Terrorismo de extrema-direita: palhaçada do regime

Há semanas, as notícias divulgaram o desmantelamento de um grupo terrorista de extrema-direita com planos para assassinar uma figura grada do regime e tomar de assalto o Parlamento, um tipo de perigo iminente em Portugal desde 1974. Pela celestial qualidade das autoridades policiais e judiciais que, por antecipação, desmantelam sempre a violência tenebrosa da extrema-direita, aos portugueses resta o dever de se sentirem como qualquer sujeito a quem saísse o Euromilhões cinquenta anos consecutivos.
Regressemos aos anos 80-90 do século passado. De cada vez que as então novas claques de futebol dos três clubes grandes provocavam distúrbios, jornalistas, comentadores e especialistas nas televisões, rádios e jornais (à época em papel) alertavam o bom povo para a ameaça perigosíssima dos skinheads, os cabeças-rapadas. Eram de imediato descodificados como neonazis, neofascistas, neossalazaristas e a sua infiltração entre os amantes da bola do Benfica, Porto ou Sporting era a máscara, a mera porta de entrada para destruir a democracia e a caminhada gloriosa da III República Portuguesa rumo ao paraíso socialista, como determinava a Constituição.
Anos e décadas passaram e ficou claríssimo que essa guerra contra o terrorismo de extrema-direita flutuava ao sabor do calendário de jogos da então primeira divisão. Depois descansava entre a última jornada do campeonato e a primeira da época seguinte. Raúl Solnado tinha ido à guerra da mesma maneira.
Entretanto, os nobres cidadãos portugueses líderes dessa bravata cívica, entre políticos falhados e jornalistas (uma e só coisa), criaram um bem-sucedido partido político, o Bloco de Esquerda (BE). Os skinheads, terroristas carecas, passaram a ser travados por cabeludos esquerdistas, pois a consciência humana tornou-se proporcional ao tamanho dos cabelos. A compor o contexto, o dono do regime, o Partido Socialista (PS), recolhia rendimentos elevados por tutelar tão nobre causa, ia ganhando eleições até, finalmente, atingir o nirvana da maioria absoluta (2022-2024).
Para tudo continuar na mesma, de caminho muda-se qualquer coisa. O rótulo skinheads foi magicamente substituído por nomes, rostos, símbolos da moda: André Ventura e Chega. Foi aí que a narrativa contra o terrorismo da extrema-direita descobriu uma nova luz para o seu velho vício, até porque nunca faltou a colaboração preciosa das autoridades policiais, judiciais nacionais, europeias, mundiais. A narrativa ficou ainda mais cristalina e refinada: acidente-incidente-trivial-do-quotidiano, logo mão de Ventura/Chega/Órban/Bolsonaro/Trump-América/Hitler-Extermínio/III-Guerra-Mundial/Bomba-Atómica.
Esse passou a ser o infalível óbvio de cada vez que um cidadão leva um murro de um português branco; um português branco comete um abuso ou crime que atinja alguém de uma minoria, pode até ser um acidente ou incidente de trânsito; o multiculturalismo de uma sala de aula é perturbado por uma criança portuguesa branca travessa; uma sessão de apresentação de um livro lgbtqi+ é forçada a sair do guião progressista; entre outras trivialidades da vida quotidiana dificilmente evitáveis. Os donos do circo nunca se contêm, pois desejam mais cinquenta anos de paranoia, a juntar aos cinquenta precedentes.
Ao menos que se experimente uma alternância democrática. Entrarmos na nova temporada, a do desmantelamento preventivo do terrorismo de esquerda. Neste caso, a palavra extrema seria redundante. Não faltam afinidades factuais da esquerda a garantir histerismos antiterroristas bombásticos. Chegavam e sobravam para justificar alertas preventivos nas salas de aula de escolas e universidades, leis especiais, brigadas especializadas em antiterrorismo de forças policiais e agentes judiciais. Mas o verdadeiramente indispensável seria um batalhão de jornalistas, comentadores e especialistas.
Num ápice, a iminência do terrorismo de esquerda brotaria a cada esquina de cada vez que um ou outro cigano andasse aos tiros ou esmurrace professores ou enfermeiros, incluindo a destruição de instalações; um ou outro negro fosse detido por posse de arma, tráfico de droga ou roubo de carro; um muçulmano sequestrasse da vida social a mulher ou filhas, mais uns rabiscos em árabe num papel suspeito; ocupas invadissem propriedade alheia; a célula confortável do PCC (Primeiro Comando da Capital) desse sinais de vida, das mais violentas redes criminosas do mundo exportada do Brasil para Portugal pela ditadura comunista de Lula da Silva; programas de cooperação internacional fossem associados aos trópicos onde a esquerda (PCP, BE, PS e também PSD) há décadas possuem bons e velhos amigos viciados em terrorismo de Estado, o nome próprio do socialismo. As relações profícuas com a China comunista até poderiam ficar de fora.
Em vez de serem pessoas normais, se as pessoas de direita decidissem ser histéricas como as de esquerda passariam a ter motivos de sobra para nem sequer saírem de casa, a não ser em circunstâncias absolutamente excecionais e armadas até aos dentes. Isso porque viveriam na mais absoluta certeza de Portugal estar mergulhado numa guerra apocalítica, qual Palestina, dado que desde 2018, com o governo socialista de António Costa, o agravamento da imigração ilegal fez-se a maior prova objetiva de sempre do poder destrutivo do povo nativo e do país pelo terrorismo de esquerda.
Já não se aguenta tanta estupidez. Nos dicionários de língua portuguesa, «terrorismo de extrema-direita» já deveria ser sinónimo de «circo» e os seus inimigos-animadores sinónimos de «palhaços».
observador