BCP aumenta lucros em 5,9% para 906 milhões
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O BCP reportou um resultado líquido de 906,4 milhões de euros no conjunto do ano de 2024, valor que representa um aumento de 5,9% em relação aos lucros de 856 milhões que tinham sido registados no ano anterior. O crescimento é explicado pela evolução positiva da actividade em Portugal e na Polónia, com aumentos tanto do lado do crédito como dos depósitos, e pela redução de imparidades e provisões para cobrir potenciais incumprimentos no crédito.
Os resultados foram reportados, nesta quarta-feira, em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM). "O crescimento do resultado líquido do grupo face ao ano anterior foi determinado pelo desempenho favorável quer da actividade em Portugal, quer da subsidiária polaca, sendo que os resultados apresentados pelo Millennium Bim em Moçambique se revelaram inferiores aos alcançados em 2023, condicionados pelos impactos decorrentes da situação económico-financeira que o país atravessa, nomeadamente pela descida da notação [financeira] da dívida soberana", pode ler-se no comunicado.
O crescimento registado em 2024 fica, ainda assim, muito aquém daquele que havia sido alcançado em 2023, quando o BCP mais do que quadruplicou os lucros. Esses resultados tinham sido influenciados pelo ganho extraordinário associado à venda, por parte da subsidiária polaca do BCP, de uma parte da Millennium Financial Services, um factor que já não se verificou em 2024.
Miguel Maya considera, assim, que o BCP alcançou "bons" resultados no ano passado. "Não foram nem excepcionais, nem especiais, mas bons, reflectindo as alterações feitas pelo banco, durante vários anos, ao nível da qualidade dos portefólios de crédito e da transição digital", disse o presidente executivo do BCP, em conferência de imprensa.
A justificar este resultado está, sobretudo, a actividade comercial do banco, num ano em que tanto o crédito como os depósitos registaram crescimento e contribuíram para o aumento das receitas obtidas por via de comissões.
A carteira de crédito total do aumentou em 0,7% e totalizou 57.203 milhões de euros no final de 2024, variação que fica a dever-se exclusivamente ao segmento de particulares, que aumentou em 3,9%. Considerando apenas o crédito à habitação, a carteira aumentou em 2,7% e totalizou 28.734 milhões de euros. Já a carteira de crédito a empresas reduziu-se em 4,5%.
Ainda no que diz respeito ao crédito, o banco viu a qualidade da carteira melhorar, com o rácio de crédito malparado (que, no caso do BCP, é medido através do indicador non-performing exposures, ou exposições não produtivas) a cair de 2,2% no final de 2023 para 1,9% em 2024. Considerando apenas a actividade em Portugal, este rácio caiu de 2% para 1,7%.
Quanto aos recursos de clientes, o banco viu os depósitos aumentarem em 7,8%, ascendendo a 84.042 milhões de euros. Também os activos sob gestão registaram um crescimento significativo, de 9,8%, totalizando 6.108 milhões de euros. Considerando todos os indicadores, os recursos totais de clientes ascenderam a 102.938 milhões de euros em 2024, um aumento de 8% em relação ao ano anterior.
As comissões líquidas totalizaram, assim, 808,5 milhões de euros, um crescimento anual de 4,8% que o BCP justifica com o "desempenho favorável" da actividade em Portugal e internacional. "Em termos consolidados, o desempenho favorável das comissões líquidas decorreu do crescimento quer das comissões bancárias, que ascenderam a 684,1 milhões de euros (...), quer das comissões relacionadas com os mercados financeiros, que totalizaram 124,5 milhões de euros", explica o banco em comunicado.
Margem financeira cai em PortugalJá do lado operacional, o BCP registou várias quedas, incluindo na margem financeira (indicador que mede a diferença entre os juros cobrados no crédito e os juros pagos nos depósitos), que, em 2023, tinha sido a principal responsável pelo crescimento acentuado dos lucros deste banco.
Em 2024, a margem financeira do BCP ascendeu a cerca 2830 milhões de euros, mantendo-se em linha com o ano anterior (houve um aumento de apenas 0,2%). Este desempenho foi conseguido apesar da "redução registada na actividade em Portugal", que foi "compensada pelo aumento observado na actividade internacional".
Considerando apenas a actividade doméstica, a margem financeira caiu 9% e fixou-se em 1335 milhões de euros, resultado que "reflecte, acima de tudo, o aumento dos custos de [financiamento], parcialmente compensado pelo maior rendimento gerado tanto pela carteira de crédito a clientes, como pela carteira de títulos", explica o banco, sublinhando que houve um "aumento dos custos associados à remuneração da carteira de depósitos, decorrente, sobretudo, da evolução das taxas de juro no último ano".
Ainda do lado operacional, os resultados em operações financeiras caíram de forma acentuada, de 146,4 milhões para cinco milhões, evolução explicada pelos ganhos que tinham sido obtidos pela subsidiária polaca em 2023 com a venda da Millenniu Financial Services e que não se repetiram em 2024. Já os custos operacionais aumentaram em 12,4% e totalizaram 1307 milhões de euros, o que "reflecte maioritariamente o desempenho da actividade internacional, nomeadamente da subsidiária polaca".
O produto bancário acabou, assim, por cair em 5,2% e fixar-se em 3574 milhões de euros em 2024.
Quanto à liquidez e solvabilidade, o BCP fechou 2024 com um rácio de common equity tier 1 de 16,3%, acima do rácio de 15,4% que tinha sido registado no ano anterior e do requisito regulamentar de 9,7% que tinha sido definido para esse ano.
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