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Nova regulação e política afastam ‘ESG’ dos nomes de fundos

Nova regulação e política afastam ‘ESG’ dos nomes de fundos

Alterações aos nomes de produtos financeiros relacionados com ESG têm sido cada vez mais comuns — quer seja através de adicionar termos, deixá-los cair ou trocá-los. No primeiro trimestre deste ano, estas mudanças atingiram mesmo um novo pico, detetou a Morningstar. Um novo contexto geopolítico mundial, a par do surgimento de nova legislação na Europa, estará a impulsionar a mudança.

335 fundos europeus cujos nomes continham termos relacionados com ESG alteraram a respetiva designação no primeiro trimestre, sendo que 116 eliminaram mesmo as referências à sustentabilidade, lê-se num relatório lançado no final de abril, com os dados mais recentes disponíveis. O número de fundos a trocar termos do universo ESG mais que duplicou, no mesmo período. O termoESG” foi o mais removido, tendo sido retirado da nomenclatura de 128 fundos, 96 dos quais com estratégias passivas.

Ao longo dos últimos 15 meses, mais de 640 fundos europeus que continham termos relacionados com ESG fizeram alterações, sendo que a larga maioria (590) optou por deixar cair estas referências.

“Novas palavras surgiram para substituir termos controversos”, escreve a Morningstar. As opções recaíram sobre “Selecionado”, “comprometido”, “otimizado”, “líder” ou “previdente”. “É esperado que esta tendência continue”, conclui a Morningstar, no relatório.

Trump, regulação, custo-benefício e competitividade na UE. As razões das trocas

Dennis Baas, líder da equipa de Estrategistas de Sustentabilidade da Allianz Global Investors (AllianzGI), acompanhou este movimento de perto: na Allianz Global Investors, 37 fundos enquadravam-se no âmbito das diretrizes da ESMA dedicadas à nomenclatura de fundos, mas os termos relacionados com os critérios ESG foram removidos de seis nomes de fundos, restando atualmente 31 com terminologia

Baas concede que a tendência “sugere que alguns fundos podem não ter sido rotulados adequadamente no passado”. A responsável legal da energética Helexia, Alice Khouri, acusa o “provável uso de ESG como ferramenta exclusivamente de marketing” no nome destes fundos.

Porém, e acordo com Baas, a reformulação também “pode refletir um reposicionamento estratégico ou uma abordagem mais cautelosa da terminologia ESG em resposta ao crescente escrutínio regulamentar”.

Em maio, entraram em vigor as orientações da Autoridade Europeia dos Valores Mobiliários e dos Mercados (ESMA, da sigla em inglês), que se debruçam sobre a nomenclatura dos fundos, estabelecendo critérios obrigatórios para a utilização dos termos relacionados com o ESG. Pouco tempo antes, em abril, entraram em vigor no Reino Unido os Requisitos de Divulgação de Sustentabilidade (SDR, da sigla em inglês), os quais introduzem nas divulgações ao nível da entidade e do produto um sistema voluntário de rotulagem de fundos. O objetivo de ambos é “melhorar a proteção dos investidores e promover uma maior transparência”, explica o líder de Sustentabilidade da AllianzGI.

Na mesma linha, Madalena Perestrelo de Oliveira, consultora sénior de Bancário, Financeiro e Fusões e Aquisições na PLMJ, vê uma dupla justificação para o rebranding destes fundos. Por um lado, a “necessidade de alinhar a designação dos fundos com as suas políticas de investimento reais”, já que, “em muitos casos”, os nomes utilizados anteriormente não refletiam “com precisão” o conteúdo dos produtos. Em paralelo, “existem situações em que a mudança de nome acompanha uma revisão efetiva da estratégia de investimento“.

Para Perestrelo de Oliveira “a sustentabilidade deixou, gradualmente, de ocupar uma posição central” no discurso geopolítico. A nível europeu, deteta “um discurso crescente que privilegia a competitividade em detrimento da sustentabilidade“, partindo do pressuposto “discutível” de que reduzir exigências regulatórias em matéria ESG favorecerá o dinamismo económico.

"Existem situações em que a mudança de nome acompanha uma revisão efetiva da estratégia de investimento.”

Pedro Baldaia, head of Equities do Banco Carregosa, aponta como razão para o rebranding uma lógica de “custo-benefício”, interpretando que as gestoras terão constatado que não teriam capacidade ou interesse em cumprir com as exigências regulatórias quanto à sustentabilidade da denominação dos fundos.

O mesmo acusa um “certo sentimento de desilusão da indústria com a arquitetura do modelo ESG“. A combinação de variáveis de natureza muito diferenciada, de validade “por vezes subjetiva” e com pesos “arbitrários”, assim como a dificuldade e o custo de obtenção de informação atualizada e relevante, serão motivos de desmotivação. As empresas europeias têm a agravante de uma “uma situação concorrencial desfavorável perante congéneres sediadas em países onde não são impostas regras similares”, remata.

Além disso, Baldaia sublinha que a atração de novos investidores, muitos oriundos de geografias onde as exigências ESG são menores, dita que diminua a pressão de criação de fundos ligados à sustentabilidade.

O nome do presidente norte-americano é também dos mais citados entre as justificações. “O contexto norte-americano tem tido um efeito de contaminação”, considera a consultora sénior de Bancário, Financeiro e Fusões e Aquisições na PLMJ, apontando uma “crescente polarização política” pautada por críticas ao ESG e medidas agressivas, o que leva a uma “abordagem mais cautelosa” por parte dos gestores de ativos. Baldaia destaca uma “perda de importância relativa de fatores normalmente identificados com uma estratégia ESG”, que se traduz por exemplo na menor relevância das políticas de diversidade e inclusão, na desaceleração de investimento em energias renováveis ou no aumento de investimento no setor da defesa.

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