«Falha gritante das políticas públicas em potenciar os modos suaves»

Paulo Batista, investigador do Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território da Universidade de Aveiro, está envolvido num projeto internacional relacionado com a mobilidade urbana em bicicleta. «Todo o processo de desenvolvimento urbano dos últimos 50 anos foi orientado quase exclusivamente para o automóvel», avisa.
Diário de Aveiro: Está envolvido, como representante da UA, no projeto “Empowering urban cyclists through citizen science”. Em que consiste?
Paulo Batista: O projeto surge com o objetivo principal de estudar as dificuldades enfrentadas pelos utilizadores de bicicleta em ambiente urbano. Neste projeto procuramos, do ponto de vista científico, tipificar os problemas sentidos pelos ciclistas num conjunto de cidades europeias, bem como analisar as ocorrências por forma a identificar características sociais, económicas e territoriais que possam explicar os padrões geográficos identificados. A adoção de uma abordagem de ciência cidadã surge ancorada na ideia de que o cidadão utilizador de bicicleta é um ator central nesta investigação, quer pelo seu interesse direto no tema quer pelo conhecimento empírico que acumula, que importa mobilizar para a investigação científica. Assim, este projeto foi implementado, em todas as suas fases, com processos de co-produção de conhecimento científico que tornam o trabalho científico mais robusto ao mesmo tempo que suporta o empoderamento dos cidadãos para uma participação mais ativa e fundamentada nos processos de formulação de políticas públicas e no diálogo com os responsáveis pela gestão urbana.
Quais os principais resultados e conclusões desse projeto?
Ainda que o projeto apenas tenha concluído a primeira fase (co-criação para tipificação de problemas, funcionalidades de recolha de dados, entre outros), tendo o trabalho de campo dados limitados (em particular para Aveiro/Portugal) foi possível identificar alguns elementos em linha com a literatura científica, isto é: cidades com comunidades reduzidas de utilizadores de bicicleta reportam dificuldades maioritariamente relacionadas com as condições da infra-estrutura e os conflitos com outros modos de deslocação, conflitos estes muitas vezes associados a situações de segurança; por outro lado, em cidades onde a adesão à mobilidade ciclável se encontra mais desenvolvida, os problemas principais relacionam-se com o roubo e as soluções de compatibilização/gestão dos fluxos de utilizadores, por exemplo a disponibilidade de pontos de parqueamento, gestão com diferentes modos de transporte. Ainda assim, estas conclusões carecem de uma análise mais aprofundada nas próximas fases, estando a equipa científica à procura de novas oportunidades de financiamento. Da fase inicial destaca-se a experiência do processo de co-criação, o qual nos trouxe importantes lições para o futuro. Destaco talvez o papel destas iniciativas para potenciar o alinhamento entre a comunidade de ciclistas, os decisores e a comunidade científica, alinhamento este que é bem mais desafiante e consumidor de tempo e recursos do que aquilo que inicialmente poderíamos pensar.
No âmbito do projeto foi desenvolvida a aplicação BiciZen, uma plataforma aberta e colaborativa que recolhe dados sobre experiências quotidianas de ciclismo. Qual a utilidade dessa app?
A BiciZen foi desenvolvida com o objetivo de suportar, em primeiro lugar, um processo de recolha e partilha aberta de dados entre a comunidade de utilizadores de bicicleta e entre estes e a comunidade científica. A equipa de investigação estava particularmente interessada em estudar as dificuldades e barreiras associadas à adoção da bicicleta como solução de mobilidade. No entanto, ao longo do processo de co-criação, a BiciZen foi alargando o seu âmbito procurando integrar funcionalidades que contribuíssem para aprofundar o sentido de comunidade. Destaco as possibilidades de partilhar experiências positivas (como por exemplo indicar percursos, soluções de infra-estrutura ou outros elementos com particular interesse para serem replicados) ou iniciativas de mobilidade em grupo – desde combinar deslocações regulares em grupo casa–trabalho/escola–casa até eventos ocasionais/comemorativos. No entanto, é a recolha e agregação de dados que constituem um elemento fundamental desta aplicação. Os dados, desde sempre, mas cada vez mais no futuro, estão na base de produção de conhecimento, de criação de riqueza e de desenvolvimento social. A sua transformação em conhecimento suporta o empoderamento dos ciclistas nas suas intervenções cívicas. São, além do mais, uma matéria-prima fundamental para a comunidade científica. A abordagem de ciência cidadã que implementamos procurou criar esta aliança de vontades, aproximando as comunidades de ciclista e de investigadores, ao mesmo tempo que tal aproximação também potencia a disseminação de conhecimento de forma mais eficaz.
