Deportado por engano regressa aos EUA

Kilmar Armando Abrego Garcia, o homem que foi deportado “por erro” dos EUA para uma prisão em El Salvador, já regressou a território norte-americano. Segundo a imprensa norte-americana, Abrego Garcia enfrenta acusações por auxiliar migrantes sem documentos a entrarem nos EUA.
Abrego Garcia, de 29 anos, tem estado no centro das atenções desde que, a 15 de março, foi deportado do Maryland para El Salvador, de onde é natural. Fez parte de um grupo de 261 homens deportados para El Salvador — porém, foi o único caso em que a administração Trump admitiu que a deportação tinha sido um “erro administrativo”. A família avançou com um processo contra o Estado norte-americano e uma juíza do Maryland ordenou a correção do “erro” e o regresso do homem aos EUA até 7 de abril — algo que só aconteceu agora.
Foi deportado por engano para uma das piores prisões do mundo, mas Trump recusa trazê-lo de volta
A administração Trump opôs-se às decisões de três tribunais federais, que exigiram o regresso de Abrego Garcia. Segundo o New York Times, o regresso do homem estaria a ser preparado de forma discreta “há várias semanas”.
Em conferência de imprensa, esta sexta-feira, Pam Bondi, a procuradora-geral, declarou que “Abrego Garcia aterrou nos EUA para enfrentar a justiça”. Em Washington, descreveu-o como “um traficante de humanos, de mulheres e de crianças”, cita o New York Times.
As acusações de Pam Bondi deverão basear-se na tese descrita em documentos do tribunal, que são citados pela ABC News. Nessa acusação, é dito o imigrante é acusado de participar numa “conspiração” ao longo de quase uma década para transportar “milhares” de pessoas do México e da América Central, incluindo crianças, em troca de milhares de dólares.
Abrego Garcia é acusado pela justiça norte-americana de ter feito pelo menos 100 viagens deste género, transportando pessoas do Texas para o interior dos EUA. Entre as pessoas alegadamente transportadas estariam vários membros do gang MS-13, de El Salvador, dizem à ABC News as fontes com conhecimento da investigação.
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A investigação que agora visa Abrego Garcia terá sido iniciada em abril, quando as autoridades federais decidiram analisar as circunstâncias de uma operação stop, em 2022. O homem foi mandado parar pela patrulha de trânsito do Tennessee por excesso de velocidade — transportava oito passageiros e terá dito à polícia que vinham de um trabalho de construção no Missouri. Fontes declararam à ABC News que, nas câmaras corporais usadas pelos agentes na operação stop, teria sido discutido que poderia ser um caso de transporte ilegal de pessoas, já que ninguém tinha bagagem. Na altura, Abrego Garcia saiu do local apenas com um aviso sobre a carta de condução expirada.
Numa nota enviada à ABC News, a defesa de Abrego Garcia declara que vai continuar a lutar para garantir que o homem de 29 anos tem acesso a um julgamento justo. “Desde o início, uma coisa tem sido dolorosamente clara neste caso: o governo tinha o poder de o fazer regressar a qualquer momento. Em vez disso, escolheram jogar jogos com o tribunal e com a vida de um homem”, diz o advogado Simon Sandoval-Moshenberg à ABC News.
“Não estamos só a lutar pelo Kilmar — estamos a lutar para garantir que os devidos direitos no processo são protegidos para toda a gente. Porque amanhã isto pode acontecer a qualquer um de nós — se deixarmos o poder sem escrutínio, se ignorarmos a nossa Constituição.”
observador