Para os jogadores da Inter foi um confronto. Com habilidades motoras, força, técnica, plano dos oponentes. Os técnicos do Paris Saint-Germain temiam, antes da final da Liga dos Campeões em Munique, que seus jovens jogadores não conseguissem lidar com a pressão de um confronto que decidiria quem ganharia o troféu, mas não precisavam ter sido assim. O segundo time mais jovem na competição europeia Top 5 (de acordo com pesquisa do instituto CIES) arrasou seus adversários de Milão e é difícil encontrar uma descrição melhor do que o que aconteceu na Allianz Arena. 5 a 0 ainda é o pênalti menos severo, e mesmo assim ninguém jamais venceu uma final da Liga dos Campeões (e antes a Copa dos Campeões Europeus) por tantos gols. O mundo nunca viu tamanho abismo entre as equipes que disputam a taça de clubes mais importante do Velho Continente.
Durante três dias, Munique foi tomada por fãs de futebol. É verdade que a Neues Rathaus (Nova Prefeitura), um dos edifícios mais representativos da cidade, tinha bandeiras da região e do país penduradas, mas bem em frente a ela, na praça central da Marienplatz, enormes flâmulas anunciando a final da Liga dos Campeões já estavam tremulando, e na parte inferior havia uma gigantesca imitação da bola preparada para esta partida. Simplesmente não havia dúvidas sobre quem estava governando a capital da Baviera neste fim de semana.
Ainda mais porque, além disso, havia torcedores com as cores do PSG e da Inter por toda Munique, e havia milhares deles nas ruas da Cidade Velha. Os torcedores nerazzurri pareciam ter uma vantagem clara, mas talvez isso acontecesse porque eles eram muito mais barulhentos. Eles cantavam, gritavam e provocavam. Sem nenhum constrangimento.
– Força Inter! – gritou alguém de um carro em movimento para um garçom de um restaurante italiano, o que significa "vai, Inter".
– Sempre! – ele respondeu, o que significa simplesmente "sempre".
Nesse contexto, os fãs da banda de Paris pareciam pálidos, mas claramente esperavam pela noite, porque na Allianz Arena eles eram definitivamente os mais barulhentos. Aliás, é de se perguntar se as autoridades da cidade e a UEFA não tinham a mínima ideia de como a competição em campo se desenrolaria. Por que? Bem, a Odeonsplatz foi designada como ponto de encontro dos fãs da Inter, mas não havia possibilidade de assistir à final juntos lá, mas na zona da Königsplatz – destinada aos fãs do PSG – era possível. Como se esperassem que os tifosi nerazzurri não tivessem nada para olhar de qualquer maneira…
De qualquer forma, na verdade não o fizeram. Na verdade, a Inter não podia, nem por um momento, se iludir de que conseguiria não perder naquele dia, muito menos vencer. O PSG esmagou seus oponentes em termos de gols esperados (3,12 a 0,49, por Opta), passes decisivos (19 a 6), passes no terço de ataque (129 a 65) e grandes chances (8 a 1, por Sofascore). O time de Paris chegou mais perto de marcar mais gols do que o time de Milão chegou mais perto de marcar o gol de consolação.
– Parabéns ao PSG. Eles eram mais fortes em todos os aspectos, admitiu um triste Nicolo Barella.
O jogador de 28 anos era um dos mais jovens da escalação titular do time perdedor, que incluía: Francesco Acerbi, de 37 anos, Yann Sommer, de 36 anos, Henrikh Mkhitaryan e Hakan Calhanoglu, de 31 anos. A média de idade dos titulares dos nerazzurri era de 30 anos e 242 dias, a terceira maior na história das finais da Liga dos Campeões, mas foi a primeira vez na história que três jogadores com mais de 35 anos começaram uma partida desse tipo. Isso contrastava fortemente com o jovem PSG, que escalou o time titular mais jovem do século XXI (25 anos e 96 dias) e – infelizmente, da perspectiva italiana – a diferença era visível. O nível de intensidade que a equipe do técnico Luis Enrique alcançou em Munique foi simplesmente demais para os vice-campeões italianos. Tudo estava acontecendo rápido demais e demais para os jogadores experientes (para não mencionar os idosos...) do Milan.
Muitos heróis É difícil não considerar simbólico que um dos heróis seja Desire Doue, de apenas 19 anos, que representa o que falta na Inter. Primeiro, a juventude. Basta dizer que, pelos nerazzurri, seu colega Luka Topalović jogou… sete minutos durante toda a temporada, e ele é o único jogador nascido em 2006 ou depois com alguma conquista no time de Simone Inzaghi. Nada mais, não havia a mínima possibilidade de aparecer no time titular.
Em segundo lugar, seu dinamismo e capacidade de drible, que o francês explorou tão implacavelmente que o representante italiano Federico Dimarco foi substituído logo após o início do segundo tempo. Não é à toa que o ponta, com dois gols e um passe final, foi eleito o melhor jogador do torneio, sendo que na era da Liga dos Campeões (desde 1992) apenas outros dois adolescentes marcaram na final: Patrick Kluivert pelo Ajax em 1995 e Carlos Alberto pelo FC Porto em 2004.
Doue é apenas um dos heróis, porque o PSG fez um ótimo trabalho como time, na verdade todos mereciam elogios, então é preciso elogiar aquele que criou o time em Paris: Luis Enrique. O espanhol fez o que os donos do clube sonhavam e venceu a Liga dos Campeões, mas do seu jeito. Sem grandes estrelas como Neymar ou Lionel Messi, mas com jovens sedentos de sucesso.
Após a final, o treinador caminhou pelo campo vestindo uma camiseta preta com estampas brancas mostrando ele e sua filha Xana, que morreu tragicamente de um raro câncer ósseo, fincando uma bandeira do PSG no gramado. Foi o que fizeram quando Luis Enrique triunfou na Liga dos Campeões com o FC Barcelona em 2015, obviamente com a bandeira do Orgulho da Catalunha. Os torcedores do Paris prepararam a mesma cena na bandeira, só que na versão deles foi o treinador quem fincou a bandeira. Luis Enrique parecia comovido. Como ele disse, Xana estava com ele na Allianz Arena em espírito. Nesse sentido, eles triunfaram juntos novamente.