Imigração e Economia

O tema da imigração, em grande crescimento entre nós, tem sido ultimamente muito debatido e com boas razões no que toca ao seu crescimento sem controlo, mas de forma menos inteligente e até algo primária naquilo que se relaciona com a economia. Nomeadamente através da ideia muito defendida de que as empresas precisam de mais trabalhadores o que, infelizmente, é afirmado sem levar em conta os desafios do nosso modelo económico. Por exemplo, se basearmos a nossa economia numa esmagadora maioria de pequenas empresas comerciais, como restaurantes, cafés e pastelarias, ou no turismo, em salários baixos e baixa produtividade, os imigrantes são uma necessidade. Mas se pensarmos que o futuro da economia estará no progresso tecnológico, na automação e robotização industrial e na verdadeira reforma da administração ´pública, então os novos imigrantes, com menos formação do que a média dos portugueses, servem apenas para perpetuar os níveis de pobreza que já temos.
Acredito que muitos empresários que se queixam da falta de trabalhadores e pedem a abertura a receber mais imigrantes, fazem-no porque pretendem manter os salários baixos, ou porque não investem em tecnologia, ou porque não exportam e o mercado interno é pobre, ou porque estão no negócio errado, ou não inovam, ou não têm a formação necessária para serem empresários. Ou seja, se basearmos o nosso futuro em mais do mesmo, ou seja, com mais imigrantes, não mudaremos nada e a pobreza será o nosso futuro, desde logo porque os nossos concorrentes não baseiam o futuro das suas empresas em mais mão de obra, mas em mais tecnologia.
Por exemplo, temos um sector da construção com bastante qualidade, mas uma qualidade dependente da experiência dos trabalhadores portugueses do sector, o que fica pior com mais imigrantes não especializados. Acresce que temos baixos níveis de organização e de normalização e ainda se produz quase tudo na obra e com insuficientes pré-montagens de partes produzidas em fábricas. Por exemplo, há muitos anos tentei convencer o então presidente da autarquia de Lisboa, o meu amigo Jorge Sampaio, a usar unidades normalizadas produzidas em betão com aberturas para as diferentes canalizações – electricidade, água, gás, comunicações – que seriam enterradas no subsolo da avenida 24 de Julho, então com obras previstas. Cheguei a fazer um desenho da coisa, mas, infelizmente, tivemos pouco apoio para a ideia e ainda hoje não compreendo que as novas ruas das cidades não sejam produzidas em fábricas e confesso a minha surpresa sempre que vejo meia dúzia de trabalhadores, porventura imigrantes, a abrir buracos nas ruas para aceder às canalizações no subsolo. Assim, precisamos de mais imigrantes.
Entretanto, Portugal tem hoje um número invejável de jovens com elevadas qualificações, que custaram muito dinheiro ao País para formar, muitos dos quais a emigrar e a desenvolver novas ideias e novas tecnologias no estrangeiro, suponho porque não conseguem salários e condições equivalentes no nosso País. Fazer a sua substituição por imigrantes parece-me representar um suicídio colectivo.
Como tenho tentado esclarecer, é evidente que manter 95% das empresas portuguesas muito pequenas e na sua esmagadora maioria comerciais, não permite que nada do que escrevi antes tenha aplicação prática. Ou seja, se continuarmos a ter políticas públicas ensimesmadas neste modelo de pequenas empresas, de baixos salários e de baixa produtividade, sem compreender que a indústria é uma necessária fase de transição, porque permite criar empregos oriundos da pequena economia e transformar trabalhadores não especializados em especializados, não mudaremos nada que valha a pena. Confesso que olho muito negativamente para quem tem o poder de mudar e muda pouco ou quase nada, chamem-lhe reformas ou qualquer outra coisa, sendo que isso me tira do sério, porque vejo o meu País a ficar para trás no contexto dos países da nossa dimensão da União Europeia.
observador