Entre o legado “tenebroso” do PSD e a “estagnação” do PS, Gaia agita-se para a batalha autárquica


Promete ser intensa e agitada a corrida à Câmara de Gaia, o terceiro concelho mais populoso do país, com quatro nomes já confirmados, entre eles, o “peso pesado” Luís Filipe Menezes que quer destronar os socialistas, trazendo consigo um legado de três maiorias absolutas em outras tantas autárquicas. Contudo, após 12 anos à frente da autarquia, o PS não tenciona ceder a maior câmara de que dispõe no país — Lisboa foi perdida por Fernando Medina para o social-democrata Carlos Moedas em 2021 e no Porto os socialistas não se sentam na cadeira do poder desde que Fernando Gomes deu lugar a Rui Rio, há 24 anos.
Agora, em Gaia, com o trunfo Menezes já colocado sobre a mesa e o autarca socialista eleito em 2021 já fora do baralho, o PSD lançou mais uma cartada: o ministro Paulo Rangel como candidato à Assembleia Municipal (AM) à semelhança do que fez, em Braga, com o seu homólogo da Educação, Fernando Alexandre.
O ministro dos Negócios Estrangeiros avança, assim, ao lado de Luís Filipe Menezes, candidato ao município pela Coligação “Gaia sempre na frente” — PSD, CDS e IL — e bastante elogiado por Paulo Rangel durante a apresentação da candidatura, na última segunda-feira, numa sala apinhada de gente na cidade gaiense.
“Odiado” por uns e “amado” por outros, nem todos são favoráveis a Menezes, como é o caso do adversário socialista, que recentemente lhe atirou algumas farpas políticas, ainda o nome do veterano social-democrata era só um rumor nos bastidores do PSD para entrar na corrida à Câmara de Gaia.
João Paulo Correia, ex-secretário de Estado de Estado da Juventude e do Desporto de António Costa, apontou-lhe o dedo por ter deixado “uma dívida brutal” no município e ter “levado à falência algumas empresas locais” ao pagar a fornecedores “com mais de um ano de atraso”. E foi mais longe, ao qualificar “de muito tenebroso” o último mandato de Luís Filipe Menezes na autarquia gaiense.
Na troca de galhardetes, o atual ministro dos Negócios Estrangeiros qualificou a candidatura de Menezes de “audaz e cheia de coragem”, enquanto o candidato e antigo presidente do PSD foi justificando que se tratou de “uma decisão amadurecida com tempo e ponderação”. E que regressou à vida política, depois de 12 anos afastado, na sequência de diversos pedidos de pessoas do partido e de outros cidadãos.
Eleito por quatro vezes consecutivas (1997 a 2013) e sempre com maioria absoluta, Menezes deixou-se convencer, mas agora resta saber se consegue persuadir os eleitores a votarem nele nas eleições de 12 de outubro. Foi eleito em 1997 e reeleito depois em 2001, 2005 e 2009, ainda não estava em vigor a lei de limitação de mandatos.
O antigo líder do PSD esteve 16 anos à frente da autarquia gaiense, de onde saiu em 2013 para se candidatar à Câmara do Porto, no outro lado da margem do rio Douro, acabando por perder para o independente Rui Moreira. Chegou a ser criticado por ter renunciado ao cargo de vereador e ter afirmado: “Fui ali ao lado, a uma outra parte do Porto, que é Vila Nova de Gaia, fazer uma comissão de serviço. Nunca deixei de dormir nesta margem.”
Há já alguns meses que os social-democratas tentavam “seduzir” o antigo presidente do partido, no sentido de se recandidatar ao município. Mas este manifestou-se sempre indisponível e até chegou a desmentir as notícias de que seria o cabeça de lista do PSD à Câmara de Gaia. Depois de todas estas hesitações e com o seu nome a circular nos bastidores do partido, afinal o médico chegou-se à frente e pela Coligação “Gaia sempre na frente” com o CDS e IL, à semelhança do que acontece com Pedro Duarte na corrida ao município do Porto.

