A privatização parcial da TAP ou a persistência no erro

Anuncia o governo que vai privatizar a TAP até menos de 50%. Já suspeitava que assim seria. O negócio vai correr mal porque não há nenhum capitalista de bom senso que queira ser sócio em posição minoritária de um governo como o português e os interessados que eventualmente aparecerem, sabendo disto, avançarão com propostas fracas, assustados ainda por cima com o propósito do governo de querer manter uma posição de força na gestão, desde logo nomeando os principais gestores, de modo a garantir interesses que diz «estratégicos» para a economia nacional. A TAP é e continuará a ser uma empresa pública como tal definida pelo seu capital e pela sua gestão.
Não havia a esperar outra coisa. O governo diz que quer mas não quer a privatização total da TAP. Costa deve sentir-se reconfortado. Continuará o governo influenciado pelo credo socialista da manutenção do papel central do estado numa empresa «estratégica», tal como defendia Costa? Nada disso. A razão é muito mais simples. O governo quer é continuar a utilizar a TAP como couto de caça. Pessoalmente não tenho ilusões. O que o governo pretende é continuar a fazer da TAP uma agência de empregos para clientes partidários e amigos, aproveitando a ocasião para, a pretexto de privatização, tirar os que ainda lá estão e colocar outros novos. A TAP é uma sinecura para os interesses clientelares partidários. Nada mais. A opção é clara. Putativos directores, chegará a vossa vez.
Para justificar esta solução o governo atira-nos poeira aos olhos. Diz que esta privatização parcial é apenas o primeiro passo de uma privatização total que chegará um dia. Diz que há muitos interessados, o que é obviamente mentira nas condições em que vai ser feita e diz que as muitas centenas de milhões lá gastas irão ser recuperadas. Nada disto é verdade.
Isto de querer fazer dos portugueses parvos tem limites. Vejamos. Fazer uma privatização por partes não é remédio que se aconselhe. Privatizar apenas 49% é prejudicar os interesses do próprio governo que é como quem diz, dos contribuintes porque os eventuais interessados vão oferecer um preço barato para compensar a posição de menoridade em que vão ficar, até porque não sabem se o governo privatizará o resto e desconfiam justificadamente que tal suceda. Daí que não haja muitos interessados, contrariamente ao que o governo nos quer fazer crer. Tenho até a impressão que verdadeiramente não há nenhum e se houver quer comprar barato.
Diz ainda o governo que quer recuperar as muitas centenas de milhões que foram gastos em vão na TAP. Outra ilusão. Como é que o governo tem a certeza ou pode tê-la que os recupera se vai vender em condições desvantajosas para os eventuais compradores? Evidente é que não vai recuperar nada. Daí que já tenha feito constar na comunicação social que controla que a recuperação daquelas astronómicas verbas será «difícil». Claro que sim. Onde as iria buscar? À verba que o eventual comprador da TAP iria desembolsar? O governo já sabe que se vender é barato.
A TAP, como toda a gente sabe, está tecnicamente falida há muito tempo. Ninguém discute que a compra da TAP pode ser atractiva para as empresas estrangeiras, posto que no nosso país ninguém tem capital, nem de longe, que chegue para isso. Mas qualquer interessado só a compraria a preço de saldo. E então se, ainda por cima, ficar afastado do seu controlo financeiro e estratégico, pior ainda, ou seja, só se for tolo é que compra, e se comprar é muito baratinho.
A TAP não é apenas uma empresa pública. É a prova evidente da incapacidade do regime político português. Junta-se o preconceito ideológico contra a privatização total à incompetência governamental. A maneira de lidar com esta situação é tentar ganhar tempo e enganar os portugueses. É apenas nisto que os sucessivos governos têm sido hábeis. Ganhar tempo como? Aposto que vão ser nomeadas uma série de comissões «técnicas» e de «acompanhamento» para adiar o processo de privatização. Uma comissão, como toda a gente sabe, é um conjunto de indivíduos nomeados para estudarem um assunto de que pouco ou nada sabem a fim de chegarem à conclusão que já é tarde demais para fazerem seja o que for. Esta verdade elementar é mais evidente no nosso país do que noutro qualquer. Mas as comissões dão sempre imenso jeito para ocupar clientelas. Parece até que já se sabe quem as vai integrar.
Entretanto os pobres dos contribuintes lá estão e estarão à espera da notificação das finanças para pagar, como sempre. O cancro que é a TAP estatizada está e estará sempre à espera do contribuinte português.
A única solução é privatizar a TAP totalmente e de uma vez só mediante um concurso público internacional transparente e aberto ou então vendê-la através da bolsa. É a única maneira de obter um preço razoável e desonerar o contribuinte português desse encargo cancerígeno que é a TAP estatizada.
observador