. – ele admitiu. Isso significava que a cada mês ele enviava para casa o equivalente a três anos de salário médio na Polônia.
Peciak se estabeleceu em Denver. Lá, ele dirigiu uma escola de esgrima e treinou a equipe americana de pentatlos, incluindo: Margaux Isaksen. Ele também trabalhou com o time de espada, e seus jogadores ganharam medalhas em campeonatos mundiais. Em 2021, ele se tornou presidente da Associação Polonesa de Pentatlo Moderno.
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