De olho em 2026, PSD reforça aliança com Tarcísio em meio à ameaça de abandonar Lula

Liderado nacionalmente por Gilberto Kassab, o PSD ampliou a movimentação para reforçar sua aliança com o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos). Essa estratégia acontece em meio ao derretimento da popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e ao descontentamento da bancada com o governo petista.
Kassab é o atual secretário de governo de São Paulo e um dos principais entusiastas da candidatura de Tarcísio à Presidência em 2026. O cacique do PSD, inclusive, tem se aproximado de Jair Bolsonaro (PL) na estratégia de tentar construir uma candidatura no campo da direita para fazer frente à reeleição de Lula.
O ex-presidente está inelegível até 2030 por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e os seus aliados pressionam por uma definição de apoio até o final deste ano no intuito de viabilizar outro nome da direita. Até o momento, Tarcísio se coloca como candidato à reeleição ao governo paulista e defendeu que só mudará de planos caso tenha o aval de Bolsonaro.
Ao lado de Tarcísio na semana passada, Bolsonaro disse que espera "estar no tabuleiro político" nas eleições do ano que vem. Apesar disso, o ex-presidente aproveitou para elogiar o governador de São Paulo.
"Ele [Tarcísio] sentiu o gostinho da política e não sai mais. Tem um grande futuro pela frente, é um baita de um gestor. Na política, já aprendeu 95% das coisas. Tarcísio, vou dar umas aulas para você, se é que não pegou tudo do Kassab". disse o ex-presidente.
Nessa estratégia, Kassab tem atuado como principal articulador para tentar destravar o apoio de Bolsonaro ao nome de Tarcísio. A expectativa entre líderes do PSD é de que o partido de Kassab esteja formalmente na coligação que está sendo costurada pelo PL para 2026.
"Quero cumprimentar aqui o Kassab, presidente do maior partido do país, depois do PL. Não é só o PL, não. O PSD tem gente boa, o PR [Republicanos], tanta gente”, acenou Bolsonaro durante evento em São Paulo.
PSD estampa rosto de Tarcísio na propaganda partidáriaEnquanto trabalha para viabilizar o apoio de Bolsonaro ao nome de Tarcísio em 2026, Kassab usou as inserções do PSD na propaganda partidária na televisão para reforçar a aliança com o governador paulista. Das sete peças, que irão ao ar até 27 de junho, cinco citam diretamente o chefe do Executivo estadual.
“Juntos, o governador Tarcísio de Freitas e o PSD estão dando um novo impulso ao desenvolvimento de São Paulo. São centenas de ações, obras e programas acontecendo agora mesmo, preparando um futuro de ainda maior desenvolvimento”, diz um dos comerciais.
Os vídeos mostram Tarcísio em obras, inaugurações e eventos políticos. “Governo de São Paulo e PSD, uma parceria que leva São Paulo adiante”, afirma a narradora no encerramento de alguns dos vídeos.
Recentemente, Kassab ressaltou que seu partido apoiará Tarcísio em uma eventual disputa presidencial, e que a centro-direita “não lança nenhum outro nome” caso o governador paulista entre oficialmente na disputa. Até o momento, o PSD conta com duas pré-candidaturas lançadas por parte dos governadores Ratinho Júnior, do Paraná, e Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul.
"O partido tem um bom encaminhamento: todos sabem que o governador Tarcísio é candidato à reeleição, se ele não for [e concorrer ao Planalto], terá apoio do PSD. E o PSD tem o governador Ratinho em pré-campanha há muito tempo. Mais recentemente, o governador Eduardo Leite também se tornou pré-candidato", disse Kassab durante evento em São Paulo.
Além do apoio do PSD ao nome de Tarcísio à presidência, Kassab já flertou com uma candidatura dele mesmo ao governo de São Paulo como sucessor do atual governador. Essa movimentação, no entanto, também dependeria de um acordo com o partido do ex-presidente Jair Bolsonaro no estado.
Partido de Kassab vive relação conturbada com o governo LulaEnquanto a cúpula do PSD reforça sua aliança com Tarcísio de Freitas, a bancada do partido de Kassab passa por um desgaste na relação com o governo Lula. A sigla, que tem 45 deputados e 14 senadores, conta com ao menos três ministérios na gestão do PT.
O principal descontentamento acontece entre os deputados, que chegaram a cobrar mais espaço na Esplanada dos Ministérios, mas a demanda não foi atendida pelo Planalto. A bancada da Câmara foi responsável pela indicação de André de Paula para o Ministério da Pesca, pasta considerada de baixa capilaridade pelos parlamentares.
O principal recado contra o governo foi dado nesta segunda-feira (16), quando o partido fechou questão para votar pela urgência no projeto que pede a derrubada do decreto de Lula sobre o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Ao todo, 40 deputados votaram pela aprovação e apenas 5 mantiveram apoio ao governo.
"Nós fizemos uma reunião com a bancada do PSD, na qual discutimos a importância do debate deste PDL [Projeto de Decreto Legislativo]. Nos estatutos do nosso partido, nós temos uma posição contrária a qualquer aumento de impostos. A bancada fez sua avaliação, fruto de um amplo debate. Nós resolvemos, por quase unanimidade da bancada, votar sim à urgência deste PDL", anunciou o líder do PSD na Câmara, Antônio Brito (BA), durante a votação em plenário.
Nos bastidores, deputados admitem que o cenário dentro da bancada é de muita insatisfação com o governo. Questionados sobre a possibilidade de o PSD apoiar Tarcísio de Freitas em 2026, esses parlamentares avaliam que o cenário para o governador pode ser bem mais favorável diante da queda de popularidade de Lula.
Pesquisa Datafolha, divulgada no último dia 12, apontou que 40% do eleitorado reprova o governo petista. Esse é o maior índice da rejeição de Lula desde o início do seu terceiro mandato. O instituto ouviu 2.004 pessoas com 16 anos ou mais em 136 municípios brasileiros entre os dias 10 e 11 de junho. A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
gazetadopovo