Paulo Batista, investigador do Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território da Universidade de Aveiro, está envolvido num projeto internacional relacionado com a mobilidade urbana em bicicleta. «Todo o processo de desenvolvimento urbano dos últimos 50 anos foi orientado quase exclusivamente para o automóvel», avisa.
Diário de Aveiro: Está envolvido, como representante da UA, no projeto “Empowering urban cyclists through citizen science”. Em que consiste?
Paulo Batista: O projeto surge com o objetivo principal de estudar as dificuldades enfrentadas pelos utilizadores de bicicleta em ambiente urbano. Neste projeto procuramos, do ponto de vista científico, tipificar os problemas sentidos pelos ciclistas num conjunto de cidades europeias, bem como analisar as ocorrências por forma a identificar características sociais, económicas e territoriais que possam explicar os padrões geográficos identificados. A adoção de uma abordagem de ciência cidadã surge ancorada na ideia de que o cidadão utilizador de bicicleta é um ator central nesta investigação, quer pelo seu interesse direto no tema quer pelo conhecimento empírico que acumula, que importa mobilizar para a investigação científica. Assim, este projeto foi implementado, em todas as suas fases, com processos de co-produção de conhecimento científico que tornam o trabalho científico mais robusto ao mesmo tempo que suporta o empoderamento dos cidadãos para uma participação mais ativa e fundamentada nos processos de formulação de políticas públicas e no diálogo com os responsáveis pela gestão urbana.
Quais os principais resultados e conclusões desse projeto?
Ainda que o projeto apenas tenha concluído a primeira fase (co-criação para tipificação de problemas, funcionalidades de recolha de dados, entre outros), tendo o trabalho de campo dados limitados (em particular para Aveiro/Portugal) foi possível identificar alguns elementos em linha com a literatura científica, isto é: cidades com comunidades reduzidas de utilizadores de bicicleta reportam dificuldades maioritariamente relacionadas com as condições da infra-estrutura e os conflitos com outros modos de deslocação, conflitos estes muitas vezes associados a situações de segurança; por outro lado, em cidades onde a adesão à mobilidade ciclável se encontra mais desenvolvida, os problemas principais relacionam-se com o roubo e as soluções de compatibilização/gestão dos fluxos de utilizadores, por exemplo a disponibilidade de pontos de parqueamento, gestão com diferentes modos de transporte. Ainda assim, estas conclusões carecem de uma análise mais aprofundada nas próximas fases, estando a equipa científica à procura de novas oportunidades de financiamento. Da fase inicial destaca-se a experiência do processo de co-criação, o qual nos trouxe importantes lições para o futuro. Destaco talvez o papel destas iniciativas para potenciar o alinhamento entre a comunidade de ciclistas, os decisores e a comunidade científica, alinhamento este que é bem mais desafiante e consumidor de tempo e recursos do que aquilo que inicialmente poderíamos pensar.
No âmbito do projeto foi desenvolvida a aplicação BiciZen, uma plataforma aberta e colaborativa que recolhe dados sobre experiências quotidianas de ciclismo. Qual a utilidade dessa app?
A BiciZen foi desenvolvida com o objetivo de suportar, em primeiro lugar, um processo de recolha e partilha aberta de dados entre a comunidade de utilizadores de bicicleta e entre estes e a comunidade científica. A equipa de investigação estava particularmente interessada em estudar as dificuldades e barreiras associadas à adoção da bicicleta como solução de mobilidade. No entanto, ao longo do processo de co-criação, a BiciZen foi alargando o seu âmbito procurando integrar funcionalidades que contribuíssem para aprofundar o sentido de comunidade. Destaco as possibilidades de partilhar experiências positivas (como por exemplo indicar percursos, soluções de infra-estrutura ou outros elementos com particular interesse para serem replicados) ou iniciativas de mobilidade em grupo – desde combinar deslocações regulares em grupo casa–trabalho/escola–casa até eventos ocasionais/comemorativos. No entanto, é a recolha e agregação de dados que constituem um elemento fundamental desta aplicação. Os dados, desde sempre, mas cada vez mais no futuro, estão na base de produção de conhecimento, de criação de riqueza e de desenvolvimento social. A sua transformação em conhecimento suporta o empoderamento dos ciclistas nas suas intervenções cívicas. São, além do mais, uma matéria-prima fundamental para a comunidade científica. A abordagem de ciência cidadã que implementamos procurou criar esta aliança de vontades, aproximando as comunidades de ciclista e de investigadores, ao mesmo tempo que tal aproximação também potencia a disseminação de conhecimento de forma mais eficaz.
