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Educação, PISA e os irredutíveis ilhéus da Madeira

Educação, PISA e os irredutíveis ilhéus da Madeira

A educação pública em Portugal está em colapso — não por falta de meios, mas por ausência de visão e coragem política. A instabilidade curricular, a degradação da carreira docente, o abandono silencioso da escola pública e o experimentalismo ideológico minam qualquer tentativa séria de reabilitação do sistema. E, no entanto, há uma região que escolheu não seguir esse caminho. A Madeira — sim, a mesma que muitos ignoram ou caricaturam politicamente — construiu, em duas décadas, um percurso educativo coerente, sustentado e, acima de tudo, eficaz.

Entre 2000 — ano em que, no primeiro PISA, os alunos da Madeira registaram os piores resultados nacionais — e 2015, a Região Autónoma da Madeira alcançou um feito notável: aumentou em 72 pontos os resultados dos seus alunos de 15 anos em literacia nos testes PISA, o equivalente a quase três anos de escolaridade. Em 2022, ultrapassou finalmente o continente. Enquanto os Açores recuavam para mínimos históricos e o país continental regredia devido a reformas políticas erradas e aos efeitos da COVID19, a Madeira demonstrava que os bons resultados não se fazem com ideologias retrógradas, mas com estratégia.

A Escola a Tempo Inteiro, em 1995, foi apenas o início. Seguiu-se a autonomia das escolas, aprovada em 2000, que devolveu poder real às direções e permitiu construir projetos educativos adequados a contextos específicos. Em 2008, o Estatuto da Carreira Docente e, depois, as reformas de 2010 garantiram aos professores aquilo que o continente lhes recusava: estabilidade, dignidade e perspetiva de carreira. Em 2018, a Madeira devolveu aos seus docentes o tempo de serviço que o governo da República congelou e só recentemente aceitou devolver. Foram 9 anos, 4 meses e 2 dias recuperados — um gesto que não é apenas justo: é exemplar.

Mas a Madeira não se limitou a resistir. Inovou. Criou programas de apoio para alunos com altas capacidades, investiu numa resposta eficaz para a educação inclusiva, e liderou, já em 2019, a transformação digital nas escolas. Tablets, Wi-Fi rápido, robótica, e manuais digitais foram trazidos para revolucionar a aprendizagem. Quando a pandemia chegou e encerrou as escolas por todo o mundo, os alunos e os professores da Madeira não ficaram paralisados à espera de plataformas ou equipamentos — já os tinham. Estavam preparados.

A lição que a Madeira dá ao país é simples, mas poderosa: a educação melhora quando se investe com continuidade, se valoriza quem ensina, se confia nas escolas e se promove a excelência de quem aprende sem esquecer quem demonstra maiores dificuldades. O continente, pelo contrário, oscila entre reformas ideológicas sem suporte empírico, cortes encapotados, ações e discursos vagos sobre modernização, enquanto desvaloriza e desmoraliza quem todos os dias tenta ensinar em condições cada vez mais difíceis.

Do atraso histórico no início do século XXI à liderança nacional no PISA de 2022, a resiliência madeirense tornou-se um exemplo de como a educação pode (e deve) resistir e inovar. A Madeira não aguardou pelas soluções das políticas educativas obsoletas vindas da capital do império para resolver os seus problemas estruturais. Enquanto o país se perde em escaramuças políticas que negligenciam a educação, a Madeira, qual Gália de Astérix, resiste e educa.

observador

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