A rejeição democrática do socialismo

Hoje, podemos afirmar que o PS sofreu a maior derrota eleitoral da sua história. Nunca tinha sido o terceiro partido em número de deputados. Não deixa de ser um acontecimento justo que tenham sido os emigrantes portugueses a decidir a vitória do Chega sobre o PS. Muitos deles foram obrigados a emigrar para fugir do socialismo que lhes negou oportunidades para enriquecer no seu país. Além disso, vivem em países que enfrentam problemas profundos com a imigração que recusa os valores europeus e ocidentais. Os nossos emigrantes temem que venha a acontecer o mesmo no nosso país e responsabilizam os socialistas por isso. Não me recordo de outra eleição na qual o PS não elegeu deputados pelos círculos da emigração. Hoje, os emigrantes portugueses são os exilados do socialismo português.
O PS também perdeu no norte, no centro e no sul. Há mais de um ano seria impensável o Chega derrotar o PS no distrito de Setúbal. O PS só ganhou no distrito de Évora. Os socialistas também perderam entre os jovens, os portugueses de meia-idade e até os reformados. Desde 2022, quando António Costa recebeu uma maioria absoluta, o PS perdeu quase um milhão de votos. Isto só tem uma palavra: rejeição. Rejeição do socialismo.
Mas o desastre socialista não se deve apenas à liderança de Pedro Nuno Santos (apesar de ter sido muito má). O mal socialista é mais profundo. Nunca é demais referir que o PS governou Portugal 23 dos últimos 30 anos. E dos 7 anos nos quais a AD esteve no governo, 4 foram para salvar a falência do governo de Sócrates. Nestas três décadas socialistas, o país empobreceu em relação à média da União Europeia. A qualidade dos serviços públicos, sobretudo da saúde e da educação, piorou. A qualidade da democracia baixou muito, com as lideranças socialistas e as suas famílias a portarem muitas vezes como se fossem os “donos” do país. Os problemas da justiça agravaram-se, com muita responsabilidade do PS. Os sinais de corrupção e de compadrio entre política e negócios multiplicaram-se. Para culminar, a profunda irresponsabilidade dos governos de Costa levou a um aumento da imigração para o qual nem os portugueses nem o Estado estavam preparados.
Foi tudo isto que os portugueses rejeitaram. E o PS nunca reflectiu sobre os enormes erros que cometeu durante três décadas. Voltou sempre ao poder com as mesmas pessoas que começaram com Guterres, como se tivessem mudado. Nunca mudaram e nunca mudarão. Habituaram-se a exercer o poder para eles próprios e como tiveram sucesso nunca precisaram de mudar. A história do PS nas últimas três décadas foi de vitória em vitória até à derrotada final. Pelo meio, os socialistas ajudaram a transformar o Chega num grande partido. Por muito que custe a alguns socialistas, o PS foi um dos pais do Chega.
Mas assistiu-se igualmente a uma enorme derrota das esquerdas radicais. Nunca o PCP e o Bloco valeram tão pouco. E nem o crescimento do Livre disfarça a crise da extrema-esquerda. A geringonça foi fatal para comunistas e bloquistas. Desde 2019, a sua representação parlamentar não parou de diminuir.
Por tudo isto, José Luís Carneiro terá um trabalho muito difícil. A sua moderação será hoje o factor mais positivo do PS. Mas o partido encontra-se num estado lamentável. E muitos dos seus dirigentes nada aprenderam, tendo criticado José Luís Carneiro por ter avançado para a liderança sem os avisar, como se fossem os donos do PS. Primeiro, achavam que eram donos do país. Agora, ainda se acham donos do partido.
observador