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Agressão a idoso leva a violência contra imigrantes

Agressão a idoso leva a violência contra imigrantes

A escalada de violência em Torre Pacheco, uma localidade de Múrcia, Espanha, continuou pela segunda noite consecutiva, com as autoridades em alerta máximo e as agressões nas ruas a levarem a novas detenções. Tudo por causa de uma agressão a um idoso, a meio da semana, que serviu de pretexto a grupos de extrema-direita para convocar uma “caça” a imigrantes e para lançarem odes a Francisco Franco, o ditador espanhol, levando a uma série de episódios violentos.

Este sábado registaram-se novas alterações, conta a imprensa espanhola, ainda que citando números diferentes (o El Mundo fala em três detidos e três feridos leves, o El País em cinco feridos e um detido). O que todos os relatos confirmam é que os incidentes com agressões contra magrebinos — dos 40 mil habitantes de Torre Pacheco 30% são imigrantes, a maioria marroquinos que trabalham na agricultura intensiva — continuam, depois de vários grupos extremistas e xenóbofos terem espalhado apelos e mensagens como “convocamos uma caça”, “patrulhas de vizinhos” ou “justiça direta para se encontrarem com Alá“, conta o El Mundo.

Outras mensagens, do grupo extremista Deport Them Now (Deportem-nos já) apelam assim à violência: “Se os outros magrebinos não colaborarem para os identificarmos, vão transformar-se automaticamente em culpados e pagarão pelo que aconteceu”.

“O que aconteceu” foi o rastilho para esta onda de violência: na quarta-feira passada, um homem de 68 anos chamado Domingo Tomás Martínez que vive em Torre Pacheco estava a caminhar perto da sua casa, pelas 6h, quando de repente um grupo de jovens o agrediu brutalmente, gravando a agressão para a publicar nas redes sociais. Segundo o idoso, os jovens apareceram de repente, separados, e o primeiro atirou-se sobre si e começou a bater-lhe, sobretudo na cara, como conta a Euronews.

Depois, os restantes atiraram-no ao chão e continuaram a agredi-lo com murros e pontapés, não tendo roubado nada. Segundo as autoridades, o objetivo deveria passar por cumprir um desafio viral que incentiva as pessoas a baterem em pessoas vulneráveis e a publicarem o resultado.

Os responsáveis ainda não estão identificados, mas, depois de Domingo Tomás Martínez ter referido que os jovens lhe pareciam ser de origem magrebina, o episódio violento espoletou ainda mais violência em Torre Pacheco (e promessas do autarca da localidade, Pedro Ángel Roca, de colocar câmaras de vigilância nas ruas e pedir reforços policiais).

Se a história da agressão inicial já era alarmante, a situação piorou depois, com o início das mensagens de grupos extremistas contra imigrantes. Pelo Telegram foi convocada a tal “caça” para os dias 15, 16 e 17 de julho, prometendo “justiça popular” contra os responsáveis pela agressão inicial. Logo na sexta-feira foi convocada uma concentração para a praça da câmara municipal chamada “Torre Pacheco, livre de violência, livre de delinquência”.

Foi aqui, como conta também a Euronews, que se começaram a ouvir insultos mas também gritos de elogio ao ditador espanhol (“viva Franco”, “levanta-te, Franco” e outras variações), com a concentração a acabar em violência. Segundo a polícia, várias das pessoas envolvidas nas altercações não vivem em Torre Pacheco e estiveram presentes de propósito para participar na concentração.

Durante os confrontos de sábado, foram atiradas garrafas e outros objetos, o que causou ferimentos leves em várias pessoas, e as autoridades ativaram um sistema de prevenção em que participam a Guardia Civil e a polícia local. Há agora 75 agentes da polícia nacional espanhola destacados em Torre Pacheco que estão a investigar gravações de câmaras de vigilância e telemóveis para prevenir novos ataques por crimes de ódio.

O presidente da região de Múrcia, Fernando López Miras, veio garantir que os responsáveis pela primeira agressão ao homem de 68 anos irão “responder perante a Justiça”, cita o El Mundo. “O peso da lei terá de cair sobre eles, claro. Percebo a frustração de todos, mas é preciso confiar nas forças e corpos de segurança do Estado e na lei, claro”. E aproveitou para pedir calma: “Os vizinhos de Torre Pacheco querem viver em paz e conviver como até agora. Não se podem permitir nem tolerar apelos à violência, que estamos a ver de uns e de outros”.

Já a representante do governo nacional em Múrcia, Mariola Guevara Caza, pediu à população que não se deixe levar pelo discurso de ódio “que só quer recolher créditos políticos“. E o autarca, Pedro Ángel Roca, diz ao El Mundo que “o vandalismo aumentou muito nos últimos tempos” em Torre Pacheco e que os habitantes não gostam disso: “Esta é uma localidade que cresceu muito nos últimos trinta anos, essa é a realidade. Mas, é claro, isto nunca pode justificar a violência contra ninguém”.

Ao El País, Mariola Guevara Caza adiantou que haverá mais detenções, porque “estão a ser identificadas muitas das pessoas que incitaram a esta perturbação da ordem pública e aos crimes de ódio”.

Os incidentes violentos estão a gerar mais reações políticas, com os partidos a posicionarem-se sobre os ataques em Torre Pacheco. O Vox organizou mesmo uma concentração de “repulsa contra o terror semeado por grupos de magrebinos”, enquanto o Podemos pediu que se proíbam preventivamente estas concentrações. O presidente do PP, Alberto Núñez Feijóo, disse nas redes sociais que falou com o autarca da localidade e com López Miras e pediu ao governo que reforce os agentes no terreno “para travar imediatamente a espiral de violência”.

Como a imprensa espanhola nota, Torre Pacheco vive em grande parte da agricultura intensiva e conta com uma mão de obra muito composta por imigrantes, sendo que os 30% de população imigrante da localidade são o dobro da média de 15% no país.

observador

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