O JNcQUOI chega (de buggy) à Comporta. “Não queremos ser os maiores, mas queremos ser os melhores”

Está a nascer um novo resort de luxo discreto na costa alentejana. O JNcQUOI vai de Lisboa até à Comporta, e só se poderá circular mesmo de 'buggy'. Miguel Guedes de Sousa guiou-nos até ao futuro.
Em Lisboa, 30º, na Comporta, 30º, e uma brisa que faz com que tudo se leve melhor. Miguel Guedes de Sousa, cofundador e presidente do Amorim Luxury Group, abriu o portão da propriedade na Comporta à imprensa estrangeira e ao ECO Avenida, e deu a conhecer o que vai ser o segundo hub do grupo, o JNcQUOI Club Comporta, quando, dentro de dois anos, o complexo estiver pronto. A primeira notícia é que, de acordo com os planos, se verá tão pouco como agora. O design das 64 villas e dos ‘pavilhões’, da autoria do arquiteto belga Vincent Van Duysen, quer resguardar a integridade do lugar – um casamento de mar e campo.
Os carros ficam para trás, no estacionamento, seguimos em buggies pretos e começamos a percorrer a propriedade, começando numa área de reserva natural – que assim se manterá – e em direção à área onde se vai erguer o complexo propriamente dito por uma caminho de areia, protegidos do sol por pinheiros e rodeados de uma vegetação baixa, mas densa, e dunas que criam privacidade sem que façam falta cercas ou vedações. Hoje, e no futuro, por estes caminhos só poderão circular viaturas elétricas. Os carros ficam num estacionamento de 200 lugares à entrada e os membros e hóspedes (tratados como membros durante a sua estadia) passam para buggies (cada villa tem um ou dois atribuídos).
É um percurso de cinco minutos durante os quais se vão vislumbrando placas que anunciam o que será construído – villas, a piscina familiar, spa e athletic club, racket club e pavilhões dispersos pelo espaço. “Bem-vindos ao nosso santuário”, diz Miguel Guedes de Sousa, arrancando a apresentação do projeto JNcQUOI na Comporta para duas dezenas de jornalistas oriundos de várias partes do mundo – Europa, Brasil, EUA, Itália, Espanha, Emirados… (e o ECO Avenida, o único meio português nesta apresentação). As primeiras 24 casas anunciadas no início de 2025 já foram vendidas, a 15 mil euros o metro quadrado, e, com isso, outras 12 foram acrescentadas a esta primeira fase. A portugueses, mas especialmente a residentes estrangeiros no país, e que já são membros do JNcQUOI Avenida.
Miguel Guedes de Sousa quer criar na Comporta uma comunidade JNcQUOI de fiéis como aquela que já vem sendo construída em Lisboa com os serviços do grupo. Um hub na capital, outro a 90 minutos de carro (e um serviço de SUV da Land Rover que permite criar a ligação entre eles).

O nome JNcQUOI inscreveu-se na cidade há oito anos com a abertura do restaurante da Avenida da Liberdade e é hoje uma marca de lifestyle que junta vários conceitos – Avenida, Ásia, Club, Froufrou, Beach Club, Deli Comporta – sob o guarda-chuva da Amorim Luxury Group, detentor da Fashion Clinic, Paula e House of Capricorn. “Queríamos criar algo juntos. A Paula gosta de moda e lifestyle. Eu gosto de hospitality”, conta Miguel Guedes de Sousa. Paula é a mulher, essa mesmo, Paula Amorim, líder do grupo Amorim e presidente da Galp, mas, neste caso, chairman e cofundadora do Amorim Luxury Group e a pessoa que em 2005 adquiriu as lojas Fashion Clinic.
“Fazíamos colagens de páginas de revistas”, e dessas tantas ideias numa parede foi surgindo o JNcQUOI e alguns verbos-chave que Miguel Guedes de Sousa sublinha: Comer. Beber. Comprar. Viver. Pertencer. “Queríamos ter os clientes perto de nós, que gostassem tanto que ficassem connosco”, explica o gestor, reforçando o espírito de membership, que está na génese do crescimento do JNcQUOI.
Uma frase vem unir o conceito: “Heartful legacy”, um legado em que a família está presente em cada etapa. Além de Miguel e Paula, os filhos, Rui e Francisca. Ambos têm um papel aqui. Rui, estudante de imobiliária, ex-CBRE, está ligado ao desenvolvimento do projeto imobiliário. Francisca, acabada de se formar na École hôtelière de Lausanne, vai estagiar para Nova Iorque e aprofundar os seus conhecimentos. “É feito para durar”, diz Miguel Guedes de Sousa.
Os 164 hectares que ocupará o JNcQUOI Club Comporta estavam nas mãos da família Espírito Santo, e no GES, e há pouco menos de uma década foi a hasta pública. Mas, lembra Miguel Guedes de Sousa, a história é bem mais antiga e cruza-se com o rei D. Carlos que vinha para aqui. E embora não existam praias privadas em Portugal, “esta propriedade é a única que tem a sua praia”, explica Miguel Guedes de Sousa. Mas rejeita as críticas e o que considera jornalismo sensacionalista sobre o acesso às praias públicas e os acessos privados (já lá vamos).
São 700 metros entre a zona de villas e pavilhões em várias tipologias e o oceano. Todas as casas têm pavilhões, que podem, ou não, entrar na lista de disponibilidades do hotel. O projeto da autoria do arquiteto belga Vincent Van Duysen que entra na história cedo, mas quando a ideia já estava em marcha. A história é contada por Miguel: Paula e ele iam a uma jantar em casa de amigos com outro casal e quando chegaram, a amiga notou, com espanto e agrado, que Van Duysen estava entre os convidados. A amizade imediata. Ato seguinte, Paula e o marido conheceram a casa – a Casa M – que Vincent construiu para si mesmo na Comporta. A sintonia foi total. Mas com ela veio uma dor de cabeça…

