Vitórias de ‘O Agente Secreto’ em Cannes coroam bom momento para o cinema brasileiro

Os prêmios recebidos por O Agente Secreto, dirigido por Kleber Mendonça Filho, no Festival de Cannes, na França, neste sábado 24, coroam um semestre de bonança para os filmes brasileiros.
Ainda que as conquistas internacionais sempre tenham pontuado a história do cinema feito no País, a tríade de reconhecimentos recebidos no Festival de Berlim, em fevereiro, por O Último Azul; no Oscar, em março, por Ainda Estou Aqui; e em Cannes, agora, tem algo de único.
Participar da competição pela Palma de Ouro é, por si só, uma conquista enorme. Afinal de contas, são apenas 22 os selecionados, entre filmes do mundo todo, para a disputa. Sair de lá com dois prêmios, como aconteceu com O Agente Secreto – melhor diretor e melhor ator, para Wagner Moura – é um feito que muda completamente a carreira de um longa-metragem.
O filme, não por acaso, fechou, lá mesmo, dois acordos de peso. A Neon, distribuidora de alguns vencedores recentes de Palma de Ouro, como Parasita (2019), Anatomia de uma queda (2023) e Anora (2024) e), lançará o thriller político brasileiro nos Estados Unidos.
A Mubi, tradicional plataforma do cinema de arte e distribuidora, nos cinemas, de filmes como Dias perfeitos (2023) e A Substância (2024), adquiriu os direitos para territórios como Reino Unido, Índia e América Latina.
Esse movimento do mercado internacional, anterior ao anúncio dos prêmios, indica não só que Kleber era visto como um potencial vencedor como que O Agente Secreto deve ser trabalhado como um possível indicado ao Oscar.
No Brasil, o filme, em termos de público, deve se beneficiar tanto da visibilidade gerada por um festival como Cannes – o principal do mundo – quanto do retorno dos espectadores às salas para ver as produções feitas aqui.
As bilheterias dos filmes brasileiros, que tinham caído de maneira vertiginosa a partir da pandemia, registraram uma recuperação importante a partir de Ainda Estou Aqui, lançado em novembro de 2024.
Na sequência do título dirigido por Walter Salles, vieram outros longas-metragens que dialogaram bem com o público, como Auto da Compadecida 2, Chico Bento e a Goiabeira Maraviosa, Vitória e Homem com H.
Este ano, de acordo com a Agência Nacional do Cinema (Ancine), 8,5 milhões de pessoas foram aos cinemas ver um filme brasileiro – número que corresponde a 20% de todos os ingressos vendidos no País. É também esse contexto que torna este primeiro semestre de 2025 marcante.
A delegação brasileira, de ‘O Agente Secreto’, em Cannes.Foto: Antonin THUILLIER / AFP
Ao reconhecimento internacional soma-se, neste momento, um reencontro com o público. Cabe lembrar que O Agente Secreto, embora fosse a grande estrela, não estava sozinho em Cannes. Este ano, o Brasil foi o País de honra do Mercado do Filme, espaço em que são feitos acordos de coprodução e negociados filmes e projetos, e levou para o festival, a maior delegação de sua história.
Coube ainda a um conjunto de quatro curtas-metragens brasileiros, produzidos no Ceará, sob a supervisão do realizador cearense Karim Aïnouz, a abertura de seção paralela Quinzena dos Realizadores. Também vieram do Nordeste, mais especificamente de Pernambuco, Kleber e Gabriel Mascaro, diretor de O Último Azul, premiado na Berlinale.
Os nós do cinema brasileiro podem ser muitos – e difíceis de desatar –, mas, neste momento, não se pode negar seu vigor. E os prêmios que vieram de forma sequencial devem ser celebrados como fruto do talento e da persistência individual, mas também como resultado de um longo caminho coletivo.
CartaCapital