O mito das terapias alternativas: promessas vazias

Vivemos numa época em que as terapias alternativas proliferam em cada esquina, anunciadas como soluções rápidas e naturais para todo o tipo de sofrimentos. São apresentadas como se fossem iguais ou até superiores à medicina ou à psicologia, apenas por serem “menos invasivas” ou “mais espirituais”. Porém, a realidade é bem diferente: a esmagadora maioria destas práticas carece de qualquer fundamento científico e, longe de serem apenas inofensivas, podem ser perigosas. Prometem cura, mas oferecem apenas ilusão.
É preciso desfazer um equívoco comum: nem toda a prática de ajuda ao bem-estar é terapia. O termo “terapia” deve estar reservado a intervenções reconhecidas e validadas cientificamente. É neste ponto que se distingue a psicoterapia, prática clínica exclusiva dos psicólogos, das chamadas terapias alternativas. Enquanto estas se sustentam em crenças, tradições ou marketing, a psicoterapia assenta em décadas de investigação, modelos teóricos consistentes e métodos que foram testados em estudos rigorosos.
A psicoterapia é diferente porque não se limita a acalmar momentaneamente, mas procura compreender, em profundidade, os processos psicológicos que estão na origem do sofrimento. É conduzida por profissionais formados academicamente, sujeitos a regulamentos éticos e a uma ordem profissional que assegura padrões de qualidade. Não se trata de inventar explicações mágicas, mas de trabalhar com técnicas validadas que permitem às pessoas desenvolver estratégias para lidar com as suas dificuldades e melhorar a sua saúde mental.
Já as terapias alternativas exploram um terreno perigoso: o da vulnerabilidade de quem sofre. Quem está em desespero procura respostas rápidas, e é precisamente aí que surgem os que vendem “energias”, “reprogramações” ou “curas naturais”. O problema não é apenas o dinheiro perdido, mas o tempo desperdiçado. Quantos não adiam procurar um psicólogo ou um médico porque acreditam que uma sessão de reiki, uma leitura de chakras ou uma dieta milagrosa vão resolver os seus problemas? Esse atraso pode significar o agravamento de doenças mentais e físicas, transformando sofrimento em tragédia.
Outro ponto crucial é a responsabilidade profissional. O psicólogo não promete resultados milagrosos, porque sabe que cada processo é único e complexo. Compromete-se, isso sim, com um percurso fundamentado, avaliando e ajustando estratégias de forma contínua. Já nas terapias alternativas, o “terapeuta” pode dizer o que quiser, sem provas, sem escrutínio e sem consequências éticas ou legais. Essa ausência de responsabilidade transforma a relação numa perigosa relação de poder, onde quem sofre fica ainda mais vulnerável.
É certo que a medicina e a psicologia não têm todas as respostas. Mas têm uma diferença fundamental: estão abertas ao erro, à correção, ao progresso científico. Quando uma técnica psicológica não resulta, é testada, avaliada e comparada. É substituída por abordagens mais eficazes. O conhecimento cresce e melhora. Já as terapias alternativas permanecem imutáveis, repetindo os mesmos mantras de sempre, sem qualquer evidência que resista ao crivo da investigação.
Não se trata de negar que algumas práticas alternativas possam oferecer uma sensação de relaxamento momentâneo. Mas sensação não é tratamento. Alívio não é cura. Bem-estar temporário não substitui intervenção clínica. A psicoterapia, conduzida por psicólogos, não promete atalhos nem milagres. Oferece, sim, um espaço de confiança, reflexão e mudança, que permite enfrentar os problemas de forma estruturada e eficaz. É por isso que salva vidas, ao contrário das promessas vazias que tantas vezes conduzem a desilusões dolorosas.
A sociedade tem de ser clara: saúde mental é assunto sério e deve estar nas mãos de profissionais qualificados. A banalização da palavra “terapia” apenas serve para confundir e fragilizar quem já está vulnerável. Quem promete curar deve provar. E só a psicoterapia, pela sua base científica e rigor ético, pode reclamar legitimidade para ser chamada assim. O resto é ilusão, e no campo da saúde a ilusão pode custar caro.
observador