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Não é o teu 20 que te vai Salvar! Não?

Não é o teu 20 que te vai Salvar! Não?

Li um post recente, que não consigo reencontrar, com qualquer coisa do tipo “Não são os teus 20 valores que te irão ajudar na vida!”. A alusão era clara: bons alunos não têm competências sociais e não serão nem bons líderes nem eventualmente bons gestores. Olhei o post e procurei as respostas. E, como sempre, alguém mais iluminado responde, como é óbvio, da forma mais óbvia (Helena Sacadura Cabral): o post é uma generalização abusiva, é uma falsidade, e no seu caso pessoal foi a que melhor nota tirou na sua turma, entrou onde quis entrar e só não a deixaram subir mais na carreira que pretendia porque os lugares de topo não estavam disponíveis para mulheres (Banco de Portugal). Além de que, e bem, sublinha que fraseologia deste tipo não só é redutora como sem qualquer fundamento.

Claro está que a resposta tem 100% de razão e o post é mais um post fácil, sem qualquer cientificidade, para iludir, e sobretudo peca por uma ameaça de base crucial: isto é tudo fácil, é preciso é seres boa pessoa e teres competências sociais. É claro que as redes estão inundadas de coisas destas e congéneres. Mas chegar a uma correlação negativa entre notas e desempenho social e de liderança é notável, para não dizer de total desconhecedor da realidade.

Dando alguns exemplos – embora a lista seja longuíssima – que vou lendo e conhecendo apenas em Portugal: António Rios de Amorim foi para Birmingham fazer a sua licenciatura. Não consta que por lá dessem licenciaturas a maus alunos. António Horta Osório foi meu colega de turma no Colégio de São João de Brito e era um aluno brilhante, tanto no colégio quanto na Católica como no MBA do INSEAD. António Portela é licenciado em Economia pela FEP e fez o MBA da Porto Business School. Miguel Stillwell concluiu um M.Eng com Distinção em Engenharia Mecânica pela Universidade de Strathclyde (Glasgow, Escócia) e um MBA pelo MIT Sloan (Boston, E.U.A.). Miguel Maya tirou a sua licenciatura em Organização e Gestão de Empresas pelo Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE-IUL) e o Programa de Alta Direcção de Empresas (PADE) – AESE. João Bento é licenciado pelo IST, Mestre pelo IST e doutorado pelo Imperial College. Cláudia Azevedo é licenciada em Gestão de Empresas pela Universidade Católica e MBA pelo INSEAD. Ana Figueiredo é licenciada pelo ISEG e MBA pelo The Lisbon MBA. Miguel Sobral, chief Strategy Office da Hubexo, ex-CEO da Vortal, fez o Executive MBA do ISCTE Executive Education. Maria João Carioca, Co-CEO e CFO da Galp é licenciada pela NOVA SBE e tem o MBA no INSEAD. Enfim, a lista é extensa mas nenhum deles era mau aluno. Antes pelo contrário.

Todos eles têm falta de competências emocionais? Todos eles são destituídos para o que fazem e para exercerem as suas lideranças? Tenho boas impressões de todos eles e sei, porque assim é, que de maus alunos nada tinham. Nem todos seriam de nota 20, mas todos eram esforçados, disciplinados, focados, organizados para chegar longe. Essa disciplina que vem de pequenos molda pessoas, forja-as no trabalho e pena tenho, apenas, que como estes bons alunos não tenhamos muitos mais. Por outro lado, é confrangedor que tenhamos posts descontextualizados, sem cientificidade alguma e feitos por pessoas que devido à sua exposição deveriam assumir as suas responsabilidades.

Está para nascer o estudo que correlaciona negativamente bons alunos com aptidões sociais ou de liderança. Antes pelo contrário, os que existem, com cientificidade, têm um claro viés vantajoso para quem foi bom aluno. E uma nota final: o 20 é um resultado. Tudo o que está por detrás de um 20 é outra história. E falta sempre contá-la.

observador

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