O médico, que chegou a ser secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, entre 1991 e 1995, no Governo de Cavaco Silva, viu o seu nome ser aprovado, na última sexta-feira, pela concelhia do PSD de Gaia. Num comunicado, os social-democratas elogiaram “o seu notável percurso, a sua profunda ligação ao concelho, o legado de 16 anos que a todos orgulha, a par da sua reconhecida capacidade criadora, que contrastam com a estagnação e o descrédito dos últimos 12 anos”.
PS acusa Menezes de deixar “dívida brutal” no municípioOs socialistas não querem perder a câmara liderada nos últimos 12 anos por Eduardo Vítor Rodrigues, que saiu recentemente depois de ter sido condenado a perda de mandato por suspeita da prática do crime de peculato. Uma polémica que terá “estremecido” um pouco os alicerces da autarquia. Já o seu antigo vice-presidente Patrocínio Azevedo esteve em prisão preventiva no âmbito da Operação Babel. Na realidade, estes não têm sido tempos fáceis para o PS, que foi sofrendo algum desgaste político.

Em dezembro de 2024, os socialistas foram buscar o ex-secretário de Estado de Estado da Juventude e do Desporto de António Costa, confiantes de que vão manter o município debaixo das asas do partido. Aos 48 anos, João Paulo Correia, também ex-presidente da União de Freguesias de Mafamude e Vilar do Paraíso é a cartada que o PS lançou a 10 meses das eleições.
João Paulo Correia elege a habitação com arrendamento acessível como bandeira, e nisto ambos os candidatos não destoam. Correia anunciou uma “carta de compromisso” com prioridades para o concelho, que incluem mais de 1.100 habitações até 2029 e um total de 5.000 até 2035, com “particular foco no arrendamento acessível”.
Já o seu adversário político do PSD promete “a construção de 4.000 casas neste primeiro mandato com rendas acessíveis e controladas, sendo 40% delas no interior e Sul de Gaia”.
O ex-secretário de Estado da Juventude e do Desporto no Governo de António Costa também prometeu gratuitidade do andante para jovens até aos 30 anos. Já na área da saúde, pretende apostar na segunda fase de requalificação do hospital, avaliada em cerca de 200 milhões de euros e na sua elevação a hospital universitário.
Se o candidato do PSD apresenta mais de década e meia de experiência, o socialista conta com o apoio de quem esteve nos últimos 12 anos à frente da câmara, tendo saído quando faltam pouco mais de três meses de mandato por uso indevido de um carro da câmara. Ao ECO/Local Online, Eduardo Vítor Rodrigues afirma que “João Paulo Correia vai ter a sorte de ter os cofres cheios. Desejo-lhe a maior sorte. Estarei empenhado no trabalho político pelo João Paulo e pelas freguesias.”
CDU e Volt apostam em candidatos jovens
Do lado da CDU o nome escolhido para entrar na corrida é o de André Araújo, que, aos 26 anos, se candidata pela Coligação PCP/Partido Ecologista “os Verdes” (PEV). Eleito na Assembleia Municipal de Vila Nova de Gaia e na Assembleia de Freguesia de Mafamude e Vilar do Paraíso durante o mandato 2021-2025, o candidato comunista “foi protagonista de uma destacada intervenção, no âmbito da Assembleia Municipal, profundamente ligada à realidade e às gentes do concelho”, lê-se na página da internet do PCP Porto.
Mais, André Araújo destacou-se “na denúncia das trapalhadas da rede UNIR [rede de autocarros da Área Metropolitana do Porto (AMP)] e da injustiça que representa para os gaienses a manutenção de portagens na A29”, prosseguem os comunistas.
Membro da Comissão Concelhia de Vila Nova de Gaia do PCP e do seu executivo, o jovem candidato vai, assim, erguer as bandeiras relacionadas com as questões dos transportes e mobilidade, a habitação e o ambiente e urbanismo, durante esta campanha eleitoral.

Dois anos mais novo do que o candidato comunista, Daniel Gaio, 24 anos, concorre às autárquicas de 12 de outubro pelo Volt Portugal com o compromisso de apresentar “soluções eficazes”, alicerçadas em boas práticas europeias. Aponta baterias para uma estratégia centrada na reabilitação urbana para arrendamento acessível, expansão da habitação pública e cooperativa, e melhorias nos transportes públicos.
“Quero que Gaia deixe de ser apenas um dormitório do Porto e se torne num concelho vibrante, inovador e sustentável”, afirmou o candidato numa das suas intervenções públicas.
Licenciado em Línguas e Relações Internacionais pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto (FLUP), Daniel Gaio é atualmente gestor de parcerias numa empresa de luxo da área da hotelaria e integra o Volt desde 2017.
As restantes forças partidárias ainda não apresentaram publicamente os seus candidatos à Câmara Municipal de Gaia.
ECO-Economia Online