Na Itália, Kevin Spacey diz perdoar quem o acusou de abuso

O ator norte-americano Kevin Spacey recebeu o prêmio de máxima excelência no Festival Italian Global Series, realizado na cidade de Riccione, na região da Emilia-Romagna, onde aproveitou para falar sobre seu afastamento por causa de diversas acusações de crimes sexuais.

Em mais uma tentativa de retomada da carreira, após promotores de Massachusetts encerrarem um processo criminal por abuso sexual contra ele, o ator disse em uma masterclass que perdoou aqueles que imediatamente o acusaram nos supostos casos de assédio, terminados predominantemente com sua absolvição, e não guardou rancor dos críticos.

"As experiências dos últimos sete anos me permitiram parar e voltar a refletir e ouvir. Sou muito grato pelo trabalho que posso fazer hoje dentro e fora das telas. Sou muito grato pelas pessoas que estiveram ao meu lado e que esperaram o resultado dos julgamentos antes de me julgar. Confiarei nelas pelo resto da minha vida", afirmou o astro de "House of Cards".

Aos 65 anos, Spacey enfatizou que todos "aqueles que imediatamente me trataram como culpado têm o meu perdão, mas não procurarei essas pessoas novamente".

Respondendo às perguntas do diretor do festival, Marco Spagnoli, o icônico ator discutiu os julgamentos que enfrentou nos Estados Unidos e no Reino Unido nos últimos anos, onde foi acusado de assédio sexual e abuso de jovens, cuja maioria terminou com veredictos de absolvição - ainda há dois casos em aberto no território britânico.

"Os últimos sete anos foram incríveis. Eles me colocaram à prova, mas me permitiram descobrir o que é a verdadeira amizade. Aproximei-me mais da minha família e de mim mesmo", admitiu.

Por outro lado, Spacey garantiu não ter "ressentimento nem raiva" e não buscar vingança, mas sim mais amor e compreensão. O ator reforçou que agora tenta "compreender em vez de julgar".

Para ele, "a mídia tem seus objetivos, sejam eles quais forem, mas me sinto acolhido pelas pessoas, como também aconteceu aqui". Vencedor de dois Oscars (por "Os Suspeitos" e "Beleza Americana"), o norte-americano enfatizou ainda que o carinho do público nunca lhe faltou.

Durante a masterclass, Spacey repassou algumas das etapas mais importantes de sua carreira e foi questionado sobre qual conselho Frank Underwood, o inescrupuloso presidente americano interpretado na série "House of Cards", daria ao atual, Donald Trump.

Sorrindo, ele respondeu: "Como ator, não tenho nenhum conselho para dar a Trump, mas, como ex-presidente, posso dizer que o poder é apenas uma questão de percepção e que ele só dura enquanto as pessoas permitem que você o faça durar." De acordo com Spacey, as seis temporadas da série foram "uma das experiências mais emocionantes e divertidas" da sua carreira.

"Nunca ri tanto quanto naquele set. Acreditávamos no que estávamos fazendo, tínhamos roteiristas incríveis e um elenco fantástico", concluiu.

Nos últimos anos, o astro de "Beleza Americana" continuou trabalhando em pequenos filmes independentes, como "O Homem que Desenhava Deus", de Franco Nero, a quem o ator agradeceu "por me contratar quando ninguém mais o faria".

Atualmente, entre seus projetos prontos estão o thriller "O Despertar", de Matt Routledge, e o thriller histórico "1780", de Dustin Fairbanks.

"Sempre quis seguir um caminho semelhante ao de atores como Jack Lemmon, que considero meu mentor, Jimmy Stewart ou Spencer Tracy, que tiveram carreiras que duraram décadas e sobreviveram a tudo", revelou.

Por fim, disse que se interessa "muito por histórias de redenção, histórias de silêncio e sobrevivência, e pelo espaço entre essas palavras". "Sinto que pesquisei bastante nessa área. Agora tenho uma compreensão que não tinha há sete anos", concluiu.