Diretor da base do Flamengo usa estereótipo sobre africanos e pede desculpa

"Essa questão é bem problemática, porque atualiza a ideia da época da escravidão em que os pretos eram vistos como privilegiados fisicamente justamente para trabalhar mais duro e não para pensar, assim como os animais. A exploração da força de trabalho era justificada também por isso. Do outro lado, a premissa se reafirma. Os cargos que precisam de habilidades intelectuais são destinados aos brancos: presidentes, diretores, treinadores, os camisas 10", escreveu a psicóloga Fernanda Lima, em um texto reproduzido em 2020 no site do Observatório, originalmente publicado no site Peleja.
O dirigente do Flamengo, posteriormente, pediu desculpas pela fala. Alfredo é português e chegou ao Flamengo no começo da temporada.
A resposta completa de Alfredo na coletivaO que o atleta brasileiro tem, talvez não tenha em nenhuma parte do mundo. O dom, a magia, irreverência, a bola fazendo parte do corpo. Depois, existem outras zonas do globo que têm outras valências. A África tem valências físicas como quase nenhuma parte do mundo. A parte mental, temos que ir a outras zonas da Europa e do globo.
"Há uma realidade do Brasil que pensaram que o europeu vinha ao Brasil comprar força, atletas altos, grande, fortões. Se formos a realidade do Brasil, existe regra e exceção. Exceção era o Ronaldo da vida, que tinha tudo. Mas a regra é termos os Neymares da vida, jogadores franzinos, mas que a bola faz parte do corpo, que descobrem soluções em campo como ninguém. Que conseguem passar por armadores físicos. E os brasileiros passaram a dar ênfase à forma física, a querer jogadores muito fortes, rápidos. Pulsantes".
"A Europa não pede isso do brasileiro, pede o que não tem lá, a magia. Muitas vezes, ao trabalhar aos 12, 13, 14 numa academia, me perdoem a expressão, para mim é até crime. Não só estamos a prejudicar o que ele tem de bom, estamos a tirar a magia. O mundo mudou mais nos últimos 10 anos do que nos últimos 50 anos. Hoje se um menino de 14 anos se tirar uma selfie na frente do espelho cheio de volume para o Instagram vai ter muitos seguidores. Esse menino, se não tivesse esse volume, teria mais agilidade, ia para cima dos adversários, com rapidez. Aquele atleta brasileiro que nos habituamos a ver. Deixou-se de fazer isso para transformar meninos, adolescentes em robôs nas academia. Isso que o Boto quis explicar. A Europa não vem procurar isso no Brasil, veio procurar talento, magia. Não pago ingresso para ver um fortão e grandão, mas para ver algo diferente. Queremos resgatar isso e podemos ser pioneiro nisso no maior clube no Brasil".
uol