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A Opinião Pública

A Opinião Pública

A opinião pública é como um provérbio, uma notícia falsa, uma anedota e uma adivinha: ninguém a inventou, e ninguém sabe como começou. Resulta do esforço incoordenado de muitos agentes, isto é, daquilo que muitas pessoas fazem sem terem antes combinado nada umas com as outras. Ao perceber esses resultados, muitas reconhecem-se no esforço e sentem-se reconfortadas pelo facto de mais pessoas terem opiniões parecidas com as suas: e podem até montar um pequeno leilão em que as tentam aperfeiçoar. Mas o resultado desse leilão é precário, e só por felicidade corresponde às intenções prévias dos participantes.

A quem estuda provérbios, boatos, anedotas e adivinhas intriga a ideia de esforço incoordenado de muitos agentes; fala-se por isso de sabedoria popular, de consciência nacional, ou de inconsciente colectivo; e a opinião pública é explicada muitas vezes com a ajuda da noção genérica ‘aquilo que as pessoas acham lá em casa.’ Mas nenhuma das entidades que ocorrem nessas explicações existe: nunca ninguém as encontrou, ou explicou bem como se formam. O mais provável é que ‘as pessoas lá em casa’ seja apenas uma maneira de explicar acções incoordenadas de muitas pessoas.

A opinião pública muda frequentemente de aspecto: às vezes parece antiga como uma adivinha; e outras vezes recente como aquilo que acabou de acontecer. Não é mais fiável que as suas primas mais velhas; e o conhecimento que manifesta não é mais actualizado ou aliás menos importante que o das nossas comédias e provérbios. Tal como não inventamos novos provérbios para substituir provérbios inadequados, assim não podemos inventar opiniões públicas melhores do que as de que dispomos. A opinião pública altera-se como uma parede que muda de côr ao sol, não como uma parede que é pintada de outra côr por decisão de alguém.

Pelo contrário, um provérbio, uma notícia falsa, uma adivinha ou uma anedota são como a grande arte. A sua durabilidade e persistência estão ligadas ao veredicto reiterado das pessoas com sentimentos delicados, isto é, ao consenso continuado dos apreciadores de certos produtos, aos seus hábitos e decisões. Os cultores dessas formas gnómicas criam sociedades de pessoas que as repetem e que se reconhecem através delas, e que em conjunto se lembram delas como quem evoca passagens da Ilíada ou assobia êxitos musicais.

A opinião pública, parecendo vetusta, tem uma validade demasiado curta para que possa ser explicada como quem explica a perdurabilidade dos clássicos. Aquilo que as pessoas acham lá em casa é como um provérbio instantâneo, que se altera com o seu próprio êxito de estima. Com efeito, os membros do público, mas não os contadores de anedotas ou os apreciadores de arte, acabam por deixar de se reconhecer nas suas opiniões quando percebem que coincidem com as opiniões de muitas pessoas. No fundo o público nunca gostou da opinião pública; e a opinião pública altera-se por causa desse desagrado do público.

observador

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