Espionagem. Polícia pede indiciamento de Bolsonaro

A polícia brasileira pediu esta terça-feira o indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e mais de 30 pessoas citadas numa investigação sobre o uso da Agência Brasileira de Inteligência para espionar adversários e disseminar informações falsas sobre o sistema eleitoral.
Num comunicado, a autoridade policial informou que “concluiu o inquérito que apura a existência de uma alegada organização criminosa dedicada ao monitoramento ilegal de autoridades públicas e à produção de notícias falsas, utilizando-se de sistemas da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), no caso que ficou conhecido como Abin Paralela. Além do ex-Presidente, a autoridade policial brasileira pediu o indiciamento do vereador Carlos Bolsonaro, do deputado federal Alexandre Ramagem, que chefiou o órgão na administração anterior, e também o atual diretor da Abin, Luis Fernando Corrêa, por obstrução da Justiça. O relatório final foi encaminhado para o Supremo Tribunal Federal (STF) e o procedimento segue em tramitação sob sigilo.
Jair Bolsonaro, Ramagem e Corrêa ainda não se pronunciaram. Já Carlos Bolsonaro, vereador do Rio de Janeiro e filho do ex-presidente, afirmou nas redes sociais que o pedido de indiciamento contra si seria um ato político relacionado com as eleições de 2026. “Alguém tinha alguma dúvida que a Polícia Federal do Lula (uma referência ao atual Presidente brasileiro) faria isso comigo? Justificativa? Creio que os senhores já sabem: eleições em 2026? Acho que não! É só coincidência!”, escreveu Carlos Bolsonaro na rede social X.
Alguém tinha alguma dúvida que a PF do Lula faria isso comigo? Justificativa? Creio que os senhores já sabem: eleições em 2026? Acho que não! É só coincidência! https://t.co/Fdm4eIcOkW
— Carlos Bolsonaro (@CarlosBolsonaro) June 17, 2025
Um relatório da Polícia Federal divulgado em julho de 2024 sobre o caso indicou haver indícios de que ocorreram ações de espionagem ilegal contra parlamentares aliados e adversários do ex-presidente Bolsonaro, contra juízes do Supremo Tribunal Federal (STF) e jornalistas. O escândalo de espionagem eclodiu em outubro de 2023 quando a primeira operação policial ligada a este caso resultou na prisão de dois funcionários da Abin suspeitos de terem utilizado ilegalmente o spyware israelita FirstMile. Adquirido pelo Governo brasileiro no final de 2018, pouco antes de Bolsonaro chegar ao poder, este software permite a geolocalização de indivíduos através do sinal emitido pelos seus telemóveis.
Através desta ferramenta de espionagem, os dados dos alegados alvos espionados ilegalmente a pedido do ex-governante e do seu grupo político teriam sido coletados de telemóveis e antenas para conseguir identificar o último local conhecido em que estiveram.
Com a entrega do pedido de indiciamento de Bolsonaro e os outros envolvidos, cabe agora a Procuradoria-Geral da República (PGR) brasileira analisar os dados levantados na investigação para decidir se apresentará ou não uma acusação formal contra os envolvidos junto ao Supremo Tribunal Federal (STF).
[A polícia é chamada a uma casa após uma queixa por ruído. Quando chegam, os agentes encontram uma festa de aniversário de arromba. Mas o aniversariante, José Valbom, desapareceu. “O Zé faz 25” é o primeiro podcast de ficção do Observador, co-produzido pela Coyote Vadio e com as vozes de Tiago Teotónio Pereira, Sara Matos, Madalena Almeida, Cristovão Campos, Vicente Wallenstein, Beatriz Godinho, José Raposo e Carla Maciel. Pode ouvir o 5.º episódio no site do Observador, na Apple Podcasts, no Spotify e no Youtube Music. E o primeiro episódio aqui, o segundo aqui, o terceiro aqui e o quarto aqui]
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