Ou Belém ou miséria

Os resultados das últimas eleições legislativas trazem apreensão sobre os próximos anos de Portugal.A líder do Bloco de Esquerda surge com um lenço palestiniano na noite da derrota eleitoral. Toda a preocupação e solidariedade com o povo palestiniano (que sofre barbaramente), mas foi esse tipo de alienação da realidade dos portugueses que levou o partido naquele caminho.O ainda secretário-geral do partido socialista voltou, no seu discurso de concessão da vitória, a falar da idoneidade do primeiro-ministro. Alguém que diga a Pedro Nuno Santos que um candidato ‘normal’ a chefe de governo não fala nesses termos. Diminuiu-se a si próprio, ao cargo e ao partido socialista. Diminuiu tanto o seu partido que conseguiu transformar-se em terceira força política nacional.O líder do Chega conseguiu distribuir ódios e culpas, manipulando ressentimentos. Ficou doente, mas recuperou milagrosamente, provavelmente graças ao médico imigrante que o tratou. Não tem uma proposta séria, que sirva para mudar a vida dos portugueses, que votam nele porque a dor que sentem é muito mais intensa do que a luz da esperança que ninguém lhes oferece.O primeiro-ministro não tem, nunca teve um plano revolucionário, talvez por que, nesta altura, o País precisa de decisões, mais do que de revoluções. Não obstante, precisa de reformas como nas Forças Armadas, que as adaptem ao novo contexto internacional, ou na Justiça – que apenas será possível com outro inquilino em Belém. Não teve nem terá o suporte parlamentar para as reformas de que o País necessita. Para elas, apenas poderá contar com um PS ferido, o chega não serve para nada que implique confiança.O Livre e a Iniciativa Liberal estão ambos fora da realidade da vida do cidadão comum. O primeiro vive numa ilusão ambientalista estéril, o segundo engoliu uma cartilha de liberalismo fora de tempo: também para pouco serve. Rui Rocha é um indivíduo civilizado e urbano, mas quando foram necessárias propostas concretas, os votos fugiram.Os comunistas continuam a envelhecer, em idade, ideias e propostas. São, consensualmente, gente séria, mas a cassete é datada e os tempos são outros.Neste país, com tantos líderes a viveram apenas na ‘bolha’, poucos dias depois das eleições soubemos que três em cada cinco portugueses dizem ‘não ter dinheiro para as necessidades básicas’. Conjuguem-se estes dados com a esquerda alienada, que abandonou o crescimento económico e as reais necessidades da população; o PS que dizia não serem necessárias reformas estruturais; os liberais que querem cortar nos apoios para um Povo que sufoca sem tais apoios; um PSD/AD que quer reformar, mas não tem suporte parlamentar para isso; e, os radicais de direita que acham que a culpa é dos imigrantes e dos ciganos.Somamos a isto uma justiça corporativista e persecutória, que vê fantasmas, não conhece a realidade e insiste em dar espetáculos mediáticos para gaudio dos populistas.Os países mudam com estratégias que dependem de consensos. Estes fazem-se ao centro. Logo, quando, não há centro, não há estratégia.Apenas há uma hipótese no horizonte: a eleição de um Presidente, que venha fora do jogo tradicional dos partidos.
Olhando o panorama, ou se constrói o consenso a partir de Belém, ou a próxima geração de portugueses também já foi!
P.S. – Oeiras representou a mais baixa taxa de votação do Chega em municípios urbanos. Mérito para Isaltino Morais, que fez de um subúrbio deprimido de Lisboa, a centralidade mais pujante e equilibrada do país. É dele, mesmo sem estar no boletim de voto, uma das grandes vitórias da noite eleitoral.
Jornal Sol