Ciclo «As Outras Noites de Albufeira» estreia com cinco espetáculos de música clássica

Um total de cinco espetáculos, a apresentar entre 5 de julho e 10 de setembro, a maioria a ter lugar no topo nascente da Marina da Albufeira, onde será montada uma plateia para duas mil pessoas, e um outro na Praia dos Pescadores, no Dia do Município, compõem o cartaz do novo ciclo «As Outras Noites de Albufeira».
Segundo o maestro Armando Mota, que assume a direção artística do evento, «Albufeira não é só jovens e os estrangeiros a embebedarem-se nas Areias de São João e na baixa da cidade. É mais do que isso. Os habitantes sentem-se incomodados com o que se tem passado e com a imagem que isso dá. É uma imagem que está errada. Albufeira tem outras valências. Tem praias, hotéis e gastronomia espetaculares. Mas é preciso ter, à noite, uma oferta diversificada para todos os públicos, tendo sempre em mente a premissa maior da qualidade».
«Portanto, é preciso começar a fazer coisas que vão contrariar isso e, acima de tudo, levantar uma discussão transversal e muito importante: que turismo queremos ter? Que pessoas queremos que venham para o Algarve?».
Para ajudar a alavancar esse público, o ciclo apresenta «uma altíssima qualidade. É uma alternativa para não cairmos nesta ladainha do turismo dos alcoólicos. Costumo dizer que, se Albufeira reclama ser a capital do turismo, tem de ter, digamos, os predicados que lhe dão esse estatuto».
O maestro critica ainda a oferta habitual das festas de verão, pois «já está tudo mais que visto. O que nós vamos fazer é uma pedra no charco. Nunca ninguém fez, nem teve a coragem de fazer um festival de música clássica» em época alta.
O ciclo abre no sábado, dia 5 de julho, com o aclamado pianista António Rosado acompanhado pela Banda Sinfónica Portuguesa, com o concerto em F de Gershwin, peça que associa elementos do jazz a uma componente rítmica muito forte, fazendo desta obra um marco na evolução da identidade da música americana.
No dia 19 de julho, será a reposição do bailado «Storm», pelo Quorum Ballet Dance Company, que estreou em janeiro no Teatro das Figuras, em Faro.
Com argumento e música original do maestro Armando Mota e coreografia de Daniel Cardoso, «Storm» retrata uma história de ficção sobre a temática das alterações climáticas e de como esta realidade atual irá afetar as ilhas-barreira da Ria Formosa.
Desta vez, com a Orquestra Sinfónica do Algarve ao vivo, no «seu máximo potencial».
No dia 16 de agosto, será a ver do espetáculo «Amália Sinfónico – As grandes canções da rainha do fado em versão sinfónica». Junta a voz de Amália Rodrigues (gravada), acompanhada por mais de 40 músicos da Orquestra Clássica de Lisboa, uma guitarra portuguesa e a participação da cantora Anabela, sob direção do maestro Rui Pinheiro, que em tempos dirigiu a Orquestra do Algarve.
Segue-se, a 21 de agosto, na Praia dos Pescadores, um concerto grátis com a Orquestra Sinfónica do Algarve que vai tocar as bandas sonoras de grandes clássicos de Hollywood, também dirigido por Armando Mota.
O ciclo encerra com «um espetáculo absolutamente extraordinário», a 10 de setembro, com a Vortice Dance Company a apresentar a sua reinterpretação do clássico «Carmina Burana» de Carl Orff.
Os espetáculos terão um «preço acessível» único de 20 euros e em breve estarão à venda na plataforma Ticketline.
Ainda sobre a noite ,«temos que arranjar um modus operandi que consiga, de alguma forma, controlar, acima de tudo, os abusos e os excessos, porque prejudicam toda a hotelaria. Com muito respeito pelos donos dos bares, que têm direito a ter o seu negócio, não vamos prejudicar investimentos de milhões de euros e uma imagem que se quer melhorar e defender. Não podemos perpetuar este tipo de turismo», diz o maestro, residente em Albufeira há 35 anos.
«É preciso dar uma alternativa. Mostrar às pessoas que podem vir para Albufeira porque não é só bêbados e bares. Também tem aqui um festival de altíssima qualidade, ao nível do CCB, da Casa da Música, da Gulbenkian. E que podem usufruir disso a um preço praticamente simbólico».
Mota coloca ainda o dedo noutra ferida que ainda não sarou. «A região tem pessoas a fazer coisas boas que não são apoiadas pelo governo central», diz, criticando o fim do programa Algarve 365.
«Dar um apoio de cinco mil euros a companhias não profissionais, isso é nada. O Algarve 365 estava a começar a dar frutos, a cimentar uma atividade regular, com as companhias locais que existem, e fazem coisas muito interessantes. Trataram de acabar com isso e os responsáveis da região todos não tiveram a capacidade de se juntar e exigir investimento na cultura no Algarve», apesar do peso que o Algarve tem no PIB do país.
O ciclo «As Outras Noites de Albufeira» vai ser apresentado em conferência de imprensa na quarta-feira, dia 18 de junho, às 11h30, por José Carlos Rolo, presidente da Câmara Municipal de Albufeira, e o maestro Armando Mota, no Salão Nobre dos Paços do Concelho.
Barlavento