“Eu cometi um erro!”. Miguel recorda as palavras ditas à mulher, após aquele encontro com Van Duysen. Por essa altura, o projeto de arquitetura para a propriedade já estava em marcha. Na primeira fila, Paula acena afirmativamente com a cabeça. Ele prossegue a história e conta a pergunta que a mulher lhe fez: “Tu queres mudar tudo não queres?”. Foi ela que voltou atrás. “Que teve a coragem”, diz Rui Amorim, o filho mais velho, também na primeira fila. E aconteceu.
Vincent van Duysen, que é também o responsável pelo design da nova loja Fashion Clinic em Lisboa, concebeu o projeto do JNcQUOI Club Comporta por inteiro – exterior, interior e mobiliário. A poucos metros da apresentação, e ainda não se tinha dado por ele, está pronto um dos futuros pavilhões do hotel. O autor faz as despesas da visita explicando os pormenores.
Não é um bunker, mas é preciso descer um lance de escadas até um pátio para compreender o edifício, através de uma porta de vidro que se abre para o pavilhão e deixa ver os seus detalhes como uma claraboia redonda que enche o espaço de luz e é protagonista do espaço. É irresistível espreitar por essa escotilha, a partir da mesa ou da cama.
Cumprindo a vontade do arquiteto de esbater fronteiras entre o interior e o exterior, o pavilhão tem uma porta de vidro que além de deixar ver a natureza, se abre inteiramente para o pátio exterior e para a piscina. Mais uma vez, sem vedações, mas com privacidade. A mesma ideia se vê na zona de banho. A banheira tem vista para a zona verde enquanto o duche, mais privado, pode ser feito no interior ou no exterior abrindo a porta (com privacidade garantida, mas boa vista para o céu).
O arquiteto explica que o seu plano foi sempre criar algo “em tons muito naturais”, combinando três materiais: cimento, cerâmica e madeira brasileira, à semelhança do que já tinha feito na sua Casa M. Não força a nota para ir buscar referências à arquitetura portuguesa, embora o consiga com o pavimento quadriculado. Passaram cinco anos desde que o projeto saiu das suas mãos, mas o tempo da construção não beliscou a convicção do autor. “Continuo a achar que tudo faz sentido”, diz ao ECO Avenida.

A cumplicidade com a comunidade local é um ponto central para Miguel Guedes de Sousa. E critica, por outro lado, as notícias sobre as alegasas limitações de acesso à praia em resultado, também, dos preços praticados. “Espaço e praia não faltam. O que falta é coragem política, visão estratégica e uma gestão pública articulada. O que falta é criar acessos, estacionamentos públicos gratuitos ou subsidiados pelas autarquias, e garantir transportes regulares para as praias. Precisamos de soluções estruturadas, pensadas para servir todos, e não de mais ruído inconsequente“, diz ao ECO Avenida.
“A verdadeira democracia está em dar liberdade de escolha: Praias com mais serviços e conforto para quem quer e pode pagar. E praias com serviços mais simples, gratuitas, organizadas e financiadas pelos impostos que todos já pagamos. Exigir aos privados o que o Estado não faz é profundamente injusto. Somos nós que suportamos os custos com nadadores-salvadores, limpezas e operações, muitas vezes com prejuízo, para garantir segurança e dignidade a todos os que usufruem da costa“.
A Avenida da Liberdade era, até agora, o coração do JNcQUOI. Com a Comporta, cria-se um novo destino e uma nova forma de viver esse espírito. “Não queremos ser os maiores, mas queremos ser os melhores”, diz Miguel Guedes de Sousa.
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