O impacto da ligação de Trump ao caso de Epstein

A amizade entre Elon Musk e Donald Trump parece ter chegado ao fim depois de o magnata ter afirmado, na quinta-feira, que os ficheiros Epstein nunca foram tornados públicos porque o Presidente norte-americano está envolvido no crime. Mas afinal de que se trata o caso, qual a relação entre Donald Trump e Jeffrey Epstein e que impacto teria a sua divulgação?
A semana ficou marcada por vários confrontos entre os antigos aliados nas redes sociais. O bate-boca começou dias depois de Elon Musk ter abandonado o seu lugar como “funcionário especial” na administração norte-americana. No entanto, o conflito escalou quando o milionário anunciou que Donald Trump estava envolvido no caso de Jeffrey Epstein, o empresário acusado de liderar uma rede internacional de tráfico e exploração sexual de menores.
A ilusão de Trump para se livrar das alegadas ligações ao casoEm fevereiro, a Casa Branca revelou que o departamento de Justiça divulgou documentos nunca antes vistos relacionados com o caso Epstein. Os apelidados “Arquivos de Epstein: Fase 1” — que foram aparentemente obtidos através de buscas nas propriedades de Epstein em Nova Iorque e nas Ilhas Virgens Americanas — incluíam “muitos nomes”, registos de voos, agenda de contactos, fotografias e uma lista de mulheres que trabalhavam para o milionário.
Os documentos foram entregues a vários comentadores políticos conservadores durante uma cerimónia na Casa Branca que contou com a presença do Presidente Donald Trump, do vice-presidente, JD Vance, e do diretor do FBI, Kash Patel.
Tudo indicava que Donald Trump estava a cumprir o que prometeu (revelar e publicar os ficheiros). No entanto, de acordo com a imprensa americana, tudo não passou de uma ilusão. Liz Wheeler, comentadora política que esteve na cerimónia de entrega dos ficheiros, mostrou posteriormente o conteúdo: muitos documentos estavam censurados e não trouxeram novidades ao caso — tudo o que estava nos ficheiros já tinha sido revelado anteriormente.
Elon Musk alega que o Presidente norte-americano esteve, assim, a tentar encobrir a sua alegada ligação ao caso, uma vez que se fosse confirmado que estaria diretamente ligado ao crime, o impacto seria muito grande quer a nível político, quer a nível jurídico, enfrentando acusações graves que comprometeriam as suas funções na Casa Branca e abalariam a confiança pública no sistema de justiça dos Estados Unidos.
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Jeffrey Epstein, o “agressor sexual”O caso, que remonta ao início dos anos 2000, envolve um conjunto de crimes sexuais (tráfico, abuso e exploração de menores) cometidos pelo empresário Jeffrey Epstein e tem possíveis ligações a pessoas influentes e poderosas de todo o mundo — políticos, empresários e membros da realeza.
Em 2005, as autoridades da Flórida começaram a investigar Epstein, depois de surgirem os primeiros rumores de condutas sexuais inapropriadas com menores. O empresário passou a ficar registado como “agressor sexual” depois de se ter confessado culpado de solicitar a uma menor de idade que se prostituísse — mais tarde, foi revelado que estavam envolvidas dezenas de raparigas.
Três anos depois, em 2008, Epstein assinou um acordo de não acusação muito polémico, cumprindo 13 meses de prisão, com permissão para sair seis dias por semana para trabalhar. Saiu praticamente ileso, uma vez que um “exército” de advogados e investigadores privados tentaram desacreditar as mulheres que o acusaram. Epstein afirmou, na altura, que estava convencido que as jovens eram maiores de idade e ficou garantida a imunidade para todos os que pudessem estar envolvidos no caso.
Em 2019, foi novamente detido e acusado de tráfico sexual que envolvia novas vítimas. Desta vez, no documento da acusação, é referido que Epstein sabia que as raparigas eram menores de idade e que teria conspirado com os seus amigos famosos. Caso fosse condenado, poderia ficar 45 anos na prisão.
Jeffrey Epstein acabou por ser colocado numa prisão de alta segurança em Manhattan. Morreu em agosto do mesmo ano, aos 66 anos, enquanto aguardava julgamento. A causa da morte foi oficialmente declarada um suicídio.
Os ficheiros Epstein que envolvem Donald Trump“Donald Trump está nos ficheiros Epstein. Esta é real razão pela qual nunca foram tornados públicos”, anunciou Elon Musk na rede social X, como resposta às declarações do Presidente da Casa Branca, nas quais ameaçou suspender os contratos milionários do governo federal com as empresas ligadas ao empresário.
Time to drop the really big bomb:@realDonaldTrump is in the Epstein files. That is the real reason they have not been made public.
Have a nice day, DJT!
— Elon Musk (@elonmusk) June 5, 2025
Em 2021, depois da morte de Jeffrey Epstein, a antiga namorada, Ghislaine Maxwell, foi presa e condenada por aliciar menores que eram abusadas pelo milionário. A partir daí, muitas vítimas começaram a falar publicamente e as investigações continuaram para descobrir os possíveis envolvidos no crime.
Entre 2023 e 2024 foram tornados públicos 46 documentos sobre o caso. Cerca de mil páginas foram analisadas pelos meios de comunicação sociais norte-americanos e concluiu-se que figuras públicas como o Príncipe André do Reino Unido, Bill Clinton, Donald Trump, Michael Jackson, David Copperfield e Stephen Hawking estavam envolvidos. No entanto, os documentos revelados eram apenas meras referências às personalidades com quem o empresário mantinha relações na altura.
Segundo os documentos judiciais desclassificados, a ligação do Presidente norte-americano ao caso é descrita por uma das vítimas de Epstein. Embora Donald Trump nunca tenha sido formalmente acusado de qualquer crime, Johanna Sjoberg relatou que Jeffrey Epstein sugeriu ligar para Trump durante uma viagem de avião em 2001. Ao fazerem uma paragem em Atlantic City, o milionário sugeriu que visitassem o casino do agora líder da Casa Branca. Questionada sobre se teria feito algum serviço para Trump, Johanna Sjoberg respondeu que não.
Sabe-se, apenas, que Donald Trump era amigo de Jeffrey Epstein, participando em festas particulares organizadas por este durante as décadas de 1990 e 2000. O Presidente norte-americano chegou, também, a voar diversas vezes no jato privado de Epstein e, em 2002, afirmou que conhecia “Jeff há 15 anos”, descrevendo-o como um homem “fantástico“. “É muito divertido estar com ele”, garantiu na altura.
Antes de Elon Musk acusar o seu antigo aliado de estar envolvido no caso, o vice-diretor do FBI, Dan Bongino, garantiu à Fox News, na quarta-feira, que iriam ser divulgados mais documentos relacionados com o caso Epstein nas próximas semanas.
observador