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BdP. o Álvaro é o governador que se segue

BdP. o Álvaro é o governador que se segue

Depois de grande suspense foi conhecido o nome do próximo governador do Banco de Portugal. Álvaro Santos Pereira vai substituir Mário Centeno que terminou o mandato na passada sexta-feira e que, apesar sua disponibilidade para ser reconduzido no cargo, nunca esteve na lista de Luís Montenegro para continuar a liderar o órgão regulador. Centeno teve a passagem pelo cargo de governador mais reduzida dos últimos 30 anos. «Esta é a nossa escolha, é a nossa proposta para o país», afirmou o ministro da Presidência António Leitão Amaro, acenando com a independência de Álvaro Santos Pereira. «Não vem nem de dentro do banco nem do Governo, é independente. É com muito mérito, pessoal e do seu talento, um economista altamente reconhecido», disse.

O governante justificou ainda a escolha como sendo «sangue novo», chamando ainda a atenção para o facto de ter um «profundo conhecedor da economia nacional e internacional» e de ter uma «voz reputada internacionalmente».

Um argumento que tem eco junto do economista João César das Neves. «Trata-se de um bom economista, para mais com experiência académica, governativa e internacional», refere ao Nascer do SOL. E apesar de reconhecer que não tem experiência na política monetária ou no sistema bancário, admite que «é um homem prudente e sensato e tem capacidades para ser certamente um bom governador».

Também para o economista António Mendonça, Santos Pereira, «é uma pessoa que tem um currículo académico, tem experiência política» e, ao nosso jornal, confessa que espera que faça o seu trabalho «porque os tempos vão ser difíceis». E não hesita: «A situação atual é particularmente difícil, em que seguramente todas as pessoas vão ser postas à prova. Todos, não apenas em Portugal, mas na Europa, no seu conjunto e não só, mas acredito que terá todas as capacidades para exercer o cargo».

Mas esta escolha está longe de gerar consensos. Fontes ouvidas pelo Nascer do SOL referem que «se trata da pessoa menos qualificada» para assumir este cargo tendo em conta os nomes que estavam em cima da mesa, nomeadamente Vítor Gaspar e Ricardo Reis.

Quem é Santos Pereira

O até agora economista chefe da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) foi ministro da Economia do Governo de Passos Coelho, entre 2011 e 2013, regressando agora a Portugal para liderar o banco central com um mandato que tem a duração de cinco anos. Antes de ser aprovado em Conselho de Ministros, o novo governador terá de ser ouvido na Comissão de Orçamento, Finanças e Administração Pública. É certo que o parecer do Parlamento não é vinculativo, mas é obrigatório, o que poderá atrasar o processo, uma vez que, os trabalhos parlamentares ficam parados no período de férias.

Só estão previstas reuniões de comissões a partir do início de setembro, o que pode fazer com que o atual governador ainda participe na próxima reunião do Banco Central Europeu, a 10 e 11 desse mês. «Até lá, o professor Mário Centeno estará com funções normais de representação do Banco de Portugal, exercerá a sua função e o Banco de Portugal estará naturalmente numa situação de tranquilidade institucional», disse Leitão Amaro.

Anteriormente, Santos Pereira foi docente na Universidade Simon Fraser (Canadá), na Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá) e na Universidade de York (Reino Unido). É doutorado em Economia pela Universidade Simon Fraser, Burnaby (Canadá), mestre em Economia pela Universidade de Exeter (Reino Unido) e licenciado em Economia pela Universidade de Coimbra.

A sua curta passagem pelo Governo foi marcada por vários momentos de informalidade como pedir para o chamarem de Álvaro, referindo que no anglo-saxónico todos são tratados pelo primeiro nome. Ficou conhecido pelo repto para a internacionalização do pastel de nata com vista a aumentar as exportações. Nessa altura, defendeu que poderiam atingir o patamar de vendas dos hambúrgueres. Também polémica foi a apresentação de uma medida no Parlamento para acabar com os carros e com os motoristas nos organismos e empresas públicas.

Desde cedo foi considerado o elo mais fraco e remodelável, mas conquistou uma grande vitória ao conseguir assinar um acordo de concertação social com a UGT e os patrões. Santos Pereira acabou por ser substituído por António Pires de Lima, num esforço de Passos Coelho para manter estabilidade governativa.

Inúmeros desafios

Álvaro Santos Pereira não tem uma tarefa fácil, como já admitiram os economistas ouvidos pelo nosso jornal ao considerarem que «os desafios são inúmeros num panorama internacional marcado por uma elevada incerteza, ditada pelas tensões geopolíticas globais».

De acordo com o economista sénior do Banco Carregosa, Paulo Rosa, o Banco de Portugal «deverá reforçar ainda mais a resiliência do setor bancário face a choques externos, sejam eles de natureza geopolítica, energética ou tecnológica. Paralelamente, será crucial adaptar a supervisão bancária à transformação digital e ao crescente peso das fintechs e dos criptoativos no quotidiano, assegurando que a inovação financeira não compromete a segurança e a estabilidade do sistema. Além disso, será fundamental reforçar a credibilidade e a independência do Banco de Portugal, garantindo uma comunicação eficaz e defendendo os interesses nacionais no contexto da união bancária e monetária europeia».

E reconhece que os bancos centrais tenderão a assumir um papel ainda mais central na gestão dos riscos sistémicos, face a um clima económico instável marcado por duas guerras, e na preservação da estabilidade financeira. «Embora a sua missão principal, a estabilidade de preços, se mantenha, poderão ser forçados a ‘mudar de rumo’ em determinadas áreas, adotando políticas mais flexíveis que conciliem o combate à inflação com o apoio ao crescimento económico e ao reforço da resiliência do sistema financeiro», diz, admitindo que os órgãos reguladores terão de reforçar a coordenação com os governos para lidar com choques externos – energéticos, tecnológicos e militares – para garantir que a política monetária não conflitua com as necessidades de segurança económica e social.

Já o analista da XTB, Henrique Tomé, afirma que o papel do governador do Banco de Portugal tem vindo a perder relevância «em parte devido a falhas e à falta de transparência perante a população», referindo ainda que, «os seus poderes em matéria de política monetária são bastante limitados, uma vez que as principais decisões são tomadas pelo Banco Central Europeu». Mas deixa um alerta: «Com a economia a dar sinais de aceleração, a inflação a recuar e as taxas de juro a descer, os desafios que aguardam o próximo governador parecem, à partida, menos exigentes do que os dos seus antecessores». Defende que o próximo governador deva ser «uma pessoa totalmente transparente e capaz de comunicar», acrescentando que «é fundamental que consiga explicar, de forma clara, previsões sobre as taxas de juro, a inflação, a evolução dos salários e as alterações no poder de compra – fatores cruciais para que os cidadãos possam tomar decisões económicas informadas».

Jornal Sol

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