Morre aos 83 anos Maria Augusta, ícone do Carnaval e pioneira entre carnavalescas

A carnavalesca e ex-comentarista de desfiles Maria Augusta Rodrigues morreu nesta sexta-feira (11), aos 83 anos, no Rio de Janeiro. Ela estava internada desde junho no Hospital São Lucas, em Copacabana, na zona sul da cidade, para tratamento contra um câncer na bexiga, e morreu em decorrência de falência múltipla de órgãos.
Uma das mulheres mais respeitadas do universo do samba, Maria Augusta foi pioneira na criação de enredos e estética para desfiles das escolas. Ao longo de mais de cinco décadas, deixou sua marca em agremiações como Salgueiro, União da Ilha, Tradição, Paraíso do Tuiuti, Beija-Flor e Império Serrano, da qual também foi madrinha da bateria.

Natural de São João da Barra, no norte fluminense, ela teve o primeiro contato com o Carnaval carioca no fim dos anos 1960, no Império da Tijuca. Em 1969, estreou no Salgueiro como assistente de Fernando Pamplona e Arlindo Rodrigues no enredo "Bahia de Todos os Deuses" —desfile que garantiu o título à escola. Ao lado de nomes como Joãosinho Trinta e Rosa Magalhães, foi uma das protagonistas do movimento conhecido como Revolução Salgueirense, que transformou a linguagem estética das escolas de samba.
Assinou ou colaborou com desfiles históricos, como "Festa para um Rei Negro" (1971), também pelo Salgueiro, e "Domingo" (1977) e "O Amanhã" (1978), da União da Ilha do Governador —considerados marcos da leveza e da inventividade nos enredos.
Seu último trabalho como carnavalesca foi na Beija-Flor, em 1993, quando substituiu Joãosinho Trinta no enredo "Uni-duni-tê, a Beija-Flor escolheu: é você". Fora da avenida, atuou como comentarista de desfiles em emissoras como Globo, Manchete, Band e CNT, além de integrar o júri do prêmio Estandarte de Ouro, do jornal O Globo.
Professora aposentada da Escola de Belas Artes da UFRJ, Maria Augusta também foi referência para novas gerações de artistas e pesquisadores do Carnaval. Candomblecista, tornou-se referência dentro e fora do Brasil, recebendo pesquisadores e estudiosos do Carnaval e facilitando intercâmbios culturais ao longo das décadas.
No Carnaval de 2025, foi homenageada pela escola mirim Aprendizes do Salgueiro, com quem desfilou emocionada. Em 2004, já havia sido enredo da escola Arranco, no antigo Grupo B.
A morte de Maria Augusta provocou comoção no mundo do samba. Em nota, o Salgueiro afirmou estar com o "coração em luto, mas repleto de gratidão".
"Maria Augusta não foi apenas uma artista genial. Ela foi uma revolução inteira. Esteve ao lado de nomes como Fernando Pamplona, Arlindo Rodrigues, Joãosinho Trinta e Rosa Magalhães no momento mais audacioso e criativo da nossa história", disse a escola. "Onde havia samba, havia Maria Augusta, e onde ela estava, havia respeito, verdade e grandeza."
A Imperatriz Leopoldinense, a Mocidade Independente de Padre Miguel, a Unidos da Tijuca, a Unidos de Padre Miguel e outras agremiações também prestaram homenagens.
A Beija-Flor de Nilópolis definiu Maria Augusta como "uma das grandes damas da folia" e "nome essencial na construção da história do Carnaval brasileiro".
O Império Serrano lembrou a madrinha de sua Sinfônica do Samba como "símbolo de carinho e respeito à frente dos ritmistas".
"Seu legado permanecerá vivo na memória e no coração de cada um de nós", afirmou a escola.
uol