Como os juros elevados geram um novo xadrez no mercado de fusões e aquisições de empresas

O cenário econômico brasileiro tem sido marcado por juros persistentemente elevados, impondo desafios significativos ao mercado de fusões e aquisições (M&A).
O aumento do custo do financiamento afeta diretamente a viabilidade das operações, tornando a alavancagem financeira - comum nesse tipo de transação - menos atrativa. Com margens de lucro comprimidas, o retorno sobre o investimento se torna mais lento, levando compradores a adotar uma postura mais conservadora em relação a esse tipo de operação.
Além disso, os juros altos favorecem investimentos em renda fixa, considerados mais seguros nesse contexto. Isso tende a reduzir a liquidez disponível para M&A, sobretudo por parte de fundos de private equity, que dependem de crédito para estruturar suas aquisições. Investidores estrangeiros também se mostram mais cautelosos, diante de um Brasil comparativamente mais caro do que outros mercados emergentes.
A alta dos juros impacta, ainda, a própria avaliação das empresas-alvo, especialmente quando se utiliza o modelo de fluxo de caixa descontado (DCF), amplamente adotado para estimar o valor de uma empresa com base em sua capacidade futura de geração de caixa. Nesse método, os fluxos de caixa esperados são trazidos para valor presente por meio de uma taxa de desconto conhecida como custo médio ponderado de capital (WACC, na sigla em inglês). Com a elevação dessa taxa - que reflete o custo de capital próprio e de terceiros -, o valor presente dos fluxos de caixa diminui, pressionando para baixo as estimativas de valor e ampliando o desalinhamento entre as expectativas de compradores e vendedores.
Para contornar esses entraves, participantes do mercado têm adotado estruturas diferenciadas, como pagamentos contingentes (earn-outs), instrumentos atrelados ao desempenho futuro e maior uso de moeda variável.
Tais mecanismos ajudam a mitigar riscos em um ambiente volátil. Também se observa maior rigor nas due diligences, com foco especial na saúde financeira das empresas-alvo e em sua capacidade de geração de caixa.
Apesar dos desafios, o cenário atual abre espaço para movimentos estratégicos. Empresas com boa posição financeira podem aproveitar a desvalorização de ativos ou adquirir concorrentes em dificuldades.
Setores resilientes - como energia, infraestrutura e tecnologia - permanecem atrativos. Em momentos de instabilidade, o mercado de M&A exige cautela e criatividade, mas continua sendo peça-chave na reorganização empresarial e no dinamismo da economia brasileira.
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