Paulo Batista, investigador do Departamento de Ciências Sociais, Políticas e do Território da Universidade de Aveiro, está envolvido num projeto internacional relacionado com a mobilidade urbana em bicicleta. «Todo o processo de desenvolvimento urbano dos últimos 50 anos foi orientado quase exclusivamente para o automóvel», avisa.
Diário de Aveiro: Está envolvido, como representante da UA, no projeto “Empowering urban cyclists through citizen science”. Em que consiste?
Paulo Batista: O projeto surge com o objetivo principal de estudar as dificuldades enfrentadas pelos utilizadores de bicicleta em ambiente urbano. Neste projeto procuramos, do ponto de vista científico, tipificar os problemas sentidos pelos ciclistas num conjunto de cidades europeias, bem como analisar as ocorrências por forma a identificar características sociais, económicas e territoriais que possam explicar os padrões geográficos identificados. A adoção de uma abordagem de ciência cidadã surge ancorada na ideia de que o cidadão utilizador de bicicleta é um ator central nesta investigação, quer pelo seu interesse direto no tema quer pelo conhecimento empírico que acumula, que importa mobilizar para a investigação científica. Assim, este projeto foi implementado, em todas as suas fases, com processos de co-produção de conhecimento científico que tornam o trabalho científico mais robusto ao mesmo tempo que suporta o empoderamento dos cidadãos para uma participação mais ativa e fundamentada nos processos de formulação de políticas públicas e no diálogo com os responsáveis pela gestão urbana.
Quais os principais resultados e conclusões desse projeto?
Ainda que o projeto apenas tenha concluído a primeira fase (co-criação para tipificação de problemas, funcionalidades de recolha de dados, entre outros), tendo o trabalho de campo dados limitados (em particular para Aveiro/Portugal) foi possível identificar alguns elementos em linha com a literatura científica, isto é: cidades com comunidades reduzidas de utilizadores de bicicleta reportam dificuldades maioritariamente relacionadas com as condições da infra-estrutura e os conflitos com outros modos de deslocação, conflitos estes muitas vezes associados a situações de segurança; por outro lado, em cidades onde a adesão à mobilidade ciclável se encontra mais desenvolvida, os problemas principais relacionam-se com o roubo e as soluções de compatibilização/gestão dos fluxos de utilizadores, por exemplo a disponibilidade de pontos de parqueamento, gestão com diferentes modos de transporte. Ainda assim, estas conclusões carecem de uma análise mais aprofundada nas próximas fases, estando a equipa científica à procura de novas oportunidades de financiamento. Da fase inicial destaca-se a experiência do processo de co-criação, o qual nos trouxe importantes lições para o futuro. Destaco talvez o papel destas iniciativas para potenciar o alinhamento entre a comunidade de ciclistas, os decisores e a comunidade científica, alinhamento este que é bem mais desafiante e consumidor de tempo e recursos do que aquilo que inicialmente poderíamos pensar.
No âmbito do projeto foi desenvolvida a aplicação BiciZen, uma plataforma aberta e colaborativa que recolhe dados sobre experiências quotidianas de ciclismo. Qual a utilidade dessa app?
A BiciZen foi desenvolvida com o objetivo de suportar, em primeiro lugar, um processo de recolha e partilha aberta de dados entre a comunidade de utilizadores de bicicleta e entre estes e a comunidade científica. A equipa de investigação estava particularmente interessada em estudar as dificuldades e barreiras associadas à adoção da bicicleta como solução de mobilidade. No entanto, ao longo do processo de co-criação, a BiciZen foi alargando o seu âmbito procurando integrar funcionalidades que contribuíssem para aprofundar o sentido de comunidade. Destaco as possibilidades de partilhar experiências positivas (como por exemplo indicar percursos, soluções de infra-estrutura ou outros elementos com particular interesse para serem replicados) ou iniciativas de mobilidade em grupo – desde combinar deslocações regulares em grupo casa–trabalho/escola–casa até eventos ocasionais/comemorativos. No entanto, é a recolha e agregação de dados que constituem um elemento fundamental desta aplicação. Os dados, desde sempre, mas cada vez mais no futuro, estão na base de produção de conhecimento, de criação de riqueza e de desenvolvimento social. A sua transformação em conhecimento suporta o empoderamento dos ciclistas nas suas intervenções cívicas. São, além do mais, uma matéria-prima fundamental para a comunidade científica. A abordagem de ciência cidadã que implementamos procurou criar esta aliança de vontades, aproximando as comunidades de ciclista e de investigadores, ao mesmo tempo que tal aproximação também potencia a disseminação de conhecimento de forma mais eficaz.
Diario de Aveiro